27 dezembro 2009

Como um Deserto...


Como um deserto... com a sua aridez...

C
om cactos gritantes, resistentes ao sol escaldante...

Sem uma sombra protectora do fulminante sol ardente...

Com a sua terrível paisagem a perder de vista no horizonte infinito...

Terreno seco e gretado pelo calor...

Árvores secas, jazem mortas num chão traidor... mortas pelo impiedoso sol abrasador...

Miragens ao longe...

... miragens de visões...

... imagens de ilusões...


De vez em quando na vida... todos nós sentimos um deserto dentro de nós...

E embora haja algo em nós que cronicamente se recusa a admiti-lo no nosso âmago, existe uma outra parte que se orgulha da sua existência ardente...

Algo que recusa esse deserto dentro de nós, contrariando-o com todas as forças infrutíferas de uma natureza morta... e um desejo fulminante que este permaneça intacto e vigoroso...

...


Porque o deserto deseja a chuva como refrigério, alívio e consolo... mas tem necessidade do Sol para saber que é um deserto...


13 dezembro 2009

Matur_idades...


É tipo como coisas institucionalizadas, parece que só somos maduros ou só somos considerados como tal se tivermos X e já tivemos passado por Y.
Na verdade, podemos não ser maduros em X nem em Y, mas podem haver muitas outras coisas em que somos maduros. Se calhar muito mais do que seríamos mesmo tendo X e Y.
E na verdade, não é X e Y que determinam a nossa maturidade. Porque se calhar até há pessoas maduras em X e em Y, mas depois no que toca ao resto...pow! Caem no vazio, é tudo oco lá dentro.
Não é por ter ou não ter X e Y que somos ou deixamos de ser maduros. Isso até pode ser um aspecto que influencia, mas nao é o único! Há muito mais coisas que para isso contribuem.
E de que vale ter X e Y se depois não se tem mais nada?
Mais vale não ter X e Y, mas no que toca ao resto sermos preenchidos, recheados de conteúdo, e no fundo, globalmente maduros!

Há muito mais coisas que dão maturidade... e se calhar essas até importam mais do que X e Y...
O facto de termos contacto com determinado tipo de situações normais de pessoas mais maduras, isso faz com que nos transmitam as suas ideias, igualmente mais maduras!
E esse contacto faz com que nós mais novos e menos experientes, amadureçamos apenas pelo contacto com essas pessoas e experiência que nos transmitem e que nos incutem.
E isso poupa-nos muito tempo! Poupa-nos tempo de vida!

Porque ao aprendermos com os erros dos outros, já não vamos perder tempo de vida a cometer os mesmos... pois fazemos logo as coisas certas à primeira vez, muito mais cedo do que eles fizeram.
Quando chegarmos à idade deles, já aprendemos em muitas outras coisas que entretanto tivemos tempo porque as outras já estavam sabidas, foi um passo mais rápido que demos logo no início do caminho, para nos adiantarmos.
Não precisamos de perder o tempo que eles perderam, pois eles ao ensinarem-nos cerats coisas, abrem-nos o olhos para muitas coisas que nós iríamos naturalmente fazer e depois cair em erro.

E no fundo o que nos dá maturidade, não é o facto de não batermos com a cabeça e aprendermos com os nossos próprios erros, é aprendermos com os erros dos mais velhos, e o que eles nos ensinaram... e com a idade mais jovem que temos, já fazemos coisas com uma consciência mais madura e avançada...
Há mesmo que aproveitar a experiência mais velha...
Até o tempo que partilhamos é o mesmo...

27 novembro 2009

Serpente...


A verdadeira beleza da serpente não reside no facto de o seu veneno poder matar um homem em poucos segundos...

... mas o facto de esse animal, sem patas nem braços, ter conseguido enraizar profundamente na humanidade inteira, o terror face à sua espécie...


De uma forma tão profunda... que não o podemos expulsar dos nossos genes... e estamos condenados a temer esses répteis.

Instintivamente...

21 novembro 2009

Coesão competitiva...


Estamos num mundo de competição, de competitividade, de ver quem é o melhor!
Um mundo de avaliações constantes e de testes permanentes. De testar as nossas capacidades ao máximo, de ver quem é o melhor, quem consegue, quem ultrapassa os obstáculos, quem segue em frente, quem tem os melhores resultados!
Um mundo de levar as emoções e as experiências ao máximo, ao rubro. No fundo, só para nos sobressairmos. Só para o bom, o melhor, se sobressair!
É o instinto animal humano.

Testar-nos... o tempo todo... constantemente... todo o gesto que fazemos é meticulosamente observado, analisado, avaliado, categorizado, escalonado, medido...
E se nós conseguirmos passar esses testes, o resto fica para trás.
Só quem prossegue, quem se aguenta, quem sobreviveu a todos os testes continua em frente...
E quem segue em frente, é sinal que conseguiu, que foi melhor, que venceu... mas vai só...

Para confirmarmos um pouco melhor esta fase ridícula pela qual andamos a passar, basta ligar a televisão e ver a enxorrada de programas que apelam constantemente a ver quem é que se sobressai, a apurar o nosso desempenho... as avaliações a que estamos constantemente a ser submetidos para apurar os melhores.
As capacidades que temos de mostrar ter, as qualificações que temos de apresentar, para tentar sempre ser o melhor e chegar mais acima e conseguir, e subir, e ... e... e... até cansa!
Desgasta qualquer um esta competição louca que não traz nenhuma felicidade, mas só angústia e tristeza de andarmos todos aqui a ver quem é o melhor.

