29 março 2014

Manucure


"Carta de Sá-Carneiro a Pessoa, em 1915:
«Para mim basta-me a beleza – mesmo errada, fundamentalmente errada. Mas beleza: beleza retumbante de destaque e brilho, infinita de espelhos, convulsa de mil cores – muito verniz e muito ouro: teatro de magia e apoteose...».

É com «olhos delicados, refinados, esguios e citadinos», numa autocaracterização onde se entrecruzam a ambição modernista, a pose esteticista e uma singular identificação com o feminino, enunciada desde logo pela metáfora organizadora do poema, o verniz, que o sujeito poético de «Manucure» se nos apresenta.

O verniz representa a dimensão cultural, civilizada, expressa pelas imagens refinadas, depois transformadas na brutalidade da indústria e do comércio modernos: gritos, delírio selvático.
Mas o verniz representa igualmente o trabalho existente na «estética futurista», a «nova sensibilidade tipográfica», uma outra beleza metamorfoseada. É, pois, neste envernizamento diverso, que o sujeito lírico termina no mais absoluto frenesim que está para lá da verbalização."


27 março 2014

...


"Esperar o amor, já é amor..."

Marguerite Duras

22 março 2014

Precisamente isto.


Só há duas ou três histórias na vida do ser humano, e repetem-se tão cruelmente como se nunca tivessem acontecido.

E se a história não tivesse imaginação?
 
7 anos antes... 7 anos depois... sempre o número 7 a ecoar como um presságio fatalista a marcar ritmicamente o tempo...

Arrrggghhh!!! O Tempo! Essa linha contínua sem princípio nem fim num horizonte longínquo, que insistimos em dividir infinitamente em fragmentos úteis!

E 7 anos depois... precisamente 7 anos depois... até o dia e o mês foi o mesmo, que provocou arrepios ao constatar a coincidência.
Será coincidência? Será acaso? Ou estava escrito nas constelações desde sempre?

Que poderia ter mudado para não passarmos pelos mesmos medos, estações e fracassos?

Porque será a continuação como o princípio?

Porque será o princípio como o fim?
Porque se apresenta o destino do mesmo modo?
...

 adaptado de Os Uns e os Outros

14 março 2014

I think of you...


Just a song we shared I'll hear
Brings memories back when you were here
Of your smile, your easy laughter
Of your kiss, those moments after
I think of you
And I think of you
And think of you...
 

Of the dreams we dreamt together
Of the love we vowed would never
Melt like snowflakes in the sun
My days now end, as they begun
With thoughts of you
And I think of you
And think of you...


Down the streets I'd walk with you

Seeing others doing
Things we do

Now these thoughts are haunting me
Of how complete, I used to be
And in these times that we're apart
I'll hear that song that breaks my heart
And think of you
And I think of you
And think of you
And I do... 

Rodriguez

 

09 março 2014

Tejo...


O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.





O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.


Alberto Caeiro