31 outubro 2007

O Miradouro...

Como eu gosto de ir àquele miradouro. Como me sinto ali bem.
É a vista, o cheiro a rio, a ponte imponente sobre o Tejo, a sombra daquela folhagem, a magnífica copa das árvores, a água ainda contemplada pelo Adamastor…
E todas as pessoas que por ali já passaram e as que ali se detém a observar o mesmo que eu.
Mas cada um com a sua interpretação.
Cada um com os seus sentimentos e sensações que os levam a ir ali.
Hoje, amanhã, todos os dias.
Sempre que apetece.
Porque sabe bem estar ali.
Mesmo que não se vá ali fazer nada de especial.
Apenas olhar para a paisagem. Estar na esplanda a contemplá-la ou a conversar.
Dia ou noite. Sentir o que aquele espaço nos transmite. Aproveita-lo. Desfrutá-lo.
Quantas cidades não se orgulhariam de ter também um miradouro como aquele? O que não davam para ter uma vista maravilhosa para um rio, dia e noite, como nós temos?
Temos de nos orgulhar disso!
Existem muitas pessoas que não utilizam este tipo de espaços. Não sabem o prazer que dá saboreá-los, não pensam sequer neles, no que significam, no que para eles simbolizam.
Se calhar, nada.
Para muitos, estes espaços são apenas de passagem, residuais, servindo apenas de elo para outro sítio que querem realmente alcançar. Passam pelo miradouro sem olharem para ele. Sem apreciarem o ambiente envolvente. Nem o olham.
Com medo?
Cegas.
Mas na realidade são capazes de passar uma vida inteira a fazer determinados trajectos sempre iguais. Todos os dias iguais e, nunca apreciarem a verdadeira beleza de cada espaço, e deixar que ele lhes penetre na alma.
Ser capazes de parar e ir ali um bocadinho ver a paisagem, desfrutar do ar que ali se respira.
Mas não. Já é sempre tarde para ficar mais um bocadinho. Já está sempre na hora de ir.
Fica para outro dia.
E assim se deixam de aproveitar belos espaços da cidade.
E assim se adiam as coisas boas da vida…

30 outubro 2007

Viver com calma...

E aqui…
Aqui parece que o tempo parou... o dia passa devagar… muito lentamente diria… e sem pressa, contrastando com a vida no Rossio.
A senhora mais velhota que foi passear o seu cãozinho, sentou-se no banco a ver a tarde passar, enquanto o seu companheiro de estimação a imitava.
Nas ruas passa um carro de vez em quando.
Reina a calma
Dia e noite.
Sem pressa nenhuma.
Dia e noite.
As ovelhas no pasto deleitam-se no maravilhoso fim de tarde enquanto os carneirinhos mais novos saltam no prado sob um solinho dourado de fim de tarde.
O café da Rua de S. João recebe algumas senhoras que foram tomar o seu chá das cinco.
No largo estão algumas pessoas sentadas num banco a apanhar sol.
Um gato vagueia sem direcção nem rumo, olhando-me de esguelha.
Não se ouve vivalma
As árvores, montes e vales despedem-se do sol que agora já só deixou um tom alaranjado no horizonte.
É hora de ir para dentro, já começa a ficar fresco.
Aqui a vida rege-se pelas horas solares.
Todos os dias se repetem, prosseguindo lentamente no seu decurso normal do sol.
Amanhã outro dia igual a este virá. E outro. E outro.
Sem pressa.
Calmamente.
Vamos para dentro.
A noite está a cair.