E a competição cria rivalidades... e em vez de se criarem e fortalecerem laços, quebram-se.
Não há solidariedade, há egoísmo.
Não há entreajuda, há competição.
Não há doces caminhos a percorrer, há metas a atingir.

É triste, é muito triste, porque andamos aqui todos às cabeçadas aos murros e a competir sofregamente em prol da afamada coesão social...


17 novembro 2009

Oportunidades...


Depende das oportunidades que casa um tem, é verdade... mas há pessoas que tem sorte!
Ou então é o destino, mais do que traçado pelos astros...

Será que apesar de fazermos algo que sempre desejámos fazer ou ser, não nos devíamos também abrir a outras coisas que antes nem sequer pensávamos...?
E não estar obcecados apenas com uma coisa já antiga e que se calhar para a qual nem temos assim tanto jeito como pensamos?

Apostar noutras coisas às vezes também pode ser bom... na verdade, às vezes pode ser o melhor que temos a fazer!


O problema de às vezes não nos mexermos mais ou arriscarmos mais, é porque estamos muito seguros de algo, de termos as coisas muito estáveis...
Às vezes até seria melhor nem todas as coisas estarem tão seguras para nós, para que possamos arriscar noutras...

Quanto mais temos, menos arriscamos.
A falta e a insegurança é precisamente aquilo que nos leva à iniciativa, a arriscar e dar um novo passo e a mudar certas coisas.

Às vezes, quem não tem nada é quem mais arrisca!
Exactamente porque não tem nada a perder!

Quem pode ter alguma coisa a perder, nem sequer se arrisca a poder ter algo mais ou diferente, só pelo receio de perder tudo...


13 novembro 2009

Encontros Paralelos...


Quando alguém nos compreende em tudo, mesmo até nas nossas entranhas mais profundas e recônditas...
Quando podemos falar com certas pessoas e dizer o que queremos e o que não queremos e tudo continua igual...

E quando sabemos que pensamos e dizemos coisas estranhas, mas para essas pessoas, não são coisas assim tão estranhas?

E quando não dizemos nada, mas isso fosse muito mais importante do que falar horas a fio...

Especialmente quando essas pessoas só se cruzaram connosco no mundo transcendente...

É porque as almas se tocam... mesmo à distância... Quando há coisas em comum, por mais estranhas que elas sejam...

É o mesmo que ser sempre de dia, mesmo que esteja de noite!
Porque há coisas e pessoas que mesmo longe, estão em todo o lado... basta nós queremos.

Nós não as tocamos. Elas existem fisicamente, mas nós nunca tivemos a sensação palpável delas. Mas sentimo-las como se as tivessemos sempre tido ao nosso lado.

Elas entranham-se nas profundezas do nosso ser como teias das quais não nos
conseguimos libertar... E quando nos tentamos libertar do emaranhado da teia, ela apenas existe na nossa cabeça?
Qual teia?

Foi tudo imaginação...


São como as sensações que essas pessoas nos fazem ter. Levitamos. Pairamos por aí. Andamos a flutuar como se não conseguíssemos tocar o chão mesmo que quiséssemos.

Fazem-nos com que o vento que nos bate na cara seja mais vigoroso e levante o cabelo fazendo-o ondular intensamente...


Conhecemos essas pessoas a meio do nosso trajecto da vida, mas parece que as sabemos desde sempre.
Será prenúncio de as termos visto noutra vida?
Talvez. Porque não?

Essas pessoas existem. Não estão fisicamente connosco. Mas caminham sempre junto a nós, ao nosso lado. Embora nunca as tenhamos visto.
Mas elas estão lá.

Estamos a caminhar na rua, sozinhos, mas na sua companhia. E podemos estar a milhas de distância delas.
Isso não faz mal. Elas estão em todo o lado onde formos.

Seguimos fisicamente rumos paralelos. Andamos lado a lado, mas nunca nos tocamos..
.

A nossa união é mental... percorremos caminhos distantes, mas existem coisas em que nos tocamos psicologicamente... Como os meridianos que percorrem todo o globo, cada um sozinho e independente no seu próprio trajecto... mas depois tocam-se harmoniosamente nos pólos, confluindo aí toda a essência do seu ser...

No fundo, é no que transcende a esfera deste mundo material que intersectamos essas pessoas, como os meridianos nos pólos... mas fisicamente a nossa passagem por aqui é feita apenas por rumos paralelos...

E essas pessoas são os nossos Meridianos Paralelos...

11 novembro 2009

Mudar de ideias...


Às vezes crucifixam-nos por mudarmos de ideias. E porque o que acabámos de dizer agora já não é o mesmo que pensávamos e dizíamos há um tempo atrás.
Bem, todos temos direito de mudar de ideias... na verdade nem sempre estamos iguais.
Afinal só as pessoas estreitas de mente é que não mudam de ideias. Só as mais limitadas e tacanhas é que nunca mudam a sua forma de pensar, nem as ideias que têm!
Se calhar nem as têm! São os outros que têm de ter por elas.
E, ironicamente, são essas mesmo que nos criticam.
Talvez não seja ironicamente.
É precisamente por serem assim que o fazem.

03 novembro 2009

Sedimentos de ideias...


Nada. O blog ultimamente não tem dito nada.
Nada. Nada mesmo.

Mas isso não quer dizer que não tenha nada para dizer. Aliás, até tem, e muito! Só que às vezes as condições físicas e psicológicas não são as mais próprias para escrever.

Ideias são mil e uma! E jorram como um rio de leito cheio...

