29 novembro 2007

Geografia...

Ainda estou comovida. Hoje foi a homenagem a um grande geógrafo português, o professor Jorge Gaspar.
A homenagem teve lugar na reitoria da Universidade de Lisboa e estendeu-se durante todo o dia.
Contou com a participação de muitas pessoas: alunos, admiradores, geógrafos de Portugal, do estrangeiro, representantes políticos, entre outros.
Enfim, o público era variadíssimo! Desde os mais novos aos mais velhos… todos juntos com o objectivo de prestar homenagem a alguém que tem vindo a deixar ao longo da sua vida, um grande, precioso e inigualável contributo para a Geografia.
E ao longo do dia a cerimónia incluiu vários discursos, exposições, apresentações, muitos agradecimentos, reconhecimentos, gratidões, etc. que todos, de uma forma ou outra, no fundo dirigiram ao professor Jorge Gaspar.
E apesar de ter gostado bastante de todos os discursos, o que mais me comoveu foi, sem dúvida, o agradecimento final do homenageado Professor Jorge Gaspar.
Apesar de apenas ter sido aluna dele no primeiro ano do meu curso, no fundo sempre senti que ele era daquelas pessoas com quem apetece falar durante horas seguidas, discutir assuntos, conversar sobre as mais variadas temáticas.
Logo desde o princípio, a forma como ele falava e expunha as aulas, já demonstrava a sua grande sabedoria… e já aí eu ficara fascinada com o seu conhecimento…
E hoje, durante o seu discurso final de agradecimento, que durou aproximadamente duas horas e meia, ele captou-me a atenção de uma forma que poucas pessoas conseguem fazer.
O modo como falou e o que disse, certamente não foram indiferentes a ninguém.
Fez um brevíssimo resumo da sua vida, da sua carreira, das várias etapas do seu amor pela geografia, a sua dedicação à mesma e a fidelidade que sempre lhe teve.
Ao ouvi-lo senti que a vida dele é muito mais do que aquilo que eu alguma vez imaginara. Admiro profundamente o seu conhecimento, a sua sabedoria, experiência, a pessoa que ele é.
Surpreendeu-me!
A cada palavra que proferia…
É daquelas pessoas para as quais olhamos e pensamos “Ali vai um poço de sabedoria…”
Os relatos do seu fantástico percurso de vida, das viagens que realizou, dos amigos que fez, dos afectos que cultivou, das experiências por que passou… e muito, muito mais.
Sem dúvida um exemplo a seguir.
Um exemplo para todos nós. Para mim, uma referência.
Uma vida de geógrafo à qual apetece seguir os passos. A qual dá vontade de seguir as passadas, de lavrar com orgulho aquilo que realmente amamos, desbravando todos os obstáculos e transformando-os em degraus para subir.
O seu discurso fez-me desejar tê-lo conhecido desde sempre, partilhar as suas experiências, contemplar a sua sabedoria e, acima de tudo, aprender com ele.
Ele reavivou o amor que sinto pela geografia, pelo meu curso e, reafirmar o orgulho que tenho naquilo que realmente gosto.
Ensinou que conseguimos o que querermos se arriscarmos. O que importa é não estagnar, e aceitar desafios!
É impossível descrever tudo aquilo que senti ao ouvir as suas palavras, pois parece sempre que, por mais que se tente, nunca se consegue absorver tudo o que foi dito.
Faltam-me as palavras, apenas me sobra o grande apreço que tenho pelo professor Jorge Gaspar e o amor que sinto pela geografia.
Só sei que, há momentos e pessoas que nos fazem sentir bem connosco mesmos, orgulhosos e felizes por aquilo que somos e amamos e, acima de tudo, que nos fazem sentir que estamos no caminho certo…

28 novembro 2007

Dias perfeitos!

