21 novembro 2014

Presente especial...


Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso: é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo de acertar nossas distâncias.

Fernando Pessoa



Obrigada Pedro :)

09 outubro 2014

Send me an Angel...



The wise man said just walk this way
To the dawn of the light
The wind will blow into your face
As the years pass you by
Hear this voice from deep inside
It's the call of your heart
Close your eyes and your will find
The passage out of the dark

Here I am
Will you send me an angel
Here I am
In the land of the morning star

The wise man said just find your place
In the eye of the storm
Seek the roses along the way
Just beware of the thorns

Here I am
Will you send me an angel
Here I am
In the land of the morning star

The wise man said just raise your hand
And reach out for the spell
Find the door to the promised land
Just believe in yourself
Hear this voice from deep inside
It's the call of your heart
Close your eyes and your will find
The way out of the dark

Here I am
Will you send me an angel
Here I am
In the land of the morning star
Here I am
Will you send me an angel
Here I am
In the land of the morning star...


15 setembro 2014

Estranho Verão...


Este ano não houve Verão. Ou melhor, para também não ser tão drástica, este ano o Verão foi curto, muito curto. 
Não é que tivesse menos dias que os outros Verões. 
E também não é por já estarem dias de chuva e vento, típicos do Outono, mesmo sem ainda o serem.
Mas para mim o Verão foi praticamente inexistente este ano. Pelo menos pessoalmente senti-o dessa forma.
Foi uma altura tão desejada durante todo o passado Inverno, dadas as condições atmosféricas que se verificaram, e em que ansiava verdadeiramente dias de sol e calor, propícios a serem aproveitados da melhor forma. 
Praia, esplanadas, saídas com os amigos, petiscadas, ver o pôr do sol, acima de tudo relaxar, descontrair, tudo o que o imaginário simbólico do Verão nos representa e permite fazer.

Sei que está tudo na forma como perspectivamos as coisas, está tudo na nossa cabeça. Porque a praia está lá, as esplanadas também, e apesar de muitos dizerem que o tempo não esteve no seu auge, até houve muitos dias realmente bons, dignos de Verão.
Mas o Verão está essencialmente dentro de nós, bem como o espírito de Verão que esta época do ano nos incute. E talvez isso mesmo não tenha havido Verão para mim. Passei do fim de Primavera automaticamente para o Outono.
O tempo intermédio e tão ansiado entre estas duas estações, ficou bloqueado para mim. Senti-me dormente enquanto ele passou, quase que embalsamada numa tentativa frustrada e angustiante de o querer aproveitar, apesar de titânicos esforços sem sucesso.

Talvez por o Verão ter coincidido com uma altura de transição. Talvez pela inquietação que me tem assolado aos mais variados níveis. Talvez pela necessidade que as coisas tomem um rumo diferente, sigam outro caminho, diferente do anterior.
É todo um conjunto de transformações internas que são o sintoma de que algo tem de mudar, que as coisas tem de tomar outro rumo, simplesmente por não estar confortável no que estava  a seguir.
E daí no fim de Primavera, início de Verão ter decidido romper, terminar com o ciclo que já se arrastava lenta e agonizantemente. Diversos factores contribuíram para a decisão dessa ruptura, que não foi por acaso. Nada é por acaso.
Talvez eu achasse que essa ruptura apenas se devia um factor, mas na verdade, muitos outros estavam a contribuir para isso.
E apenas depois nos apercebemos de toda a montanha que se foi avolumando nas nossas costas. Só quando nos voltamos para trás é que realmente vemos a imensidão que se erigiu e que carregamos connosco. Daí o fechar de uma porta.
E portanto, fechou-se um ciclo, terminou. 

A vida é feita de ciclos, apenas temos de reconhecer que todos eles começam e acabam, e apenas temos de aceitar isso como normal.
E entre ciclos existem épocas de transição. As alturas de tomar novos rumos, novos caminhos, novas direcções, fazer novas escolhas e decidir novas rotas por onde trilhar.
Mas também é nessas alturas que nos sentimos meio dormentes, sem saber muito bem o que fazer e como fazer. Quase que a maior dificuldade é operacionalizar. Sentimo-nos bloqueados de todos os lados, um bocado incapazes de agir, sem saber muito bem que direcção tomar, ou como tomar.
Por um lado queremos desesperadamente fazer algo, ir, fazer, agir, mexer, mudar as coisas. Temos ideias, planos, projectos, sonhos que gostariamos de ver concretizados. E por outro temos a falta de mecanismos para operacionalizar a mudança, saber como fazer, por onde começar, qual o caminho certo a tomar, e se esse é um intermédio para outro ou já o final, e todo um conjunto de dúvidas, questões, interrogações às quais não sabemos a resposta, e que nos fazem ficar mais retraídos em relação a como processar qualquer avanço.

