31 dezembro 2008

Alturas da vida...


Há alturas em que andamos realmente cansados... fartos disto tudo... apáticos para os dias... sem ânimo para as coisas... sem vontade de nada...
Parece que só apetece fugir, ir para bem longe... onde ninguém nos martirize, onde ninguém nos diga nada, nem grite as horas, nem massacre com datas a cumprir!
Apetece que nos deixem em paz, no nosso canto...

E com tanta coisa para fazer, aqui estamos... sem fazer nada... não porque não queiramos, talvez porque não conseguimos... Porque estamos demasiados cansados de tudo o que fizemos até então, e como tal, só apetece descansar...
Descansar? Para quê? Porquê?
Ainda nos exigem mais coisas a fazer... elas não param...
Se ao menos valessem a pena...

E no fim, perguntamos a nós mesmos "Para quê tudo isto? Para quê todo este esforço?"
Pior que tudo, é sentir que todas essas coisas são um trabalho inglório...
Sentimos que foi um esforço em vão... que demos tanto de nós, e nem por isso vamos ter grande coisa em troca...
É uma sensação de trabalho desperdiçado... e que no futuro ninguém vai querer saber dele para nada... E aquele esforço foi todo para uma gaveta, que para ali fica. Fechada.

E um esforço que não tem frutos... nem agora nem depois... porque no futuro, se conseguimos fazer algo num âmbito que nos agrade, nunca vai ser mesmo aquilo que queremos... iremos estar sempre sujeitos a pressões superiores e subjugados a interesses revoltantes...
Porquê? Porque tem de ser sempre assim? Porque é que nem por uma vez podemos fazer algo que nos agrade, e completamente à nossa maneira?
Constantemente sentimos que trabalhamos e nos esforçamos, e que no fundo nada vale a pena...
Tanto cansaço, tanto esforço, tantas horas de dedicação, tanto trabalho... e depois fica tudo como se nada fosse... tal é o descrédito que se tem pelas coisas... e a pouca valorização que conferem ao nosso trabalho...

Por aí neste mundo, há muita teoria e pouca prática... fazem-se tantos esforços e nunca nada muda, nunca vemos nada feito.
E por mais que queiramos e nos esforcemos para mudar as coisas... nunca vamos conseguir isso... não vamos certamente fazer a diferença... isso são só palavras bonitas que se dizem às crianças...
Quem consegue vingar num mundo corrupto, egoísta, injusto,
racista, ganancioso, falso, intolerante, etc. ?
É um desincentivo ao que fazemos... é um desincentivo a tudo...

Há uma falta de articulação das coisas, parece que nada tem lógica, nada está conexo... nada tem nexo...
Tudo parece uma folha de papel velha, amachucada, cheia de gatafunhos, riscada, sem espaço para mais nada... mas que se tenta insistentemente pôr lá mais coisas...
Na verdade, só dá vontade de amachucar a folha e atirá-la ao lixo, e arranjar uma nova! Onde aí, sim, se vai fazer tudo de novo, certinho, correcto, com lógica, tendo em conta o máximo de aspectos possível...
É o que dá vontade...
Mas é o que não se faz... é o que ninguém quer fazer.
Dá trabalho não é?
Pois... Então mais vale continuar a rabiscar na folha de papel velha... sempre se vai fazendo riscos a partir daqueles que já existem... mesmo que estejam todos mal...
E ninguém consegue ter força para atirar de vez a folha para o lixo.

Por isso, não vale a pena tentar. Porque é o desalento total.
Às vezes mais vale não pensar em nada, e aproveitar as pequenas coisas boas da vida... sem pensar em nada que nos atormente...
A vida já é tão curta, e ainda estarmos a chatear-nos com estas coisas todas... é só atrofiar-nos ainda mais...
Mais vale vivermos com calma, sem stress, ver as coisas boas, fechar os olhos ao que não interessa, e sonhar... porque nada vai mudar... e não vale a pena ter a pretensão que sim, porque é não!
E é disso que temos de ter consciência!

Viver o dia-a-dia... porque nem nos sítios mais evoluídos, nem nos mais pobres é possível fazer a diferença... não existe volta a dar, enquanto questões superiores não forem alteradas...
Por isso o mais importante é alegrar-nos com as pequenas coisas, que dão prazer instantâneo à alma, ao espírito, à mente... paz...

Às vezes mais vale ter uma vida calma com o indispensável, mas ser feliz e aproveitar as coisas boas da vida... olhar o céu, as nuvens, o pôr do sol no mar...
Se não tivermos ambições desmedidas, vivemos bem com pouco... afinal, é preciso tão pouco para ser feliz!
Mais vale viver ao sabor do vento... afinal para quê tanto esforço?
No fim de contas todos vamos embora daqui um dia...