Surgem muito frequentemente e transbordam de conteúdo...
Resultado de imaginação fértil? De experiências? Muita divagação? Novas situações?

Não sei... talvez até seja o conjunto de tudo isso... e a consequência é um borbulhar constante de uma sopa de ideias prestes a rebentar...
E no momento que surgem as ideias, apetece logo registá-las, para não as perder!
Mas nem sempre isso é oportuno... E depois acabam por se desvanecer com as horas do tempo...

Nem sempre é fácil segurá-las na mente, tal como há coisas na vida que não são fáceis de segurar.
Bem, algumas são, e não querem ser seguradas. E depois mais tarde quando voltam para as segurarmos, já não queremos, já passou o tempo... a oportunidade... o seu ciclo... o seu tempo...

Ack! Isto foram só umas dessas ideias que foram seguradas a tempo...

23 setembro 2009

Palavras perdidas...


Escrever! Escrever! Escrever!
Muito se tem que escrever! Muitas coisas nos pedem para escrever! Muitas coisas as pessoas são obrigadas a escrever sob força do seu trabalho.
Textos, artigos, trabalhos, leis, redacções, notícias, livros, revistas, jornais, crónicas!
Muito texto se produz! Tantas letras e palavras que diariamente são lançadas ao mundo.
Sob todas as formas e formatos... dezenas, centenas, milhares, milhões de textos são a todo o tempo produzidos!

Será que há sempre alguém que lê o que outra pessoa escreveu?

Não haverão imensos textos, livros, artigos, revistas que são simplesmente em vão?
E no entanto o seu autor pode ter despendido horas de vida a produzir esse mesmo pedaço de texto... e às vezes nem sequer pensamos nisso! Se quando damos uma olhada e o mesmo não nos agrada, simplesmente pomos de lado sem dó nem piedade. Nem damos valor ao tempo que alguém se dedicou a organizar e a construir todo aquele conjunto de letras.
E esses casos devem ser tantos...

Quantos livros que demoram anos a escrever, nunca chegam a ser lidos e apenas fazem número nas livrarias...
Quantos artigos de revista levam horas a ser escritos e depois poucas revistas se vendem e ninguém lê esses pedaços de textos...
Quantos jornais estão repletos de notícias que ninguém lê... e no dia seguinte já ninguém os compra... já ninguém lhes liga... ninguém chega a ler aquelas palavras... aquelas palavras perdidas...



16 setembro 2009

Tese de Doutoramento do Coelho


Um pequeno "conto" muito incentivador para os que brevemente irão começar a fazer uma tese...


Era um dia lindo e ensolarado o coelho saiu de sua toca com o notebook e pôs-se a trabalhar, bem concentrado.
Pouco depois passou por ali a raposa, e, viu aquele suculento coelhinho tão distraído,que chegou a salivar.
No entanto, ficou intrigada com a actividade do coelho e aproximou-se,curiosa:
- Coelhinho, o que está a fazer aí, tão concentrado?
- Estou a redigir a minha tese de doutoramento - disse o coelho, sem tirar os olhos do trabalho.
- Hummmm... e qual é o tema da sua tese?
- Ah, é uma teoria para provar que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais das raposas.
A raposa ficou indignada:
- Ora!!! Isso é ridículo!!! Nós é que somos os predadores dos coelhos!
- Absolutamente! Venha comigo à minha toca que eu mostro a minha prova experimental.
O coelho e a raposa entram na toca.
Poucos instantes depois ouvem-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio.

Em seguida, o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos de sua tese, como se nada tivesse acontecido.
Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho, tão distraído,agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido.
No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho a trabalhar naquela concentração toda.
O lobo resolve então saber do que se trata , antes de devorar o coelhinho:
- Olá, jovem coelhinho! O que o faz trabalhar tão arduamente?
- Minha tese de doutoramento, seu lobo. É uma teoria que venho desenvolvendo há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusive dos lobos.
O lobo não se conteve e farfalha de risos com a petulância do coelho.
- Ah, ah, ah, ah!!! Coelhinho! Apetitoso coelhinho! Isso é um despropósito;nós os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa...
- Desculpe-me, mas se você quiser eu posso apresentar a minha prova experimental. Você gostaria de acompanhar-me à minha toca?
O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte.
Ambos desaparecem toca adentro.
Alguns instantes depois ouve-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e... silêncio.

Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redacção da sua tese, como se nada tivesse acontecido.
Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensanguentados e pelancas de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos.
Ao centro das duas pilhas de ossos, um enorme leão,satisfeito, bem alimentado, a palitar os dentes.

Moral da história:
1. Não importa quão absurdo é o tema da tua tese;
2. Não importa se não tens o mínimo fundamento científico;
3. Não importa se as tuas experiências nunca chegam a provar a tua teoria;
4. Não importa nem mesmo se as tuas ideias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos.
5. O que importa é: QUEM É O TEU "PADRINHO"...

29 agosto 2009

Ondas...


Ondas grandes... ondas muito grandes...

Ondas enoOOormes...

Ondas gigAntEscas e mOOOnstrUOosas...


Ondas c o l o s s a i s...

Ondas raivoOosAs!!!

Ondas inTocávEis e imErguLháveis...


Ondas BRaaaavAs!

Ondas furiooOOoosas!


Ondas iraaaaaadas!!!

Ondas CoLéRiCaAaAS!!!


Ondas mortAAAis!
Ondas fUrIbUnDas e cRuÉis!

Ondas hEdiOndas!!!

Ondas FeiAAAS!!!


Ondas LINDAS!

...