E apesar de se ter fechado um ciclo nuns aspectos, que está totalmente encerrado no passado, e de se ter iniciado recentemente outro,  a sensação de transição ainda é latente. 
Até porque desconfio que este ciclo que agora se iniciou também faz parte da transição e na verdade não é ainda o início do próximo grande ciclo...
Porque ainda persiste aquela inquietação, aquela vontade de querer mudar algo, aquela ânsia de fazer qualquer coisa diferente, que valha de verdade esta jornada pela vida, algo que nos estimule, a procura por algo que nos faça descobrir a nós mesmos, e sentir-nos realizados.
E é toda esta luta, confusão interna, este turbilhão de pensamentos, ideias, ânsias, desejos, e muito mais coisas que nem sei como explicar e como me expressar, porque também parece que os mesmos me bloquearam a escrita.

E a vontade de, já que se saiu de um ciclo, querer-se entrar noutro, não perder tempo. Porque o tempo é valioso. E já que fui eu que determinei o fim de um ciclo, ele não se fechou naturalmente, a busca, a vontade e a ansiedade do próximo, causaram todos estes pensamentos conturbados e turvos. Isto também não permitiu nem permite muitas vezes agir com clareza e total certeza de tudo, até porque é mesmo um período de incertezas e dúvidas, que parece que nunca mais conseguimos ver a resposta.
E é por todo este estado de transição, dormência, impasse, decisão, mudanças, transformações, e tantas coisas que nem sei quantificar nem indentificar, ter coincidido com o Verão, que este se afigurou inexistente para mim.

Talvez porque procurava algo digno de Outono, ao ponto de nem ter conseguido aproveitar o Verão. Talvez tenha sido por estar tão ocupada a tentar redifinir metas e delinear estratégias, que o Verão se evaporou aos meus olhos e eu nem o vi. Talvez por estar tão focada no planeamento de um novo ciclo que nem consegui aproveitar dignamente o que a estação do ano me podia oferecer. Talvez pelo receio de agir tarde demais e pela ânsia de conseguir algo novo, nem dei pelo Verão passar diante de mim.
Talvez tenha sido por tudo isto. Talvez. Nem eu sei ao certo.
Só sei que é um estado de dormência que nos imobiliza os movimentos e, de certa forma, também os pensamentos.
E foi por tudo isto coincidir com o Verão, que o Verão foi estranho. Passou ao lado, e quase não dei por ele, nem tive provas de que realmente ele existiu.
Pensamentos turvos podem nublar um dia de sol...



02 setembro 2014

...


There are no shortcuts to any place worth going...


08 agosto 2014

A defesa do poeta


Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim

Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei

Senhores professores que pusestes
a prémio minha rara edição
de raptar-me em criança que salvo
do incêndio da vossa lição

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além

Senhores três quatro cinco e Sete
que medo vos pôs por ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer.

Natália Correia


23 julho 2014

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"Imagens de saudade são pedaços do nosso prórpio corpo, que o tempo levou. Tudo o que se ama transforma-se em parte da gente."

Ruben Alves

19 julho 2014

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Quando consegues o que queres, será que queres o que conseguiste?


28 junho 2014

Eu adoro Voar...


Já escondi um amor com medo de perdê-lo, já perdi um amor por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono... e já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou... já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta no meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade...
Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre...
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanes, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Podem até empurrar-me de um penhasco que eu vou dizer: E daí? Eu ADORO VOAR...
 
Clarice Lispector


07 junho 2014

Pessoas grandes...


"Tenho boas razões para pensar que o planeta de onde o principezinho vinha era o asteróide B612. Este asteróide foi visto ao telescópio uma única vez, em 1909, por um astrónomo turco.
Nessa altura, o cientista apresentou uma grande exposição da sua descoberta a um Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém o levou a sério por causa da maneira como estava vestido. As pessoas grandes são assim.


Felizmente que, para boa reputação do asteróide B612, um ditador turco se lembrou de impor ao seu povo, mas impor-lhe sob pena de morte, que passasse a trajar à europeia. 
O astrónomo voltou a fazer a sua demonstração em 1920, mas agora muito bem posto. E toda a gente a aceitou.