Há dias em que nos sentimos a pairar no ar... Eufóricos! Felizes!
Porque apesar de tão simples e cheios de pequenas coisas que os dias podem ser, eles preencheram-nos o coração de alguma forma... Seja pelas pessoas com quem estivemos, o que conversámos, os sítios onde fomos, o que visitámos, as paisagens que vimos, as fotografias que tirámos... E no fundo sentimo-nos assim bem, por tudo isso junto... Porque há momentos para tudo. E porque há alturas para estarmos com quem gostamos e partilharmos com eles um bocadinho daquilo que somos.
E foi o que aconteceu entre ontem e hoje...
Apesar de ter sido pouquíssimo tempo, foi o suficiente para ser inesquecível!
Pela companhia, pelos sítios lindos em que estivemos, pelas conversas e brincadeiras, que de certa forma nos aproximam e aquecem o coração da alma.
O nosso país é lindo. Portugal é um país com paisagens esplêndidas. Não é que eu não soubesse, mas cada vez mais tenho certeza disso. É um país relativamente pequeno e, no entanto, tem paisagens tão diferentes, com contrastes tão marcantes e uma beleza imponente.
E ontem e hoje estivemos em mais uns desses muitos maravilhosos sítios que existem em Portugal... não é preciso ir muito longe... não se demora muito tempo... não é preciso umas férias para ir... apenas é preciso saber apreciar a natureza que nos rodeia, amar as paisagens e viver a geografia!

25 novembro 2007

Coisas que ficam...

Já foi há algum tempo, mas lembro-me como se fosse hoje.
Aquele dia que até estava a correr especialmente bem…
Mas pessoas com as quais até nos damos bem, tem atitudes e dizem coisas que no fundo nos magoam, mesmo que não tenha sido com grande intenção ou maldade. Mas sentimos que no fundo, há ali qualquer coisa que na realidade nunca nos uniu muito e que se transparece nessas palavras…
Essas indirectas, essas pequenas frases e atitudes que marcam, parecendo que não, vão levando progressivamente a um maior afastamento…
E passado um tempo as pessoas perguntam “Porquê?”, e nem se apercebem que foi devido às atitudes que tomaram… não olham para si próprias, achando sempre que a culpa é exterior a elas.
No entanto, continuam a fazer e a dizer esse tipo de coisas… e não se sentem minimamente tocadas.
Nem pensam duas vezes antes da próxima vez que falam… porque por mais que tentemos fazer ver que aquilo que nos disseram nos fere, continuam impávidos e serenos sem entender o quanto realmente magoam…

24 novembro 2007

O Verão já acabou…

O Verão já acabou… e os verdadeiros dias de Outono já começaram…
Apesar de o Verão até se ter prolongado, e os dias de sol e calor terem durado mais do que o habitual… quando eles vão embora, sentimos sempre uma certa nostalgia… como se mesmo assim, ainda tivessem durado pouco.
O sol e o bom tempo estenderam-se até Novembro, pouco a pouco, deslizando por mais um dia e mais outro… que mais pareciam ir durar para sempre…
Mas bruscamente foram traídos por vento e uma temperatura que desceu rapidamente, da qual os mais apaixonados pelo calor não estavam à espera.
Os dias de Outono chegaram, ao fim de algum tempo, e já atrasados. Mas chegaram. Regressaram em força! Vigorosos na sua afirmação!
Mas com eles também outras coisas boas vieram… É nestes dias mais frios em que apetece ficar na caminha de manhã a gozar o conforto do quentinho saboroso dos lençóis.
Sabe bem estar no sofá coberto com uma manta, em frente à lareira a beber chá quente e a ler um livro.
E mesmo os dias de chuva, apesar de às vezes incomodativos, podem-nos trazer belos passeios a dois debaixo de um chapéu…
É uma altura do ano em que sabe bem estar confortável e no quentinho, no abrigado do agreste.
São dias propícios ao encontro com as pessoas com quem gostamos de conversar… o frio e o vento que se fazem sentir lá fora, remetem para um ambiente acolhedor, com um chá e conversas que aquecem a alma. Estamos mais virados para o interior, para o diálogo e valorização da companhia, dos carinhos, dos afectos.