Porque sabe sempre bem ver o mar... Por alguma razão especial, olhar o mar significa sempre muito mais do que apenas olhar. É ver mais além.
E porque gostamos sempre de ver o mar?
Porque gostamos sempre de ver o mar, quer ele esteja calmo e mansinho, quer ele esteja irado e revolto? Afinal porque gostamos dele?
Porque é o mar? Simplesmente porque é o mar?
Uma grande massa líquida... é isso que nos impressiona? É só isso que nos impressiona?
É observar que a sua proveniência é do infinito? Daquela linha imaginária no horizonte?

Porque quando mar está calmo, assim nos sentimos também. Tranquilos e pacíficos. O seu estado impele-nos a estar assim também. Ele aquieta-nos e assossega-nos.

Quando o mar está irado e colérico, ficamos inquietos e nervosos. Espantados por algo tão grande e sem domínio conseguir estar tão furioso e revoltado...
Fascinados pelo que vemos... talvez porque algo em nós se identifica com a sua inquietação... E talvez por isso fiquemos espantados e deliciadamente admirados... por algo tão grande, conseguir-se exprimir de forma tão ostensiva, metaforizando o que nos vai cá dentro...

Porque é que gostamos do mar?
Se calhar porque nos identificamos com ele...
Se calhar porque ele nos mostra como estamos por dentro... talvez porque temos medo de assumir isso... ou não queiramos de todo assumir. E é ele que nos diz.

Sim, talvez seja isso.

31 julho 2009

Exactamente assim.


Se está, está. Muito bem. Se não está, não está. Tudo bem na mesma. Não há problema, não faz mal.
Nunca nada faz mal. Se pode, é na boa. Se não pode, também não há crise por isso, fica para a próxima.
Só nos podemos ver e estar uma vez por mês, lá muito de vez em quando? Éh pá, tudo bem, não faz mal. Se puder mais vezes, também não há problema.

Está sempre tudo bem. Podemos estar poucas vezes, mas quando estamos, estamos sempre bem, independentemente da situação.
Nada de cobranças, nada de acusações, nem de apontar o dedo.
Sempre tudo bem. Sem problemas, nem chatices, nem intrigas, nem confusões, nem ambientes de silêncios pesados.
Se está, muito bem. Se não dá, fica para a próxima.
Mas está e continua sempre tudo igual e muito bem. Sempre.
É isso o principal.
Pode não ser muitas vezes, até pode ser raramente. Mas quando é, é para ser com sinceridade e do fundo do coração.
E é só isso que importa.
É exactamente assim.


27 julho 2009

Desanuviar e Espairecer...

Às vezes desanuviar um pouco, mesmo que seja só por um bocadinho, sabe tão bem...
Romper por umas horas os monótonos e cansativos dias de trabalho e desânimo... sabe tão bem...
Durante umas horas fazer uma pausa e fazer um pouco daquilo que realmente gostamos e que no fundo nos dá mesmo mais prazer de vida e alegria.
Há tanto tempo que não o fazíamos, que já nem sabíamos o quanto era bom!
Pouco tempo, pode ser tão compensador...
São apenas umas horas, mas de tão diferentes que foram dos últimos meses, que parece que o seu sabor perdura no tempo, alimentando-nos a alma e o espírito indefinidamente...
E são esses pequenos mas grandes momentos que nos revigoram e nos dão forças, que não sabíamos onde arranjar, para continuar o sinuoso e acidentado caminho que andamos a percorrer...
Foi por pouco tempo, mas valeu por muito tempo...


14 julho 2009

Miradouros...


Haverá algo mais lindo que um miradouro?
Só a própria palavra já nos inspira para tudo aquilo que um miradouro nos proporciona...

Se dissecarmos bem um miradouro, rapidamente nos apercebemos que ele nos dá uma "mira" de "ouro".

Os miradouros são todos diferentes e cada um deles partilha um bocadinho da sua história e tempo de vida connosco, enquanto lá permanecemos.

Normalmente localizados em locais de topografia acidentada, os miradouros proporcionam invariavelmente maravilhosas paisagens, debruçando-se sobre as cidades, rios, mares, vales e outros lugares a perder de vista...
Por todas essas características, os miradouros constituem-se eles mesmos como lugares idílicos, onde nos conseguimos evadir e transcender a outros mundos.
São lugares especiais que nos proporcionam momentos de reflexão, uma pausa no stress da vida diária, um canto para estarmos connosco mesmos e um olhar sobre um horizonte infinito sem limite temporal.

Há miradouros mais especiais que outros... aqueles pelos quais nutrimos um carinho e afeição... esses são os "nossos miradouros"... Lugares que guardam as nossas memórias e intensos momentos que lá passamos.
Normalmente associamos uma elevada dose de ternura a esses lugares, como forma de gratidão por tudo aquilo que nos propiciam.
Desde o espaço em si, à maravilhosa paisagem que conferem, as pessoas que o frequentam, o seu ambiente inconfundível, as gentes, e todo aquele misticismo oculto, espiritualidade e reflexões que um miradouro nos permite sentir.


Os miradouros perdidos são lugares que associamos a doces memórias de um passado longínquo... permitem-nos sonhar e evadirmo-nos dali... Enquanto lá estamos podemos falar com aquele alguém que está ali invisível ao nosso lado e que nos acompanha sempre que queremos.
Os miradouros são templos de contemplação do nosso passado, das nossas memórias, mas também do nosso eu interior, da nossa aura que nos cerca e que levita em torno de pensamentos furtivos, fugazes e eternos.