29 outubro 2007

Espaços…

É engraçado observar como os espaços são tão diferentes, não há nenhum igual a outro. Em sentido nenhum.
Tanto variam de pessoa para pessoa, como em diferentes momentos do dia, ou do ano…
E é curioso pensar que razões levam certas pessoas a se sentirem mais à vontade para preferirem um determinado espaço, em detrimento de outro.
Que factores existem no espaço X, que levam essas pessoas a apropriarem aquele espaço?
E porque é que as características de Y são mais ao gosto de outras?
É engraçado pensar em tudo isso… e mais ainda observar o modo como as pessoas se distribuem pelo espaço e a forma como nele permanecem… descontraídas, tensas, atentas, pensativas… E porquê?
Porque é que o espaço X provoca determinada sensação numa pessoa e, para outra é completamente indiferente?
E por aí adiante…

Deambular é das coisas que mais aprecio fazer… quer seja em cidades (grandes ou pequenas), como em aldeias… ou no campo, ou à beira-mar…
Qualquer sítio tem sempre algo para observar.
Algo que me faz deter para o contemplar.
Qualquer sítio me confere sempre um tipo de sensação diferente, consoante o que sinto, vejo, observo, penso, vivo…
Acima de tudo, sentir o que me perpassa os sentidos e, observar as diferenças e comparar…
Sem qualquer juízo de valor!
Apenas comparar… porque apenas isso revela muito sobre cada sítio.
E é igualmente engraçado e curioso pensar que, sítios que às vezes são tão próximos, podem ser tão diferentes, apenas com o virar da esquina!
E isso deve-se a quê?
Porque nos sentimos tão diferentes de X para Y ?
O que há ali que nos conforta ou desassossega?



Ainda a semana passada aquando uma ida à Baixa Lisboeta, deparei-me com um Rossio que brilhava em todo o seu esplendor!
Emanava o seu vibrante poder de afirmação de tudo aquilo que ele é!
Orgulhando-se da estonteante e resplandecente vida que o atravessava!
Até nem estava sol praticamente, mas tudo conferia uma tonalidade mágica àquele espaço.
O burburinho das pessoas atarefadas de um lado para outro a fazer algumas compras, outras já a ir para casa, todo o movimento e o fluxo que conferiam àquele espaço, em conjunto com o cheiro a castanhas e os pregões que pairavam no ar…
O Rossio era contemplado lá do alto, pela sumptuosa Igreja do Carmo e, pelo olhar vigoroso do Castelo de São Jorge.
Imponentes a perante a azáfama do Rossio, centro de um fervilhar de actividade humana e de um corrupio constante…
Aquela típica imagem do Rossio Lisboeta estava no seu vigor.
De todo o lado despoletavam pessoas apressadas, ao mesmo tempo que os edifícios mantinham a sua calma e as olhavam pávida e serenamente, sem pressa, gozando o facto de estarem ali, mas quase só os turistas ali presentes, os apreciarem.
Esta é realmente uma imagem bastante “normal” do Rossio, afinal seja Inverno ou Verão, dia ou noite, o Rossio está sempre apinhado de pessoas e passos apressado.

Mas de noite não é bem assim… passados uns dias, passei pelo Rossio às cinco da manhã… em plena madrugada.
As diferenças eram mais do que muito evidentes.
Saltavam à vista de qualquer um que por ali não passava.
Não se avistava vivalma!
Todo aquele frenesim puro, havia desaparecido como que por magia.
Interroguei-me onde será que todas aquelas pessoas estariam naquele momento?
O Rossio estava nu.
Desprovido de qualquer vestígio humano.
Nenhum som ressoava na calçada.
Um silêncio gritante.
O Rossio, ali abandonado, nem parecia o mesmo.
O sol reluzente que tanto iluminava graciosamente aquele espaço, cedeu lugar a candeeiros que apenas alcançavam as pedras mais próximas da calçada.
Reinava a paz.
O silêncio.
O Rossio dormia e descansava acordado.
Roçava os céus estrelados.
Numa calma e numa paz que deleitavam qualquer bom apreciador de paisagem.
Tão belo de noite, como de dia…

28 outubro 2007

Memory...

Daylight
See the dew on the sunflower
And a rose that is fading
Roses whither away...
Like the sunflower
I yearn to turn my face to the dawn
I am waiting for the day...


