E assim foi o meu dia. Um daqueles dias longos em que já se fez tanta coisa que parece que já duram há anos.
Apesar de chuvoso, logo de manhã me deparei com um maravilhoso arco-íris que me esperava à janela.
E apesar de ter ido estagiar para o local habitual às quartas-feiras, pelo facto de até gostar do trabalho a desenvolver, e de ter sido diferente, tanto ao nível do espaço como das pessoas… fez com que eu começasse a ver as coisas de outro ponto de vista, a apreciar a sua verdadeira essência, a beleza que existe escondida por detrás delas… E mais importante ainda, o facto de a poder partilhar com alguém que divide os mesmos gostos e interesses que eu… E de esse alguém estar sempre ali… e aqui dentro…

E mesmo num final de tarde, tal como aconteceu logo ao começar o dia, brota ao longe no meio da multidão de rostos desconhecidos, um sorriso que nos é familiar… e que no meio de tantos pelos quais passamos, é apenas aquele que nos aquece o coração…

23 novembro 2007

Naqueles dias...

A vida passa depressa. Ou se calhar somos nós que passamos por ela depressa demais.
Uns chegam cá, passam pela vida e vão-se embora sem deixar rasto, nem revolta do muito ou pouco tempo que durou ou poderia ter durado, a sua estadia por cá.
Outros chegam e depois de terem ido, acham que se foram embora cedo demais, pois certamente teriam muito mais para aproveitar. Embora durante a sua estadia aqui não tenham feito muito mais para que isso acontecesse.
E ainda há aqueles que chegaram e tentam a cada minuto aproveitar aquilo que a vida tem de bom para lhes oferecer. Sugam sofregamente cada chance, cada oportunidade para serem felizes, abrem todas as portas que se lhes atravessam em busca da diversão e do verdadeiro prazer de viver, não se contentando com pouco. São lutadores ferozes nas suas convicções de que o tempo por cá é pouco, e tem de ser bem regido e orientado para dele ser tirado todo o proveito.
Todos nós deveríamos de certa forma, enquadrar-nos nesta última categoria e não permanecer apáticos perante a vida a passar-nos à frente dos olhos, como um comboio que não espera. E que nem quando ele pára para entrarmos, nos damos ao trabalho de o fazer, ficando na plataforma sempre a pensar em qual deveríamos mesmo entrar.

Há dias que nos fazem pensar nestas coisas e no quanto levamos connosco desta vida.
Muito? Pouco? Menos do que queríamos realmente?
Sintomas desse tipo de sentimento da passagem do tempo acontecem naqueles dias…

… naqueles dias em que sentimos que foram um grande dia! E que os aproveitámos mesmo bem até ao fim. Que tivemos boas conversas com pessoas que até vemos regularmente, ou todos os dias, mas que naquele dia soube especialmente bem!

… naqueles dias em que revemos várias pessoas juntas que gostamos e que já há muito que não as víamos, recordando momentos bons e pondo a conversa em dia. Estes dias tendem a tornar-se cada vez mais raros devido à vida que cada um segue no seu caminho individual, e que normalmente não se coaduna com a tentativa de manter as amizades antigas.

… naqueles dias em que vemos pessoas que até costumamos ver regularmente, mas por acaso daquela vez já não as víamos há muito, e parece que temos os acontecimentos de um ano para contar de enfiada!

… naqueles dias em que revemos aquela pessoa que já não víamos desde o ano passado, e em poucas horas fazemos um resumo e balanço de mais um ano que passou… e que para o ano voltaremos a fazer o mesmo…

… naqueles dias em que nos apetece partilhar os nossos pensamentos e experiências com todos! Dias que estamos eufóricos e nos apetece espalhar essa alegria com quem encontramos!

… naqueles dias em que pensamos se as nossas escolhas de vida foram realmente as mais acertadas, ponderando as vantagens e desvantagens que acarretaram… Ao fim de quatro anos penso, será que a opção X teria sido melhor que a Y? Será que alguma coisa tinha sido diferente? Será que tudo teria tomado o mesmo rumo?