Lugares de transcendência e evasão por excelência, os miradouros permitem-nos aceder à componente mais imaterial do nosso ser... Basta nos sentarmos, fecharmos os olhos, e sentimos o que queremos... até perdermos a noção do tempo...
Falamos com quem desejamos, sentimos o vento no rosto e mãos leves e tentaculares em redor da nossa alma e corpo...

Erguemo-nos dali em pensamento para lugares até onde só o nosso inconsciente nos consegue levar...
Nunca sabemos ao certo quanto tempo permanecemos num miradouro. Lá o tempo não existe.

Mal se atinge a paisagem no horizonte, todo o ambiente nos imobiliza como que nos hipnotizando para sempre.
Olha-se a paisagem... sente-se o odor levemente a pairar no ar... Tudo conflui em nós, nos nossos sentidos... Em instantes erguemo-nos para bem longe dali... Evadimo-nos para lugares bem distantes... levitamos até ninguém sabe onde...
Tudo em nós é leve. Tudo flui em todas as direcções. Tudo e nada con
fluem num oculto que nos perpassa a pele e se crava nos sentidos.
Tudo e nada existe.

Basta sentarmo-nos, fecharmos os olhos, sentir o que nos rodeia e o que não está ali... sentir penetrar em nós toda aquela dimensão cósmica do universo infinito onde nos inserimos levemente a levitar...
É só fecharmos os olhos e deixarmo-nos ir... é o suficiente para atingirmos o Nirvana...

13 julho 2009

Inutilidade e vazio...


Hoje é dia de escrever no blog. Porquê? Talvez por ser dia 13.
E talvez por os dias 13 me deixarem sempre inquieta.

Ou talvez porque seja Julho.
E o mês de Julho é sempre associado a todas aquelas ideias de férias, descanso, praia, mar, sol, repouso, passeios, relaxar, descontrair, ir aqui e ali... às vezes até pode nem ser nada de especial, mas só a ideia de
ir dar uma volta e sair da monótona rotina habitual, já reflecte um pouco o espírito e todo o simbolismo que temos associado ao mês de Julho.
Mas, tal como este ano foi diferente em muitas coisas, também o Julho está a ser.


Apesar do simbolismo do mês continuar a existir, na verdade ele não se t
raduz em efectivos palpáveis que o justificam.
Ficamos apelas pelo simbolismo.
E contentamo-nos com a imaginação do prazer dos momentos que ele simboliza.

E é pena que o que está a ser este Julho, que no fundo é apenas a continuação de todo o ano que já ficou para trás, seja tão contrastante com a ideia que todos temos dele.
E pensar que o ano já foi inútil! Que foi um ano perdido! Que foi um ano em vão em praticamente todos os sentidos... ainda angustia mais que isso ainda persista por Julho fora e continue a esventrar os meses veraneantes para fazer ligação com mais um ano que vem aí, igual ou pior.


Porque às vezes, cada vez mais sentimos inutilidade no que fazemos... (e, assim, consequentemente no que somos?)

I
nutilidade perante isto tudo. Um vazio perante os dias.
Quando não há sentido, nem vontade, nem ânimo, nem alento, nem entusiasmo, nem lógica, nem utilidade no que se faz, é isso que sentimos.

Um vazio. Um profundo vazio.


E o mais difícil é tentar inverter a situação quando não há escape nem saída dela.
Ela é assim, e agora vamos ter de continuá-la até ao fim.
Até acabar.
Porque aquele é o caminho.
Mesmo que
já estejamos fartos e não queiramos mais isto?
Sim.
Porquê?
Porque agora tem de ser. Já não dá para voltar atrás.


Talvez no final disto tudo, alguma coisa mude. Pelo menos aí já há mais possibilidades. Ou não. Não sei. Logo se verá.

Até lá, isto tem de continuar assim. Sem ânimo, sem vontade, sem alento, sem lógica, sem sentido. Sem utilidade. Vazio.

E o que mais custa, é vermos que lá fora há uma vida imensa à nossa espera para ser vivida. E que ai
nda por cima ela tem tanto para dar, e nós temos tanto para receber e aproveitar dela.
Mas aqui continuamos. Amarrados. Atados.
Sem hipótese de romper estas correntes de chumbo invisíveis que nos fazem gritar num silêncio hediondo que não se resigna.


E ver que há pessoas que nunca se deixaram apanhar por essas correntes... e que vivem a vida levemente, sem grandes preocupações com o dia de amanhã.
Saboreiam desprendidamente o momento, sem se angustiarem com o que há de vir.
Vivem ao sabor do vento, sem pensar muito no dia seguinte. Apenas no dia de hoje.
Vão saboreando as ondas que vêm e vão, e o sol que se põe, alimentando-se de paisagens e sorrisos... e isso é o suficiente para viverem, porque depois logo se vê.

E fazem bem.
Porque o
momento presente delas, é a base para o depois, para o "logo se vê".
Constroem a vida aos poucos... vão construindo... sem pressas... E cada dia é o ponto de partida base para o próximo que aí vem.
Eu tudo segue o rumo normal calma e suavemente...

E enquanto elas vivem, nós cá estamos. Com dias cheios de coisas para fazer, trabalho a rebentar pelas costuras, o tempo cronometrado ao minuto, datas a não esquecer na agenda, super ocupados!!!
Mas vazios.
Dias cheios de coisas para fazer, mas nenhuma nos consegue preencher...
E por mais que tentemos, só nos sentimos ainda mais e mais vazios.
De tudo.
Profundamente vazios. Ocos. Sem sentido para nada.


Qual a capacidade de um dia vazio para servir de base e de ponto de partida para o dia seguinte?