27 dezembro 2008

Momentos especiais...


Esta época do ano, Natal e Ano Novo, é sempre especial por muitas razões...
É sempre uma altura mais agitada, em que há sempre imensa coisa para fazer... Mas ao mesmo tempo calorosa, porque por mais que sejam os afazeres, há sempre tempo para um sorriso... e um tempinho para beber um chá quentinho na cafetaria da esquina, enquanto se contam as novidades e se põe a conversa em dia...
É uma altura calorosa, na qual as melhores qualidades e virtudes das pessoas vêem à tona, sendo por tal, mais doce e justamente reconhecidas...

É uma época em que os sonhos não param... sonhamos a dormir e acordados... sonhamos porque sabe bem... e sonhamos sem querer...
Por vezes os sonhos ultrapassam as barreiras do que é um sonho... e vão para além, muito além... ultrapassam todos os limites... os limites que não têm...
E aqueles sonhos bons... em que apetece estar a sonhar para sempre... quase nos culpamos por termos acordado...

E outros sonhos, esses mais estranhos, em que embora estejamos a dormir... parece que o sonho está a ser conduzido por alguma parte consciente que nos resta... Devem ser dos sonhos mais estranhos... pois parece que conseguimos controlar conscientemente a direcção do sonho, enquanto permanecemos inconscientes a dormir...
É a sensação de conseguir dominar o sonho... estar num limiar entre a consciência do que queremos que aquele sonho seja... na inconsciência plena de uma noite de sono...

É maravilhoso sonhar com coisas agradáveis... e coisas que quando acordamos pensamos, onde raio fomos buscar tais ideias? E como fizemos aquela junção de coisas, pessoas e sítios?!
E pensamos que, se tivéssemos acordados, não conseguiríamos ter imaginação suficiente para entrelaçar todas aquelas coisas e construir um enredo tão perfeito e original, como o que fizemos inconscientemente... a dormir...

A vida é tão mais simples a sonhar... tão mais saborosa de viver... a levitar entre nuvens de algodão...
A própria época natalícia é um doce sonho de algodão que temos nesta altura do ano...

Afinal é nesta época que revemos pessoas que gostamos, e que raramente estamos durante o ano... e que sempre nos fazem tanta falta!
Mas por mais voltas que o ano e a vida dêem... os anos repetem-se nesta bendita monotonia de Natal, que sempre nos traz de volta, nos mesmos momentos, as pessoas que mais nos sabem aconchegar a alma...
E que sempre são bem vindas... acolhidas por todos com mil sorrisos, beijos e abraços... e aparecem como lufadas de ar fresco que iluminam o nosso espírito, já tão natalício e feliz...
Trazem notícias de onde vêm, e abrem-nos as perspectivas de vida, brindando os nossos olhares com novas visões sobre tantas coisas que nunca antes tínhamos pensado...

Tanta coisa que cá fica, tanta coisa que cá deixam.... em tão pouco tempo que por cá passam...
E na sua curta estada durante esta época, sempre nos brindam com doces palavras, agradáveis momentos, noites especiais e lindos passeios... (que sempre desejamos que fossem eternos...)
E sorrisos que se trocam... olhares que se cruzam... eternos abraços que se dão... conversas que não se esquecem... memórias que se recordam... promessas que se fazem...

Até para o ano...




E a Lua Cheia ainda lá estava... com
majestosos e reluzentes tons prateados... na noite escura como breu... a pairar, formosa, levemente acima do horizonte de mar...



07 dezembro 2008

Desafio


Desafio: escrever tudo o que nos vem à cabeça quando olhamos para uma determinada imagem ou "mapa".

Eis a imagem com que fiquei para comentar.


Eis o comentário:

É curioso o que se pode pensar das coisas que vemos, e de facto não é todos os dias que nos põem uma folha à frente com um “mapa” e dizem para escrevermos numa página o que nos vem à cabeça ao olhar para esse mesmo mapa. É um desafio! Mapas mais banais, mapas menos banais, mapas mais “mapas” e mapas que parecem ser tudo menos isso…

Tinha-me calhado descrever uma face humana com diferentes tonalidades de cores quentes. Mas… que “mapa banal”! Porque não escolher algo mais “polémico”? Decidi então ficar com a imagem da penetração de um pénis numa vagina. Já que é um desafio grande, ao menos que seja um grande desafio! É certamente uma ilustração pertencente a algum livro de ciências na parte do aparelho reprodutor… no entanto, risota geral quando disse com que imagem fiquei.