… naqueles dias em que sentimos que estamos realmente a fazer uma coisa que gostamos, mas que a velocidade que exigem que façamos as coisas, nos faz sentir oprimidos e pensar se isso realmente compensa no final… E qual a necessidade de tanta pressa? Se depois em outras coisas se demora tanto tempo… Qual a necessidade de relegarmos para segundo plano coisas que também gostamos de fazer, e que nos dão prazer, em prol do cumprimento de horários? Isso é qualidade de vida?

… naqueles dias que souberam mesmo bem, e que por isso, ainda nos fazem mais nostálgicos do sentido da passagem do tempo… pois para além de já estarmos com saudades de tantas coisas boas que aconteceram, os dias bons ainda reforçam mais esse sentimento… parece que de repente tudo assola à memória…

… naqueles dias em que sentimos que as coisas estão a passar depressa demais, e que quase não os conseguimos absorver por tanta coisa que nos rodeia, que quase nos apetece fazer um registo de tudo aquilo, para depois lá podermos voltar quando quisermos.
Mas o verdadeiro registo de pensamentos é quando os temos. E apesar de os querermos registar quando os sentimos, e tal como os sentimos, quando o fazemos, nesse registo já não vai transparecer a mesma intensidade com que os sentimos pela primeira vez…

14 novembro 2007

Silêncio...

Silêncio



Como é bom ouvir o silêncio.
Escutá-lo, apreciá-lo, saboreá-lo.
Às vezes é pesado e, talvez por isso, as pessoas extrapolem esse sentimento para todas as outras situações do dia-a-dia.
Hoje em dia é difícil encontrar o silêncio, seja onde for.
É difícil arranjar um espaço onde nos possamos encontrar connosco mesmos, mergulhados na ausência do mais pequeno ruído.
Estará o silêncio em decadência?
Hoje, a qualquer lado que vamos, existe sempre barulho.
Ou é a constante, asquerosa e barulhenta publicidade na televisão, ou nas lojas a música que está sempre presente, é raro o café em que se consiga ler algo concentrado, nos bares em que é suposto conversar e falar normalmente (afinal é um local de encontro e convívio), tem de se gritar porque é quase impossível ouvir alguém com a música gritante que está por lá… já não referindo que no dia seguinte não nos aguentamos de tão roucos que ficamos. E nas discotecas então já nem se fala.
Música é uma coisa. Ruído é outra. E discoteca já fica para além disso. Já nem aqui está contemplado.
Cada vez menos se ouve o silêncio e o prazer que ele proporciona à reflexão e ao melhor apreciar das pequenas coisas.
Tem sempre de haver barulho, qualquer coisa a encher e preencher o silêncio… é raro o sítio onde vamos em que ele esteja presente.
Até mesmo quando vamos de férias, no hotel paradisíaco nos confins do mundo, naquela ilha isolada, há a saga da ruidosa animação de hotel, como se as pessoas só se entretivessem com alguma coisa que as ocupe.
Nem de férias que nos precisamos de isolar de tudo, nos deixam fazê-lo.
Esta necessidade de encher o espaço do silêncio reflecte a ideia geral de que as pessoas o consideram vazio.
O que não é verdade.
O silêncio pode na verdade dizer muita coisa, apenas há que o compreender, apreciar e aproveitar.
O silêncio propicia o pensamento, incita a escrita, dá ideias. É a melhor companhia da solidão, o que não significa as pessoas se tornarem anti-sociais apenas por gostarem de estar sós.
Simplesmente nos apetece estar sós, porque sabe bem, estar na nossa companhia. A pensar, divagar, escrever… às vezes a tomar decisões importantes, delinear coisas para o dia-a-dia ou para a vida, reflectir em estratégias de como enfrentar os nossos problemas, pensar nos nossos medos para o futuro, oportunidades, receios… desfazer aquelas tantas tempestades que fazemos num copo de água.
Às vezes apetece estar longe de tudo e de todos para pormos pensamentos em ordem, estabelecer prioridades, colmatar ideias.
Faz sempre bem. Seja onde for.
Em sítios onde já passámos muita da nossa vida quando éramos crianças, talvez porque esses sítios nos trazem memórias às vezes esquecidas pela azáfama do dia-a-dia.
Ou até em espaços que gostamos de estar, porque simplesmente nos agradam.
Sítios onde já trabalhámos, ou estudamos, ou fizémos trabalhos do curso, os quais nos marcaram.
Sítios onde já fomos passear ou passar férias… ou até mesmo aqueles que não démos muito valor quando lá estivémos, mas que quando nos vamos embora sentimos a falta e temos saudades. E quando lá voltamos da segunda vez, recordamos tudo aquilo com um carinho especial.
Ou até mesmo sítios que gostamos de ir regularmente e o fazemos porque simplesmente sabe bem estar ali, mesmo que ali vamos muitas vezes.
Simplesmente porque sabe bem.
A contemplar o rio, ou o mar, num café, ou numa esplanada que gostamos particularmente.
É sempre bom fazer uma pausa para estar connosco mesmos.