Midnight
Not a sound from the pavement
Has the moon lost her memory?
She is smiling alone...
In the lamplight
The withered leaves collect at my feet
And the wind begins to moan

Memory
All alone in the moonlight
I can smile at the old days
I was beautiful then...
I remember the time I knew what happiness was
Let the memory live again...

Every streetlamp
Seems to beat a fatalistic warning
Someone mutters
And the streetlamp gutters
And soon it will be morning...

Daylight
I must wait for the sunrise
I must think of a new life
And I musn't give in...
When the dawn comes
Tonight will be a memory too
And a new day will begin...

Burnt out ends of smoky days
The stale cold smell of morning
The streetlamp dies, another night is over
Another day is dawning

Touch me
It's so easy to leave me
All alone with the memory
Of my days in the sun...
If you touch me
You'll understand what happiness is

Look!
A new day has begun...

27 outubro 2007

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Matemática...
Como eu tenho tantas saudades da matemática…
Fazer matemática, resolver exercícios, embrenhar-me naqueles jogos lógicos de números que saltam de um lado para o outro das equações e, que regulam os eixos cartesianos… e quando eles eram a 3D? O jogo complicava-se tão fascinantemente...!
Por isso, fico sempre bastante incrédula quando falo com pessoas que me dizem que sempre detestaram matemática, porque “aquilo é horrível!”, “é só números! É muito complicado”, “é muito difícil”, “eu detesto matemática! Odeio!”…
Claro que gostos não se discutem, mas na verdade acho que na maior parte dos casos, as pessoas não gostam de matemática, simplesmente porque na realidade não a compreendem. Não a sentem. Não entendem a sua lógica, a forma como podem brincar com ela e, como tão facilmente podem entrar naquele mágico e maravilhoso jogo dos números que, se os dominarmos, fazemos deles o que queremos.
Os números... jamais serão nossos inimigos, mas sim companheiros de diversão e do desvendar de mistérios que se escondem por trás de sinais de soma, subtracção, fracção, raízes, etc…
A matemática… como ela flexibiliza e expande a mente, conferindo-lhe uma enorme elasticidade! Desprende o cérebro e o exercita mais que qualquer outra coisa. Estimula o raciocínio e a rapidez de pensamentos.
Um jogo de números dá um gozo para quem o sabe apreciar… é só ir na “onda”… quem vai, aprecia, brinca, joga, aprende, diverte-se!
Como tenho saudades daqueles problemas matemáticos que me faziam contorcer o cérebro de tantas voltas que eu dava para os resolver e, para sempre concluir no final que, a maior genialidade da mente é atribuída àqueles capazes de inventar e criar exercícios matemáticos.

22 outubro 2007

Felicidade... ?