(Memorial to the Empty Hearts)

07 julho 2009

Adolescência...


Adolescência é o tempo, em que tudo nos parece gigante
O nosso corpo é o centro, que se torna insinuante.
As lágrimas não são gotas, são chuva.
Os sorrisos, gargalhadas a bom rir.
Os abraços, as carícias e os beijos são desejos a fluir...

É a era do verde esperança, do azul imensidão... em que não importa ser racional, porque se vive com o coração.
Onde os sonhos são infinitos, e o amor é profundo...
Os problemas enormes, aflitos!
A dor e a desilusão do tamanho do mundo...

É o momento em que os pais, resistem em nos deixar crescer.
Querem-nos seus, pequeninos, tentando evitar que nos façam sofrer.
É a época do medo, com receio de o assumir...
mas também da aventura, da revolta a surgir...

É o tempo que não passa, porque tarda em passar.
Os minutos parecem dias, os dias parecem anos...

Quando lá estamos, queremos sair.
Quando saímos... queremos voltar...


21 junho 2009

Uma questão de perspectiva...


As pequenas coisas da vida são aquelas que realmente nos dão mais prazer.
Às vezes andamos cansados e fartos da monótona rotina diária e queixamo-nos continuamente que precisamos de "mudar de vida", que isto "não pode continuar assim", e que já estamos fartos dos dias serem sempre iguais uns aos outros, quase como se fossem todos repetidos. E que passamos dias, semanas, meses de vida que em nada nos sentimos diferentes, porque nada mudou, tudo continua igual pela monotonia de que a nossa vida está a ser alvo.

Mas às vezes, por pequenas coisas, pequenos passeios, apenas por irmos a um lugar fora do habitual... nem nos damos conta que esses bocadinhos podem tomar uma outra forma. Que facilmente podemos dar um outro brilho e intensidade às nossas vidas através de simples atitudes diárias.

Não é preciso muito... basta ter espírito e vontade de mudar, e não nos encostarmos ao lema do queixume constante de que tudo vai mal e nada pode mudar mais.
Essa inércia só rebaixa e consome a pouca energia que ainda nos resta para mudar!
Se tivermos atitude, e abrirmos os nossos horizontes, vemos que se calhar não é assim tão difícil melhorar algumas das coisas pelas quais nos estamos sempre a queixar...

Basta valorizar ainda o que temos, as oportunidades e minimizar os aspectos negativos.
É uma questão de mentalização e atitude. Centrarmos as nossas energias e esforços naquilo que realmente é importante e focar-nos nesse âmbito para trazer alguma mudança aos nossos dias e às nossas vidas.


Às vezes são simples gestos e pequenas coisas que fazem a diferença... um passeio diferente, ir a um lugar fora do normal, dar uma volta a um sítio que já tínhamos saudades, ir tomar um café na companhia de alguém que gostamos, ir a um lugar especial e bonito, abraçar longamente alguém que gostamos, dar mimos a alguém nos é muito especial e querido... tirar tempo para pensarmos e estarmos connosco mesmos, longe de tudo.

São pequenas coisas de reduzida dimensão, mas de grande escala ao nível individual de realização pessoal. E se nos concentrarmos nelas, vemos que realmente são elas que nos dão força, energia, vitalidade e sentido de vida aos nossos dias... e fazem de cada dia, a nossa razão de viver.

Basta abrir os olhos e ter um outro olhar sobre as coisas e o mundo. Basta vermos as coisas de outra forma.
Cada um de nós é que decide como quer ver as coisas... é uma questão de perspectiva...
Afinal, é preciso muito pouco para se ser feliz...



14 junho 2009

O Semeador de Estrelas...


O Semeador de Estrelas é uma estátua que está em Kaunas, na Lituânia.

Durante o dia até pode passar despercebida... Um bronze a mais... herança da época soviética...


Mas quando a noite chega, a estátua justifica o seu título... Com a escuridão... o seu nome passa a fazer todo o sentido...


:)


13 junho 2009

Nas sombras do lixo...


"... Interessa-lhe afugentar a solidão e não perder muito tempo a tentar compreender que neste mundo cão, nada vale um chavo se não tivermos alguém com quem o partilhar... "


"... Já sabe o essencial. O resto aprende-o e saboreia-o de caminho..."

07 junho 2009

Noites...


Era de noite, uma noite escura como bréu... e as estrelas viam-se na perfeição do céu a cintilar...
E nós ali estávamos todos, no alto daquela íngreme e isolada colina, no meio do nada... banhados pelo luar...
Não sabemos como ali fomos ter, nem de onde viemos... Apenas estávamos a passear para desmoer o jantar que já tinha sido fora de horas, e tomámos o caminho de uma isolada e estreita estrada de alcatrão já gasto pelo tempo.

A princípio quando começámos a caminhar ao longo dessa estrada, íamos em linha recta e sempre em frente por um descampado, mas à medida que avançávamos... esta foi progressivamente ficando cada vez mais inclinada e ligeiramente tortuosa... apesar de o suficientemente larga para dar perfeitamente para andar a pé...
Mas nem soubémos bem de onde é que veio a estrada... somente entrámos nela em algum bocado do seu troço...
Apenas à medida que caminhámos e ela foi subindo uma ligeira colina, foi-se progressivamente enchendo de frondosas árvores à sua vota, que a ladeavam a todo o seu redor, deixando no entanto penetrar o brilho das estrelas e a luz da lua, que era a única coisa que tínhamos para nos guiar...
E à medida que fomos subindo, enormes e majestosos ciprestes nos acompanhavam e se apresentavam austeramente a ladear a estrada que era o nosso único caminho...