13 novembro 2007

Semanas...

Há semanas que nos marcam. Semanas que apenas com o habitual desenrolar das actividades quotidianas e o normal devir da vida, nos fazem pensar e reflectir em certas coisas, desligarmo-nos de outras, dar mais importância a determinados aspectos com que nos deparamos e observar o estado daquilo que nos rodeia.
Será já um prenúncio da aproximação dos ciclos de Saturno?

Semanas normais. Mas cheias. Cheias de muita coisa. Não propriamente afazeres, mas cheias de emoções, boas conversas, passeios, pensamentos, risos, alegrias, simples constatações e reencontros.
Semanas que pelo conjunto das diversas coisas que aconteceram até àquele momento nos fazem pensar na vida, no pouco ou muito que já vivemos… Mas sempre com a mesma sensação: de que o tempo se está a escapar das nossas mãos como areia por entre os dedos.
O que nos leva a pensar que devemos ainda mais aproveitar cada momento que vivemos. Cada segundo. Mesmo o tempo que dormimos. Porque enquanto dormimos, sonhamos. E sonhar é viver.
Mas mais importante que toda esta teoria é pô-la realmente em prática!
De nada nos vale saber que temos de aproveitar a vida ao máximo se quando estamos perante uma oportunidade de o fazer, viramos as costas! Há que reconhecer as oportunidades com que nos deparamos, e não simplesmente ignorá-las. “Então? E a teoria? Esqueceste-te dela quando mais precisas? Depois não te queixes… Mais vale admitir que não a aplicas mesmo.”

Mas não fugindo ao assunto anterior.
Há semanas que nos apercebemos de como estamos perante os amigos, o trabalho, a família, as nossas paixões… perante o que nos rodeia, perante a vida.
Semanas que têm um balanço muito positivo. Por nada em especial concretamente, mas sim pelo conjunto de todas essas pequenas coisas.
Um balanço muito positivo nem que seja pela experiência que adquirimos, conversas que tivémos, decisões que tomámos, ou mesmo por terminarmos a semana num sábado à noite muito descontraidamente a sorrir e dançar, sem preocupações, revendo pessoas que já não víamos há anos, e que durante tanto tempo estiveram ao nosso lado todos os dias.
Semanas que têm sabido bem. Com o grande aliado Sol de Novembro. Semanas que tem contribuído para a minha felicidade, caixinha de dúvidas, quadro de afectos, paixões, etc.
Semanas que têm contribuído para aquilo a que um dia vou chamar “passado”, e hoje chamo “presente”.

11 novembro 2007

Conversas de café...

E os dias continuam tão bonitos… lindos… nem parece que estamos no Outono… sol, calor, céu limpo, nem sequer corre uma aragem… estamos em Novembro… Este ano o tempo esqueceu-se do vento e da chuva…
Os dias continuam maravilhosos… dá vontade de passear pelas ruas, avenidas, apreciar a paisagem, ver o rio, conversar, aproveitar as coisas boas da vida… com um leve toque Outonal…
E mais uma vez a sexta-feira esteve linda… a tarde então adornou-se maravilhosamente.
A Baixa de Lisboa resplandecia no seu auge… as tardes de sexta-feira têm sido tão lindas e saborosas, que às vezes só queria que durassem para sempre…
Aquele rebuliço de pessoas nos Restauradores, os passos atarefados do Rossio, o frenesim dos autocarros na Rua Áurea a ver qual chega primeiro ao terminal… o cheiro a castanhas numa Lisboa outonal com turistas ainda veraneantes, numa agitação de dias de Inverno onde já começa a emergir os enfeites e espírito natalício…