Há alturas na vida, ou melhor, no ano em que precisava mesmo de um pensatório!
Sim, aquele objecto do Albus Dumbledore no qual ele deposita os pensamentos para os tirar da cabeça quando muita coisa o atormenta e mais tarde voltar a pegar quando tiver mais folgado, de forma a não lhe criarem muita confusão ao mesmo tempo.
Isto porque, para além de à medida que fui amadurecendo e ter vindo a pensar cada vez mais nas coisas e, sobre tudo o que me rodeia, também há épocas no ano, especialmente propícias a que isso se intensifique de uma forma mais exacerbada.
É desde meados de Abril até a meio de Julho, das doces manhãs primaveris até às tardes com sabor a Verão que anunciam a chegada das férias, que todo o ambiente é mais propício a passear, aproveitar os dias em que finalmente já se pode ver o pôr do sol até mais tarde…
Esse curto momento (para mim!) do ano, desponta uma série de emoções, sentimentos e afectos pelo ambiente mais quente, de mais sol, mais propício à inércia e ao lazer… ao reencontro com os antigos colegas e amigos de sempre, tanto para recordar momentos passados como para pôr a conversa em dia…
E é precisamente nessa altura em que estamos mais condicionados em termos de tempo pelo trabalho.
Passamos às vezes dias inteiros fechados num edifício com um sol maravilhoso lá fora…sentados em frente a um computador, a fazer trabalhos freneticamente, uns a seguir aos outros.
Com tanta pressão que nem dá para aproveitar o prazer que cada um deles proporciona….
Pessoalmente, eu adoro o que faço, não trocaria por nenhuma outra coisa, mas vejo que o tempo está a passar velozmente.
E à pressa! Sem que quase dê por ele! Pressa de fazer os trabalhos, pressa para estudar para os exames, presa para chegar o fim-de-semana, pressa para entrar de férias… com que objectivo??
Viver à pressa???
Muitas vezes nem sequer conseguimos desfrutar calmamente das coisas que mais gostamos…
Actualmente exige-se das pessoas como se elas apenas fossem máquinas de produzir trabalho! Mas não conta a satisfação com que o fizémos, só interessa as coisas estarem prontas no prazo de entrega!
Seria talvez muito mais produtivo fazer as coisas com calma, mais organização para podermos desfrutar daquilo que realmente gostamos... digo eu...
Há necessidade de andarmos completamente esgotados e deixar para segundo plano coisas bem mais importantes apenas para cumprir prazos?
Quantas conversas não ficaram para trás… quantos passeios não podiam ter sido dados… quantas vezes mais poderíamos ter saído… tudo em prol de trabalho em quantidade desumana para prazos tão irracionais!
Que recordações iremos no futuro ter nós disto?
Iremos lembrar com carinho e afecto este tempo, o melhor da nossa vida, passado a correr porque não há tempo para fazer as coisas prazerosamente ?
Será que às vezes é preciso ser um pouco mais “balda”?
Talvez assim se aproveite mais as coisas boas da vida!
Se calhar fazer tudo certinho, a tempo e a horas, não é a melhor opção para se ser feliz!
Deixamos agora para trás coisas que gostamos de fazer em prol do tempo, de coisas a cumprir…
Isto cria uma grande nostalgia da passagem do tempo e, de não aproveitarmos como já o fizemos quando éramos mais novos…
Restam as recordações…
Agora já não há tempo para certas coisas como antes… agora há sempre qualquer coisa mais importante para fazer… e para a qual “já estamos atrasados”!
A evolução a que assistimos actualmente, corresponde a níveis de felicidade?
Temos de cumprir horários, temos de fazer trabalhos, temos de ser competitivos, temos de produzir até à exaustão!
Só não temos é de ser felizes!
Instaurou-se uma filosofia mundial em que primeiro estão os objectivos laborais a atingir e, só depois a felicidade…

Será que um dia vai valer a pena ?

17 outubro 2007

Espiral...

E ali estava ela. Mais uma vez. Como sempre.
Imóvel. Inerte, na sua mobilidade apenas de pensamentos.
No mesmo restaurante, na mesma mesa, na mesma cadeira, na mesma posição.
Como sempre. Desde a primeira vez que eu a vi.
Porque de todas as vezes que ali vou, ela ali está. Sempre. Interrogo-me se passará ali os dias.
Porque nós, mais novos, na agitação do dia-a-dia, muitas vezes nem pensamos no que observamos com a pressa de nos despacharmos. E certamente para muitas outras pessoas que ali passam, ela é-lhes indiferente.
É simplesmente mais uma pessoa que veio ali almoçar.
Será que nunca repararam que ela ali vai todos os dias? Será que já se interrogaram sobre o que faz ela ali? Ou porque está ali sempre?
Eu quando ali chego, ela já lá está. Quando me vou embora, ela ainda fica.
Porque ela, apesar de desconhecida, de nunca termos trocado palavra, e de nem saber quem ela é... ela mexe comigo!
Ela faz-me pensar... o que vai naquela cabeça? Naquela alma?
Por detrás daquelas vestes e dos movimentos muitíssimo débeis, devido à idade que não foi generosa para com ela...
O q se esconderá? Que mistérios oculta?