E quando chegámos lá acima, depois de muito andar, a estrada começou a planar... e após uma acentuada curva, deparámo-nos com uma clareira onde as árvores mais frondosas tinham dado lugar apenas aos ciprestes que pontuavam o limite de um vasto e amplo espaço, que não era mais do que a continuação da estrada que até aí tínhamos vindo a subir...
E ali ficámos meio atónitos, especados, sem saber o que dizer...

E nesse amplo espaço, diante de nós, erguia-se imponente, e de feições austeras, um enorme e majestoso casarão apalaçado, com altos torreões, arquitectonicamente exuberante e uma dimensão cruel...
Estava mergulhado na penumbra e fora invadido por frondosas vegetações arbustivas que o abraçavam e violavam a toda a sua volta, penetrando nas suas ranhuras e fissuras mais recônditas como que o prendendo àquele lugar sem fim... sugando-o para as suas raízes profundas...
Estava submerso em teias de aranha e os ramos das árvores que o amarravam, conferiam-lhe um aspecto obscuro e medonho...
Encarcerado por um grande portão de ferro enferrujado pelo tempo, era inatingível pelo cadeado que o encerrava a qualquer vento que ali quisesse entrar... negando-se prontamente a sua entrada.

Certamente aquele lugar havia sido fechado há muito tempo e nunca ninguém lá voltara a entrar.
Foi provavelmente habitado há tempos infinitos, mas ou pelo seu isolamento, ou maldição que aparentava possuir, e devorar e sugar quem quer que se atrevesse ali a entrar naquele lugar... Certamente por ali ficou quem se atreveu a visitá-lo, sem deixar o menor rasto da sua existência terrena...
E nós ali ficámos um tempo indefinido a olhar para aquela presença austera, aterradora e ao mesmo tempo misteriosa, sem saber o que dizer... Apenas com a ténue iluminação lunar, em silêncio, entreolhados pelo espanto, terror e admiração...

Mergulhámos petrificados num silêncio profundo, onde apenas se ouvia o vento a ressoar em círculos cortantes nos ciprestes que nos rodeavam a nós e àquele estranho, distante e desconhecido lugar.
Ali nos detivémos sem proferir palavra, ainda estonteados pelo que acabávamos de presenciar.
Mas algo cortou o silêncio.

Ouvimos passos que se aproximavam, vindos de algum lado, que nos fizeram temer até às entranhas mais profundas.
Não estávamos sozinhos? Não tínhamos subido toda aquela estrada sozinhos? Teria mais alguém nos acompanhado ao longo de todo o caminho sem darmos conta?

Quando nos voltámos para trás para ver o que se passava, os ciprestes tinham-nos cercado a toda a volta, já não havia o caminho que nos ali tinha levado.
Algo rangeu.
Voltámo-nos e olhámos em frente para o austero casarão. E reparámos que o cadeado estava solto e o gigantesco portão de ferro entreaberto...

Sentimos arrepios por todo o corpo...
Ouvimos mais alguns passos. E quando nos voltámos para trás, algo negro como breu surgiu furtivamente por detrás dos ciprestes e se lançou medonhamente sobre nós.
Depois disso, tudo ficou escuro.


Eu conheço aquele lugar... Já lá estive uma vez, há muito tempo...


01 junho 2009

Dia Mundial da Criança...


Se quisermos modificar alguma coisa, é pelas crianças que devemos começar... São elas a origem e as raízes do que queremos para o nosso futuro... é nelas que temos de apostar, a todos os níveis!

Educai as crianças e não será necessário castigar os homens!
Se realmente queremos mudanças, comecemos pelas crianças!

Feliz dia da Criança... a todas as crianças... e a todos aqueles que nunca deixaram de sentir dentro de si, a presença viva de uma criança :)


27 maio 2009

Café...


Haverá algo mais banal do que tomar um café? Haverá atitude mais comum e antiga como a de ir beber um café?
Na verdade existem atitudes diárias tão enraizadas no nosso quotidiano, que estão tão impregnadas no nosso dia-a-dia, que às vezes já mal lhes sabemos reconhecer o valor que no fundo têm.
Beber um café. Ou até mesmo um chá. É um acto simples e muito frequente por muitas pessoas diariamente.
Será que é possível cada pessoa percepcionar o que individualmente lhe proporciona ir tomar um café?


"Vamos beber um café!"
O café deve ser das bebidas mais conhecidas e apreciadas em todo o mundo... Assumem muitos sabores e formas de apresentação, mas um café é sempre um café!
E quando se diz "café", o conceito que nos vem à cabeça é comum.



"Vamos beber um café!" O significado de ir beber um café, às vezes nem é pela bebida em si. É pelo acto em si de ir, que já está tão enraizado nos nossos dias.
Para além da ingestão da própria bebida, há uma arte no café. Há todo um requinte associado ao acto de tomar um café. Há todo um conjunto de dimensões intrínsecas a tomar um café, que às vezes nem nos damos bem conta.

Ir tomar um café é o ritual privilegiado do encontro e do convívio... Quando se toma um café, há todo um conjunto de dimensões que fortalecemos sem pensar...
O sentarmo-nos, que por si só já mostra que concedemos um pouco do nosso tempo àquele espaço que escolhemos como local para o nosso ritual diário. Após nos acomodarmos, o próprio acalmar e adaptar ao lugar... E toda a dimensão do convívio e da comunicação caso vamos acompanhados. É uma concessão de um pouco de nós próprios ao espaço, que em troca nos concede todo um conjunto de sensações de conforto e de prazer por ali estarmos.