Uma Lisboa mesclada. Uma Lisboa com uma saborosa mistura de gente. Onde mais uma vez de entre cada beco e recanto saltava o deslumbre dos edifícios, ainda a reluzir do sol que se punha, numa perspectiva deflectida, com a topografia da cidade a embelezar e realçar os seus contrastes.

E o cafézinho da esquina ali estava mais uma vez. Esperando-nos para o lanche, com croissants de chocolate e galões quentinhos que curiosos pediam um bocadinho de conversa, já sabendo ali os assuntos fluírem sempre agradável e facilmente.
Porque já não é a primeira vez que ali vamos. E porque sempre que ali vamos, ao sair sinto-me renovada e cheia de novas ideias, mais madura e pronta para enfrentar os dias que aí se avizinham e os meses que ainda estão sob o nevoeiro.
Como pode um lugar tão simples, num pequeno recanto a avistar o delicioso declive da Calçada Nova de São Francisco, dar um toque tão especial às conversas…

Ao voltar, o Rossio já reluzia sobre o céu escuro e as estrelas que lá no alto cintilavam… e ao longe ouvia-se os Terra Inca, uma maravilhosa sonoridade índia oriunda do Equador, que alegrava aquele espaço, conferindo-lhe um ar tão multicultural e revelando como o mundo está tão próximo.
Basta abrirmos os nossos horizontes.



Quando subi para o autocarro nos Restauradores, ali estava ele… Uma semana depois, o mesmo lugar que eu ocupara na sexta-feira anterior, ali estava.
Vazio.
À minha espera.
Confiante de que alguém aproveitaria a paisagem que ele proporcionava.
Não o desiludi.




E passados já alguns minutos e quarteirões, do meu lado esquerdo no imponente Jardim do Campo Grande, avistei o parque infantil, onde logo no início daquela semana nos detivémos por uns momentos, sob o sol quente do meio-dia, a aproveitar as coisas boas da vida e reviver a infância sempre presente.
Agora ali estava ele, no escuro, sozinho.
Rodeado pela frondosidade das copas das árvores que lhe metiam medo…

05 novembro 2007

Dias lindos...

Há dias especialmente bonitos… lindos!
Ou então é a nossa predisposição prévia para os apreciar, o que nos permite contemplar as coisas com um maior apreço, afeição, carinho, amor…
Há dias que vale a pena acordar cedo! Sentir o cheiro a frio da manhã fresca, misturado com o solinho morno acabado de nascer, que nos aquece o rosto, ainda aturdido do sono e da claridade ofuscante…
E apesar de logo de manhã cedo ter de ir fazer trabalho, isso nem sempre se constitui como algo aborrecido, desagradável ou impeditivo de passar uma bonita manhã e uns belos momentos.
Especialmente se gostamos daquilo que fazemos, se amamos o que estudamos e, aquilo a que nos dedicamos, o fizermos com afeição… o trabalho torna-se algo muito agradável…
E como tal, é igualmente fascinante ir trabalhar para sítios que, por mais que ali vamos, nunca nos fartamos. Porque há sempre mais alguma coisa que ficou por descobrir… algum recanto que ficou por ver… algum banquinho em que ainda não nos sentámos a contemplar a paisagem e a conversar…
São coisas simples que acabam por tornar uma bela manhã soalheira no princípio de um dia lindo…
...