Costumo ir ali almoçar com a minha mãe. É um sítio que gosto bastante. Tanto pelo ambiente, pois quem ali vai tem necessariamente afinidades comigo no campo alimentício e, por isso sinto-me "em casa"... Como porque todas aquelas ruas que envolvem a Praça Iha do Faial, incutem no meu pensamento, enquanto por ali deambulo, retratos místicos de retorno ao passado histórico... e me fazem um turbilhão de pensamentos girar em torno dos mais variados aspectos relacionados com conquistas, descobrimentos, história, navegações... Rua da Ilha do Pico, Rua dos Açores, Avenida Praia da Vitória, Rua Cidade da Horta...

Mas é ali, na Praça lha do Faial, que eu desde que ali fui pela primeira vez, senti que algo para ali me puxava... O jardim não é nada de especial.
Depende.
Para mim é! Há algo nele que mexe cá dentro comigo... E depois de ter entrado nesse restaurante, vi mesmo que aquele espaço tem realmente a ver comigo. Provavelmente não consigo explicar bem porquê, talvez porque as energias que por ali correm não me são indiferentes!
Tal como ela. Ela também não me é indiferente. Nunca foi.
Será que ela sabe que eu me lembro dela? Será que ela se lembra de mim? Provavelmente não... deve ter igualmente pensado que eu era... mais uma pessoa que foi ali almoçar, cega como todas as outras, cujo importante era "despachar-se" pa não chegar atrasada. Porque hoje em dia, as pessoas estão sempre atrasadas para qualquer coisa.

Mas não. E cada vez que penso nela, penso em tantas outras pessoas idosas... bastante mais velhas que nós, que por aí andam pelas ruas... sozinhas, sem companhia, entregues aos olhares marginais dos que passam apressadamente, porque já estão atrasados e, os acotovelam por estarem a atrasar o passo. A cega e desenfreada correria da vida.
Também há os que ficam sozinhos o dia todo, em casa, a ver televisão, entregues à sorte dos abomináveis anúncios e asquerosos programas que lhes servem de pasto para passar o tempo.

Porque nesta sociedade ocidental, os velhos são um "estorvo", um poço de encargos que nos atrapalha o tempo e a rotina da vida diária.
Simplesmente porque não sabemos valorizar as pessoas mais idosas pelo que elas são. Apenas as julgamos pelo que elas aparentam ser.
E na verdade, o "velho" é feio. Tem rugas e cabelos brancos. Anda curvado, "que horror!". É "cota".
O jovem é ao contrário. É bonito, esbelto, pele lisa, com o corpo a responder à flor da idade e a roupa assenta-lhe bem.

E por isto não se valorizam muitas das "bibliotecas" que por aí vagueiam sozinhas pelas ruas... Porque numa sociedade onde só o físico e a beleza exterior interessam, em detrimento dos valores morais, do conhecimento e da sabedoria... a mentalidade é assim, tacanha.
O que importa é estar bem vestido, com roupas da moda, e a par das fofoquices da TV e das revistas cor-de-rosa. Porque a sociedade, de tão fútil que se tornou, esqueceu os poços de conhecimento e sabedoria que são os mais velhos.
Simplesmente desprezam-nos!
Sem perceberem que um dia, se lá chegarem, também vão ser assim!
Não querem ser velhos, mas ao mesmo tempo também náo querem morrer novos!
Mas também não valorizam, nem tentam conhecer e apreciar um pouco daquilo que um dia vão ser...