 
Só vos contei tudo isto sobre o asteróide B 612 e só vos confiei o seu número por causa das pessoas grandes. 
As pessoas grandes gostam de números. Quando vocês lhes falam de um amigo novo, as suas perguntas nunca vão ao essencial. Nunca vos perguntam: "Como é a voz dele? De que brincadeiras é que ele gosta mais? Ele faz colecção de borboletas?". 
Mas: "Que idade é que ele tem? Quantos irmãos tem? Quanto é que ele pesa?  Quanto ganha o pai dele?". 
Só assim é que pensar ficar a conhecê-lo. 

Se vocês disserem às pessoas grandes: "Hoje vi uma casa muito bonita de tijolos cor-de-rosa, com gerânios nas janelas e pombas no telhado...", as pessoas grandes não a conseguem imaginar.
É preciso dize-lhes: "Hoje vi uma casa que custou 20 mil contos". Então já são capazes de exclamar: "Mas que linda casa!" " 

em "O Principezinho", Antoine de Saint-Exupéry


21 maio 2014

Continuum...


Continuum reflects the themes of people and community. The sculpture follows a recent direction in the artist's work using the figure as a structural element and allowing the properties of the drawing of each of the figures to create a sense of community cohesion and well-being.

Continuum is about the climb of life and our aspirations. 
We can, after all, afford to aspire, in the effort and strain there is ease and humanity, life and pleasure. Reaching up is not inevitability flawed. We lift each other. We stride ahead and fall behind, and all of it is all of everything we are. 
We can, in the quest, conceive a level playing field and know the height is more of a mirage. With the view we see the world is flat.

The figures in Continuum are mostly separately identified. From nearby and underneath, we see the features; the rise and fall of flesh and muscle strain. Hair and face, brushing past and brushed aside. 
From further off, the figures give way to a community. The huddle succumbs to rhythm's brace. 
As we walk past or drive, the shapes move past each other and interact again. Seen through the figures is a flicker of water on the bay.


In this sculpture, the figure forms a structural element and the properties of the figures create a sense of community, cooperation and well-being. They configure in no specific relationship with gravity or the ground but are not wandering without purpose or intent. They are employed in various uman activities such as lying down or walking, talking together, moving to a particular place or to nowhere in particular.

There is no sense intended of an 'ideal' vertical aspiration or any philosophical position other than to reflect a broad human condition of being alive.

The figures are not unified by race, age or issue and are not overtly fighting or loving. They are not bound by ideology or religion. There is a sense of happy emptiness, tranquility and even silence. There is an ease of being together without condition or expectation. There qualities have created the shapes of the figures which can be viewed with a clear uninterrupted backdrop but also work when they are back-dropped by other cut-outs. This produces a meshing and density. The eye is invited to work, to disentangle the shapes to find the image or figure. The meshing can be parted, by walking between the two halves. Like a puzzle we compare them.

The work can be enjoyed at a distance and up close. You can enter it. It is large enough to have impact in relation to the scale of the surrounding architecture. It will hold the intersection and will function as a marler and meeting place.

Michael Snape 2005
Melbourne Docklands, Victoria

07 maio 2014

Pôr do Sol...


"Ah, principezinho! Assim, aos poucos fui ficando a conhecer a tua melancólica vidinha! Durante muito tempo, a tua única distracção foi a beleza dos crepúsculos. Fiquei a sabê-lo na manhã do quarto dia, quando me disseste:
- Gosto muito dos pores do Sol. Vamos ver um pôr do Sol...
- Mas primeiro temos de esperar...
- Esperar o quê?
- Esperar que o Sol se ponha.
Começaste por ficar muito espantado, mas, depois, riste-te de ti próprio. E disseste-me:
- Ainda julgo que estou lá no meu sítio...
- Pois é. Quando é meio-dia nos Estados-Unidos, toda a gente sabe que o Sol se está a pôr em França. Bastava poder chegar a França num minuto para se assitir ao pôr do Sol. Mas, infelizmente, a França fica longe demais. No teu planeta pequenino bastava puxares a cadeira um bocadiho mais para trás. E vias quantos crepúsculos quisesses...
- Um dia vi o Sol pôr-se quarenta e três vezes!
E pouco depois, acrescentaste:
- Sabes... quando se está muito, muito triste, é bom ver o pôr do Sol..."

em O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry


19 abril 2014

Tangos da vida...