E mesmo lá para o fim da tarde, já quando o dia parece findar… há coisas que o fazem ficar ainda mais lindo… encantador…
A companhia de pessoas que realmente gostamos e já não víamos há algum tempo… mas que não importa quanto tempo passou, elas ocupam sempre um lugar especial nas nossas vidas…
Pessoas com as quais podemos rir, chorar, brincar, falar a sério… sermos nós mesmos… e que por mais tempo que passemos com elas, nunca é demais… um pouco mais tempo é sempre bem-vindo e bem saboreado…
As conversas têm sempre um sabor especial… e mesmo quando nos despedimos, sentimos sempre que houve tanta coisa que ficou por dizer…
“Depois temos de combinar outro café!”
...

E o regresso a casa nem sempre precisa de ser aquela correria cega contra os horários dos transportes…
Na verdade, apreciar o trajecto de volta ao lar, numa sexta-feira outonal com o cheiro a castanhas no ar, é das coisas mais doces…
Observar o que nos rodeia, aquele rebuliço de gente no Cais do Sodré a passo apressado, com o intento de ir para casa… a mistura de pessoas…
A hora de ir para casa a cruzar-se com a abertura de bares e restaurantes à beira-rio… cujas luzes já se reflectem no Tejo…
O sentimento de proximidade ao rio, que tanto é factor de união como de distância… evocando sentimentos de tempos imemoriais…
Muitas pessoas, muita agitação, muitos destinos… uma cidade.

...

A primeira e única a entrar… apenas na minha própria companhia durante umas quantas paragens seguintes…
Sozinha no autocarro… apenas eu num longo corredor nu, repleto de bancos vazios…
Pude sentar-me no que quis, escolhendo um que me permitisse uma melhor paisagem durante o trajecto…
Ali encurralada de paisagem na Avenida Ribeira das Naus… de um lado os imponentes edifícios, os jardins e as pequenas esplanadas expunham-se… para o Tejo que do outro lado se erguia na sua calma e serenidade…
Mais uns metros e o Terreiro do Paço abria-se glorioso à vista… iluminado por focos provindos de todos os cantos… observado do alto pelo Castelo... ostentando a estátua que controla os que a rodeiam…
A Rua da Prata, ainda com pessoas que por ali faziam compras, emanava uma luz prateada que ofuscava pela beleza que para ali se fazia sentir…
E após um virar de esquina impõe-se um Rossio atarefado de pessoas…

Muita iluminação… fim de tarde de sexta-feira… corropio para ir para casa… cheiro a castanhas no ar… céu limpo estrelado…
E cada canto escondendo eixos visuais que revelam as maravilhas da cidade… e em cada esquina encontramos deslumbramentos urbanos… numa cidade cheia de pessoas, turistas e vida.

Porque os percursos que fazemos são lindos… isso apenas depende da nossa capacidade de os saber apreciar…
É possível amar as paisagens, sentir o que vemos, perpassar os sentidos da nossa alma… arrepiarmo-nos saborosamente com imagens que se nos deparam à vista…
Porque senti que há alturas em que não consigo desfrutar de toda a paisagem… ela é tão cheia de tanta coisa para ver… que não se consegue absorver tudo o que ela tem para oferecer…
...

Porque há certos sítios que associamos a determinadas alturas do ano… e há outros que associamos sempre, por conseguirmos imaginá-los em diversas situações, em vários ambientes… sempre…

03 novembro 2007

...

Ainda relativamente às pessoas.
São tantas as pessoas quantos os pensamentos que me atravessam a cabeça...
É engraçado observar o fluxo de pessoas. Na rua, nos transportes, nas filas… e a forma como se comportam. Como olham para os objectos ou para outras pessoas.
Tantas vidas que se cruzam todos os dias… umas pelas outras… umas parecidas, outras muito diferentes.
Cada uma com o seu ritmo próprio.
Cada uma seguindo o trajecto do seu próprio destino.
Pessoas cujo dia começa quando já nós estamos a ir para casa.
Pessoas cujo dia começa antes do sol nascer e que todos os dias sentem o cheiro a frio da manhã fresca.
Pessoas com deficiências que superam tudo e nos surpreeendem pela enorme força e vontade de viver que têm!
Pessoas que conhecemos e embora falemos pouco com elas, temos uma certa admiração… sem necessariamente gostar ou, ter curiosidade de as conhecer melhor, ou até mesmo falar mais com elas… apenas contemplá-las.
Pessoas que se calhar nunca repararam em nós, mas nós reparamos nelas… por alguma razão especial, que muitas vezes nem sequer conseguimos explicar.
Será que também acontece o contrário?
Pessoas que por algum motivo nos fazem lembrar outras… colegas antigos ou amigos passados…
Pessoas pelas quais nutrimos uma admiração especial sem nunca termos falado com elas, apenas de observar os seus gestos, atitudes, risos, gostos que têm, espaços comuns que escolhem para estar… na realidade nunca falámos com elas, mas no fundo temos uma imensa curiosidade em as conhecer e de trocar algumas palavras…