Nas sociedades Orientais, o "velho" é idolatrado. É considerado experiente, sábio, detentor do conhecimento e da sabedoria que conduz e rege a vida dos mais novos. É a ele a quem se recorre sempre que é preciso, porque ele, mais do que ninguém, tem experiência e já viveu muito. Sabe o que diz.
Nas sociedades Ocidentais, ditas "desenvolvidas", o velho não tem qualquer significado. Cuidamos deles porque "tem de ser", mas na verdade estamos a matá-los aos poucos. E isso dói-lhes. Custa-lhes. Sentem-se desprezados. E isso vê-se nos seus olhos.
Nunca se pensa que o "velho" é uma biblioteca de conhecimento, da qual podemos tirar partido e aprender com ele. Achamos sempre que não, que nós é que sabemos tudo e não precisamos de ajuda dos mais velhos. Somos "independentes"! (e estúpidos!)

Desde há pouco tempo, houve algumas situações que inconscientemente me fizeram estremecer e pensar em tudo isto. Parece que senti tudo isto que disse, antes de pensar realmente no seu significado. Provavelmente foi um alerta, de que algumas pessoas mais idosas que me rodeiam, não me são nada indiferentes.

Da última vez que o meu avô fez anos, o seu olhar, mais do que nunca, comoveu-me. Deu-me vontade de chorar. Senti que por detrás do seu olhar, muitas coisas se escondiam no seu baú de recordações e memórias... longe, muito longe...
As suas mãos rugosas do peso da enxada, a sua face gasta pelos dias que trabalho no campo de sol a sol... Já não ouve tão bem de um ouvido, já está velhinho... mais lúcido que nunca!
E recordei as tardes que passei com ele na sua adega, a contar-me histórias de como faziam a apanha da uva e a tratavam no lagar na época das vindimas "no seu tempo"... e porque é que, se dali ouvimos o comboio apitar, é porque no dia seguinte vai estar bom tempo... e porque é que se o céu está daquela cor, o dia amanhã vai estar bom, mais seguro que os boletins meteorológicos!
E muitas mais coisas...

Outra ocasião, foi este Verão na Festa da Geografia em Mirandela. Sempre que eu via um professor e me lembrava do que ele disse, das coisas que ele contava, e da história que perpassava por detrás dos seus olhos, me vinham as lágrimas aos meus...
Já não é propriamente novo, tem cabelos brancos, gestos mais cautelosos e fala devagar.
Mas mexia comigo. O seu conhecimento, a sua sabedoria, a sua experiência de vida que lhe grita dos olhos!
Ele limitava-se a perguntar "Então tudo bem? Está a gostar da festa?"
Eu assentia, com um sorriso quase a brotar lágrimas. Até me apetecia falar mais com ele e desenvolver conversa, mas não conseguia... sentia-me reduzida à minha insignificância, comparando com a imponente biblioteca que trespassava nos seus olhos...

...

E tu, trocavas a tua beleza física pela experiência?

16 outubro 2007

Um dia normal...