E mesmo que nem sempre tenhamos muito tempo para beber um café, no tempo que realmente dedicamos ao acto em si, prevalece sempre a calma e o apreciar de todas as dimensões que confluem num acto afinal tão trivial do quotidiano...
Por mais curto que seja o instante que vamos tomar o café, a ele sempre rendemos a arte de pegar na chávena, trocar umas palavras, uns sorrisos, uma novidade e umas ideias... materializando tudo aquilo a que
no fundo associamos à arte de ir tomar um café...



17 maio 2009

We've never been so many! And we've never been, so alone...


Cada vez somos mais pessoas no mundo. A população cresce progressivamente. Tudo vai mudando à medida que o tempo passa.
Bem, nem tudo. Algumas coisas vão melhorando, outras piorando, e há outras que praticamente estagnam. E é com alguma curiosidade que estes três processos coexistem.

Afinal, já vivemos num mundo tão evoluído, repleto de requintes tecnológicos, onde a investigação científica se encontra altamente sofisticada, onde se utilizam os mais modernos métodos para qualquer coisa por mais pequena que seja... e depois há coisas que realmente continuam iguais, e outras que por outro lado até pioraram.
O que acaba por ser irónico, porque tentamos sempre evoluir para melhor, e simultaneamente há coisas que estão a ter uma evolução negativa.

Na verdade, nem sempre as novas tecnologias trazem coisas positivas. Hoje em dia, temos o nosso quotidiano repleto de tecnologia em todas as direcções para onde olhamos. Temos as nossas casas repletas de engenhocas modernas, tudo o que se faz de novo tem de ser com alto valor tecnológico incorporado, etc. Estamos impregnados de tecnologia para qualquer lado que nos viremos...

E para qualquer lado que nos viremos há alguém a um canto, absorto a jogar os jogos de telemóveis... Há alguém numa esquina com os phones a ouvir música no mp3 (que entretanto já é mp4)... Há alguém sentado num banco agarrado à playstation (que agora também já é portátil) a carregar freneticamente nas teclas... Há alguém de pernas cruzadas com o portátil no colo petrificado a ver um filme... Há alguém a fazer compras num supermercado a pagar as coisas numa caixa self service....

Muita tecnologia! Sim, realmente não há dúvida! Fazemos tudo em todo o lado, somos tão independentes e avançados! Estamos super modernos, dotados da maior tecnologia nos mais variados níveis!
Mas o que há em comum entre todas estas pessoas?
Todas usam tecnologia da mais avançada e cada uma tem objectos diferentes que permitem fazer inúmeras coisas...
Hum humm... Certo. Tudo bem. Até aí já tínhamos chegado.
E mais?

O que há mais em comum em todas estas pessoas?

Todas elas estão sozinhas.

...


A tecnologia existe. A tecnologia é importante. Sem ela se calhar não teríamos evoluído até certo ponto que nos permite ter uma qualidade de vida adequada ao ser humano.
Disso não há dúvida.
Mas será que precisamos de continuar e continuar a evoluir cada vez mais rápido ao nível tecnológico? Será que ainda é possível impregnar as nossas vidas de mais artimanhas e engenhocas todas modernas?
Até que ponto de "vida tecnológica" estamos a tentar chegar? Até que ponto é necessário incorporarmos ainda mais tecnologia nas nossas vidas? Não será já o suficiente?
Até que ponto isso em vez de ser benéfico não estará já a ser prejudicial? E os benefícios que traz, compensa os males que acarreta?
Ainda não excedemos o limite daquilo que precisamos?
Não estaremos já a ultrapassar a nível tecnológico o limite do aceitável?
Será que ainda se vai continuar a inovar exponencialmente sem barreiras nem fim à vista?

Há tantas mais coisas que são igualmente importantes e essas são totalmente descuradas e ignoradas... em prol de uma correria cega e louca, pelo desenfreado progresso tecnológico, a ver se cada vez conseguimos inventar mais e mais coisas que afinal nem precisamos!?
Quando vamos parar de inventar mais coisas que são cada vez mais desnecessárias?
São elas que nos fazem realmente felizes?
As pessoas procuram incessantemente a felicidade nos objectos, e não a encontram. Será isso o indício ou a explicação de algo?

Se calhar se não tivéssemos as nossas vidas tão preenchidas de objectos inúteis que no fundo só servem para entreter e passar tempo, talvez tivéssemos mais tempo para as coisas que realmente importam e às quais deveríamos dar mais valor.
Quanto mais coisas temos, menos o tempo que temos para elas. Cada "coisa" precisa de atenção e de um tempo para nos dedicarmos a ela, se quisermos realmente usufruir da sua utilidade.
Por isso, quanto mais coisas tivermos, menor a atenção que conseguimos dar a cada uma.

É como termos um armário cheio de objectos, e cada vez que lá pomos mais um, os outros tem que se acomodar para que este novo caiba. E quanto mais coisas pomos, mais elas se vão acomodando apertadas e tendo cada vez menos espaço.
Porque o armário não aumenta de tamanho, mas nós não paramos de enfiar lá mais coisas.

É como o tempo. O tempo não estica.
E porque é que nós continuamos progressivamente a preenchê-lo com coisas inúteis?
Depois queixamo-nos que não temos tempo para nada. Pudera!
Alguma coisa tem de ficar para trás.
Estamos a isolar-nos progressivamente para podermos usar mais objectos novos, que nos fazem deixar outras coisas muito mais importantes da vida, para trás...

Cada vez temos mais... e cada vez temos menos...