Já há muito que escrevi sobre dança... por isso hoje não será uma divagação nova em termos de assunto. 
Mas escrever sobre dança é sempre algo renovado, que se renova a cada momento. Porque por mais que se dance, há sempre mais um passo a dar...

Dança como modo de vida... dança como filosofia e estado de espírito... dança como forma de estar na vida... dança como modo de agir e pensar...  

A dança como algo infinito na sua flexibilidade... os incontáveis passos que se podem dar... as inquestionáveis voltas e reviravoltas... curvas graciosas... gestos harmoniosos... passos firmes e elegantes... uma tranquilidade que se deixa levar pelo ritmo... uma leveza que se deixa ir pelo som... uma paz que emerge a cada passo... olhares trocados... uma proximidade levitante... e uma onda de sabor de passos infinitos...

E uma dança nunca acaba como começou... há sempre mais um passo que se pode dar...


14 abril 2014

Links and hopes...


"O que liga as sociedades são vocabulários comuns e esperanças comuns. Os vocabulários são, tipicamente, parasitas das esperanças - no sentido em que a função principal dos vocabulários é contar histórias sobre resultados futuros que compensem sacrifícios presentes."

Richard Rorty

 

13 abril 2014

Rosas...


"E então o principezinho voltou para o pé da raposa e disse: 
- Adeus... 
- Adeus - disse a raposa. - Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos... 
- O essencial é invisível para os olhos... - repetiu o principezinho, para nunca mais se eskecer. 
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante... 
- Foi o tempo q eu perdi com a minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se eskecer. 
- Os homens já se eskeceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu ñ te deves eskecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa... 
- Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se eskecer. "

em O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry

 

09 abril 2014

...


Não te apagues. Não sabes quem iluminas...



29 março 2014

Manucure


"Carta de Sá-Carneiro a Pessoa, em 1915:
«Para mim basta-me a beleza – mesmo errada, fundamentalmente errada. Mas beleza: beleza retumbante de destaque e brilho, infinita de espelhos, convulsa de mil cores – muito verniz e muito ouro: teatro de magia e apoteose...».

É com «olhos delicados, refinados, esguios e citadinos», numa autocaracterização onde se entrecruzam a ambição modernista, a pose esteticista e uma singular identificação com o feminino, enunciada desde logo pela metáfora organizadora do poema, o verniz, que o sujeito poético de «Manucure» se nos apresenta.

O verniz representa a dimensão cultural, civilizada, expressa pelas imagens refinadas, depois transformadas na brutalidade da indústria e do comércio modernos: gritos, delírio selvático.
Mas o verniz representa igualmente o trabalho existente na «estética futurista», a «nova sensibilidade tipográfica», uma outra beleza metamorfoseada. É, pois, neste envernizamento diverso, que o sujeito lírico termina no mais absoluto frenesim que está para lá da verbalização."


27 março 2014

...


"Esperar o amor, já é amor..."

Marguerite Duras

22 março 2014

Precisamente isto.


Só há duas ou três histórias na vida do ser humano, e repetem-se tão cruelmente como se nunca tivessem acontecido.

E se a história não tivesse imaginação?
 
7 anos antes... 7 anos depois... sempre o número 7 a ecoar como um presságio fatalista a marcar ritmicamente o tempo...

Arrrggghhh!!! O Tempo! Essa linha contínua sem princípio nem fim num horizonte longínquo, que insistimos em dividir infinitamente em fragmentos úteis!

E 7 anos depois... precisamente 7 anos depois... até o dia e o mês foi o mesmo, que provocou arrepios ao constatar a coincidência.
Será coincidência? Será acaso? Ou estava escrito nas constelações desde sempre?

Que poderia ter mudado para não passarmos pelos mesmos medos, estações e fracassos?

Porque será a continuação como o princípio?

Porque será o princípio como o fim?
Porque se apresenta o destino do mesmo modo?
...

 adaptado de Os Uns e os Outros

14 março 2014

I think of you...


Just a song we shared I'll hear
Brings memories back when you were here
Of your smile, your easy laughter
Of your kiss, those moments after
I think of you
And I think of you
And think of you...
 

Of the dreams we dreamt together
Of the love we vowed would never
Melt like snowflakes in the sun
My days now end, as they begun
With thoughts of you
And I think of you
And think of you...


Down the streets I'd walk with you

Seeing others doing
Things we do

Now these thoughts are haunting me
Of how complete, I used to be
And in these times that we're apart
I'll hear that song that breaks my heart
And think of you
And I think of you
And think of you
And I do... 