Há dias em que nos irritamos um pouco mais... e apesar de todas as juras e promessas de que neste novo ano iríamos fazer com que tudo corresse bem, há sempre atritos pelo meio que nos fazem pensar que há quem nos queira, inconscientemente, estragar os planos... pois o que prometemos, foi a nós mesmos, sem vincular outrém...
No entanto, e apesar de saber que há coisas belas na vida que vão para além do trabalho, e eu sou das pessoas q reconhece isso muito veementemente... o trabalho (ou o estudo), se o amarmos, faz igualmente parte dessas coisas boas da vida... e q poderemos ter prazer ao fazê-las se nos entregarmos de alma e coração...
Porque estou num curso fascinante! Porque estou num curso lindo! Maravilhoso! Geografia!
Porque estou num curso para o qual decidi terminantemente ir, quando apenas tinha 9 anos de idade...
Quando numa aula de História e Geografia de Portugal no 5º ano, eu abri o livro e vi, ocupando a página inteira em início de capítulo, um simples mapa com os rios de Portugal... e disse para mim mesma: "É mesmo isto que eu gosto!"
Como me lembro tão bem desse momento... é como se ainda o estivesse a viver...
Lá atrás, na última carteira da sala, baloiçando-me na cadeira, enquanto a algazarra da turma não cessava... eu tinha feito a minha escolha!
Porque os capítulos da História de Portugal arrastavam-se longamente... e os de Geografia evaporavam-se como o fumo ao vento!
Porque há coisas que não se explicam... e mesmo com o passar do tp, 8 anos depois, fui fiel à minha decisão... e hoje estou no 4º ano do curso de Geografia.
E não me via noutro senão neste!
É como se tivesse alcançado um grau de felicidade extrema no campo do estudo/trabalho, que se traduz nas restantes áreas da vida... porque nós somos um td, e não partes desconjuntadas, em q uma está bem independentemente da outra... há que haver um equilíbrio... uma sintonia harmoniosa...
Porque eu gosto de observar a natureza e as cidades, olhar atentamente as coisas que me rodeiam, as pessoas, as paisagens, o céu, o sol, o mar e reflectir sobre tudo isso e muito mais...
Porque o curso de geografia para além de me ter permitido conhecer pessoas com gostos afins aos meus... também me "levou" a conhecer muitos sítios, que provavelmente nunca teria "visitado".
Desde o conhecimento aprofundado dos sítios que já me eram familiares, até outros em q nunca tinha estado.
De entre mais de 20 trabalhos que já fiz até agora e, todos maravilhosamente geográficos, poderia destacar, embora seja uma tarefa difícil e injusta, os q mais gostei e mais me fizeram sentir que Geografia é o meu curso...

- O estudo da Rua da Junqueira, antes nunca tinha reparado bem na história e maravilhosas descrições de que esta rua é alvo e, do contexto que a envolve aos mais variados níveis...
- A ida à Serra da Arrábida, que me permitiu ver paisagens lindas, repensar na beleza do nosso país e na sua génese mais q milenar...
- O estudo das Docas, que me fascinou não só pelo local, como pelo próprio assunto em si... provavelmente seria eleita a minha predilecta!
- A proposta de uma Plataforma para o Cais do Sodré, que à partida me pareceu algo bizarro, mas que acabou por se revelar uma forma de expandir a nossa imaginação e dar largas à criatividade, num espaço da cidade q infelizmente acabou por se tornar de passagem.
- Um estudo sobre o Aeroporto de Lisboa, que "fez voar" os meus horizontes...
- A análise do ambiente físico urbano do bairro dos Olivais Sul em Lisboa, que co deslumbramento do espaço, as idas lá transformaram-se mais em agradáveis passeios do que propriamente em trabalho.
- A proposta de um novo equipamento para as freguesias das Mercês e Santa Catarina, o que me permitiu deambular por uma parte da cidade, algo recatada, mas que esconde encantos a cada esquina...

Porque os trabalhos não dão só trabalho... também dão prazer! Se gostarmos do que fazemos, esse é o 1º passo para que eles não se tornem aborrecidos...
Porque as alegrias que a geografia me tem vindo a proporcionar, repercutem-se igualmente no meu dia-a-dia... tornando-o mais agradável, mais completo, mais harmonioso, mais perceptível ao meu entendimento, tornando-se por isso algo a que se recorre e, não do qual se foge...
Porque o trabalho, se o amarmos, compreendermos e nos dedicarmos a ele... não teremos de trabalhar um único dia da nossa vida... e ele é-nos "fiel" na sua forma de ser e no modo como a ele sempre podemos recorrer quando estams menos bem noutros campos da vida...

Por isso, mesmo que haja alguém que tente estragar o dia a alguém cheio de boas intenções, o trabalho nem sempre é um mau refúgio... aliás, se o amamos, às vezes é a melhor coisa na qual nos podemos esconder...

14 outubro 2007

Deambulações mentais no terraço...