02 novembro 2007

Pessoas...

Com quantas pessoas nos cruzamos por dia?
Quantas pessoas vemos ao ir para o trabalho? Ou para casa?
E aquelas que estão mesmo junto a nós nos transportes?
Realmente nunca nos damos bem conta de quantas pessoas nos rodeiam no dia-a-dia.
Por dia, muitas pessoas passam por nós. E muitas das vezes, nós nem sequer damos por elas.
Quantas dessas pessoas que vemos, conhecemos realmente?
E de quantas dessas que encontramos, queríamos realmente ver?
E quantas queríamos ver e elas parece que nunca vão onde nós vamos, ou nunca estão por onde nós passamos…?
Será que agíamos como agimos, se nenhuma das muitas pessoas que todos os dias nos rodeiam estivesse ali? Apesar de quando passamos por elas, as ignoramos a todas…
Às vezes dou-me conta a pensar nisto tudo…
Há dias, quando entrei na farmácia, dirigi-me de imediato à máquina para tirar a senha do atendimento.
E já ia buscar a senha quando um velhote se abeirou de mim e gentilmente me ofereceu a sua senha, porque afinal já não ia precisar dela.
Foi apenas um simples e pequeno gesto e, apesar de eu ter ficado no mesmo lugar que teria ficado se tivesse tirado a minha senha, porque a farmácia estava com pouca gente, apreciei bastante a generosa atitude do senhor.
Por acaso quando entrei vi que alguém estava de saída, mas nem reparei bem quem… alguém…
Tantas vezes que a gente vê alguém… não sabemos bem quem… alguém…
Com quantas pessoas nos cruzamos diariamente e às quais nem sequer vemos a cara… muito menos trocamos um sorriso…
Hoje em dia com a correria cega da vida e, com o lema instaurado do “salve-se quem puder”, estes gestos tendem a ser cada vez mais raros…

01 novembro 2007

Encontrar-se...

Até nem costumo ouvir muita música quando vou a andar na rua… porque prefiro ouvir os sons que me rodeiam.
O som da cidade, do campo, dos passarinhos, o ressoar dos passos das pessoas na calçada. E depois gosto de pensar sobre tudo isso, até mesmo enquanto estou por ali a deambular, vou cheirando e apreciando a vida e tirando algumas ilações para mim mesma.
Mas há dias, por acaso até me apeteceu ouvir música no trajecto para casa. E surpreendi-me que, só passado já algum tempo é que me dei conta que não estava a ligar à música desde o princípio que tinha ligado o aparelho.
E só quando dei conta disso, comecei a prestar atenção à letra… e surpreendi-me uma vez mais…
Tudo o que a música descrevia, eu identificava comigo mesma!
As mesmas atitudes, os mesmos trajectos, os mesmos sentimentos e até mesmo as emoções…
Encontrei-me sem querer!
E a música não era nada demais… aliás, até foi das primeiras vezes que a ouvi.
Mas estremeci por tamanha coincidência.
Encantada? Com medo?
Espantada.
Quantas coisas não devem existir, às quais às vezes nem sequer ligamos quando passam por nós… e que no fundo são tão ao nosso jeito, e nós nem reparamos nelas simplesmente porque não lhes damos importância?
Quantas não seriam as coisas que nós identificaríamos connosco mesmos e melhor compreenderíamos, se apenas lhes déssemos um pouco mais de atenção?