Rodriguez

 

09 março 2014

Tejo...


O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.





O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.


Alberto Caeiro

27 fevereiro 2014

...


"Time is the longest distance between two places." 

Tennessee Williams


 

23 fevereiro 2014

Existential Bummer...


“Man is literally split in two: he has an awareness of his own splendid uniqueness in that he sticks out of nature with a towering majesty, and yet he goes back into the ground a few feet in order blindly and dumbly to rot and disappear forever.” - Ernest Becker

So there’s a great essay written by Sigmund Freud called “On Transience.”

And in it, he cites a conversation that he had with the poet, Rilke, as they were walking along this beautiful garden. And at one point, Rilke looked like he was about to tear up. And Freud said, what’s wrong? It’s a beautiful day. There’s beautiful plants around us. This is magnificent. And then Rilke says, well, I can’t get over the fact that one day all of this is going to die.

All these trees, all these plants, all this life is going to decay. Everything dissolves in meaninglessness when you think about the fact that impermanence is a really real thing. Perhaps the greatest existential bummer of all is entropy.

And I was really struck by this, because perhaps that’s why, when we’re in love, we’re also kind of sad. There’s a sadness to the ecstasy. Beautiful things sometimes can make us a little sad. And it’s because what they hint at is the exception, a vision of something more, a vision of a hidden door, a rabbit hole to fall through, but a temporary one. And I think, ultimately, that is kind of the tragedy. That is why love simultaneously fills us with melancholy.

That’s why sometimes I feel nostalgic over something I haven’t lost yet, because I see its transience. And so how does one respond to this? Do we love harder? Do we squeeze tighter? Or do we embrace the Buddhist creed of no attachment? Do we pretend not to care that everything and everyone we know is going to be taken away from us? And I don’t know if I can accept that.
I think I more side with the Dylan Thomas quote that says, “I will not go quietly into that good night, but instead rage against the dying of the light”.

I think that we defy entropy and impermanence with our films and our poems. I think we hold onto each other a little harder and say, “I will not let go. I do not accept the ephemeral nature of this moment. I’m going to extend it forever. Or at least I’m going to try.”


09 fevereiro 2014

...


The world needs more fantasy... 
Our aim should be to dissolve boundary between art and life...
So that they could flow into and fertilize each other...

27 janeiro 2014

Cause...


Cause I lost my job two weeks before Christmas
And I talked to Jesus at the sewer
And the Pope said it was none of his God-damned business



While the rain drank champagne
My Estonian Archangel came and got me wasted
Cause the sweetest kiss I ever got is the one I've never tasted



Oh but they'll take their bonus pay to Molly McDonald,
Neon ladies, beauty is that which obeys, is bought or borrowed



Cause my heart's become a crooked hotel full of rumours
But it's I who pays the rent for these fingered-face out-of-tuners



And I make 16 solid half hour friendships every evening
Cause your queen of hearts who is half a stone
And likes to laugh alone is always threatening you with leaving 



Oh but they play those token games on Willy Thompson
And give a medal to replace the son of Mrs. Annie Johnson



Cause they told me everybody's got to pay their dues
And I explained that I had overpaid them
So overdued I went to the company store
and the clerk there said that they had just been invaded



So I set sail in a teardrop and escaped beneath the doorsill
Cause the smell of her perfume echoes in my head still



Cause I see my people trying to drown the sun
In weekends of whiskey sours
Cause how many times can you wake up in this comic book and plant flowers? 


Rodriguez "Sugar man"


19 janeiro 2014

Lugares da Memória Revisitado


"O que é real? O que é teatro?"


"Lugares da Memória surge como resultado do laboratório de teatro – OIKOS – universos habitados - que teve início em Janeiro de 2013. 
Partiu-se de histórias pessoais e algumas universais, articulando com factos da actualidade. 
Surge a vontade de "contar uma história" a tua, a minha, a nossa história, partilha de memórias pessoais apoiando-se por vezes na ficção. 
Parte-se e explora-se o jogo teatral, o que é real? O que é teatro?
 

Lugares da Memória Revisitado, por se tratar de uma reposição e de um novo olhar, nasce da partilha dessas histórias, num tempo em que não há tempo, em que temos saudades do silêncio e precisamos sentir para provar que estamos vivos…"


Encenação e dramaturgia, Ana Almeida, ATV 
13 de Dezembro 2013, 21h30, Teatro-Cine de Torres Vedras