Os dias passam... e com eles fica o que fizémos... ou deixámos de fazer... por inúmeras razões... ou simplesmente porque o dia passou depressa demais e não nos deu tempo de aproveitar a fazer as coisas que mais gostamos...
Hoje tive um dia assim... aliás, os últimos dias têm sido todos assim...
Têm estado uns dias lindos... um sol maravilhoso, céu limpo e sem nuvens, uma brisa doce e suave, e um calorzinho morno que tão bem aconxega este Outono primaveril...
Nestes dias, apetece fazer tudo... e o tempo não chega...
O ambiente é propício a todas as coisas agradáveis e que nos dão prazer: ler, escrever, passear, conversar, pensar, reflectir... e muitas mais...
Mas como os dias não esticam, parece sempre que houve alguma coisa que faltou fazer... e que afinal não se aproveitou tão bem o tempo como o poderíamos ter feito...
Porque estes dias, tão saborosos, tão preciosos, tão deliciosamente curtos se escapam fugazmente como areia entre os dedos...
Apetece acordar cedo e sair à rua cheirar o frio da manhã de Outono. Sentir o fresco da manhã a levitar à nossa volta, e o cheiro a café com leite e pão quente, que envolve a multidão q se acotovela para não chegar tarde ao serviço.
Apetece almoçar fora e observar as pessoas que deambulam num frenesim pela rua, agradecidas por não chover, no seu rebuliço de almoçar qualquer coisa rápido para ainda ter tempo de tratar de assuntos no banco ou, comprar a prenda para a irmã que faz anos hoje...
Apetece passar a tarde nas ruas, cheias de gente a fazer as últimas compras do dia e, sentir o calor do entardecer...
Acabar a tarde a contemplar o pôr do sol no horizonte... e sair à noite para ver as estrelas, ouvir o embater das ondas na praia, e as músicas que animam quem também saiu para aproveitar a maravilhosa noite...
E apesar de 5h da manhã já ser tarde para se estar acordado, para alguém que acordou tão cedo e ainda por cima foi sair com os amigos... há coisas tão maravilhosas como sonhar e que nos fazem apetecer ficar acordado mais um bocadinho... e mais outro, a observar as constelações que nos vigiam lá do alto, na imensidão do infinito...

Hoje, estava eu no meu terraço, a absorver cada bocadinho que faltava para acabar o dia e deparei-me com um dos mais belos fins de tarde outonais que já houvera desde que eu os posso ver...
Um horizonte laranja escondia-se envergonhado por detrás dos montes... e assim se misturava uma típica paisagem dos fins de tarde de Verão com uma doce temperatura de Inverno, ambas envoltas em odores Outonais, onde o cheiro a castanhas já se fazia sentir ao longe...
Lá em baixo, uma ovelha fixava-me longamente, sem se deter no seu olhar... enquanto as outras ignoravam a nossa presença...
Acenei-lhe com a mão.
Ela assentiu e foi embora...

13 outubro 2007

Desabafo de pensamentos...

Há dias em que nos apetece falar... outros somente ouvir e, outros apenas escrever...
Simplesmente há dias em que nos apetece trocar ideias com alguém, nem que seja connosco mesmos, com uma folha de papel ou até mesmo com a maravilhosa paisagem que se depara à nossa frente, no regresso a casa ao fim de mais uma jornada diária...
Aquela necessidade de comunicação, inacta ao ser humano, de falar, expressar pensamentos, sentimentos, emoções, especialmente quando eles mais fervilham no âmago do nosso ser...
E talvez porque às vezes gstaria de partilhar os meus pensamentos com mais pessoas do que realmente faço... nem tanto para elas me ouvirem, mas sim para expressarem a sua opinião acerca do que eu penso... Sim! porque era tão bom se nos entendessem sem que precisássemos de falar...
E é por tudo isto e muito mais (que fica para além do que consigo expressar por palavras), que finalmente me decidi a criar um blog...
Se escrever um livro é à partida algo ambicioso e, de certa forma arriscado, talvez um blog seja um bom princípio para quem almeja desabafar pensamentos que se atravessam na mente como meridianos e paralelos...