Como seria de esperar. Mas porquê? Porque seria de esperar? Porque é que palavras, imagens, vídeos com a componente retratada na imagem são sempre alvo de tanta euforia, sorrisos malandros, risos maléficos…? Porque é que há sempre alguma piada que se desvia para tocar no assunto? Porquê tantas anedotas, falatório, piadas, e gestos que invariavelmente estão relacionados com o tema da ilustração? Só porque dá prazer? Há tantas outras coisas que também dão prazer!

Porque é que uma coisa afinal tão normal da vida é constantemente motivo de chacota? Penso que seja consenso geral, ser normal ter relações sexuais. Não existe nada de absurdo nisso. Acho que se perguntasse isso a uma série de pessoas, a resposta óbvia seria “é uma coisa normal”. Então? Também se faz assim piadas, risinhos, alusões constantes a todas as outras coisas normais da vida? Não me parece. Afinal se é uma coisa normal… porque todos ficam alterados quando se fala de ter relações sexuais, de fazer sexo, de fazer amor, etc.? E até se arranjam palavras menos próprias e bem ordinárias para referir um acto tão normal…

No fim de contas, se aqui estamos, é porque houve duas pessoas que nos conceberam… e que para isso tiveram de ter relações, de fazer sexo ou amor para nos ter gerado! Embora às vezes ponhamos essa ideia de parte, porque até custa a crer, parece que “há coisas que só acontece aos outros”. Mas no fundo, sabemos que foi assim. E, haverá acto mais nobre do que trazer alguém ao mundo? Porquê tanta chacota com uma acção que origina tão grandioso feito?

Para alguém nascer, os seus progenitores tiveram de fazer sexo, ou amor… não é bem a mesma coisa, são conceitos muito diferentes… e hoje em dia fala-se muito em sexo e pouco em amor. Talvez essa seja uma razão de tanta violência e carnificina em lugar de sentimentos, de tanta dominação em vez de respeito, de tanta chantagem e subjugação em vez de igualdade. De facto, em todo o lado se fala de sexo, nascem livros que falam sobre sexo, os anúncios publicitários têm sempre a componente sensual do sexo, quando vamos a um quiosque inúmeras revistas com poses apelativas de mulheres esbeltas tentam captar a atenção, canais de TV exibem com naturalidade a um público infinito o que cabe apenas à intimidade de duas pessoas…

Porquê? Porque na verdade não se faz amor, faz-se sexo. E o sexo vende, e todos sabemos isso. A “profissão mais velha do mundo”, deve ser provavelmente a profissão mais triste… Alguém ter de vender o seu corpo para que o outro tenha sexo! Para que sinta prazer físico e depois “Xau!”. Em troca deixa dinheiro, como se fosse uma máquina de chocolates.

O sexo para além de não significar amor, é uma praga. Pior do que o dinheiro e a corrupção económica vigente no mundo em que vivemos. Por causa do sexo, por aí existem infinitas redes de pedofilia, incontáveis casos de abusos sexuais e violações, milhares de mulheres são diariamente subjugadas, espancadas, humilhadas, violadas, em especial nas regiões mais atrasadas onde a religião comanda cada minuto da vida.

E aí? Também se fazem piadinhas? Onde está o prazer afinal? Nestas regiões do mundo, mais atrasadas e menos desenvolvidas, as mulheres não são mais do que objectos reféns dos homens, cuja única coisa que vêem é sexo, e que na verdade não querem as mulheres para mais nada a não ser isso. Eles fazem sexo. Elas não. Há uma grande diferença.

Muitas mais coisas se podiam dizer e comentar acerca desta imagem. De facto esta suscitou-me logo ideias que provavelmente não foram aquelas que motivaram risotas e chacota quando a escolhi. Afinal uma imagem pode dizer muito mais do que aquilo que mostra.

E de facto acho que o que me veio à cabeça não é propriamente para rir, nem motivo de troça. Uma coisa normal, ou que supostamente devia ser normal e de livre vontade de cada pessoa para a fazer, é a infeliz tortura diária de milhares de mulheres, a única razão de elas existirem segundo a perspectiva de quem as massacra, de quem vive para a praga do sexo!

Os homens são carnais e as mulheres sentimentais, mas há limites! E isto é o culminar dessa obsessão doentia por possuir alguém que por eles é considerada inferior, servil, uma verdadeira escrava em todos os sentidos. O sexo pode significar prazer, mas é o pior demónio da humanidade!

Então, qual é a piada da imagem agora?