26 dezembro 2007

Reencontros...

Não há nada melhor do que uma boa conversa com pessoas que já não estavamos há muito tempo...



" Podemos ficar a conversar o resto da noite aqui dentro do carro ? "

" Sim, podemos... "





13 dezembro 2007

Certezas e incertezas...

Ultimamente tenho andado pensativa... não é que antes não andasse, mas agora parece que tenho os pensamentos sempre direccionados para uma coisa só. E não consigo estar muito tempo sem pensar nisso, porque de certa forma até não tenho assim tanto tempo para me decidir…
Até agora sempre tive um percurso de vida bastante encaminhado, sempre soube o que ia fazer a seguir, não no dia seguinte, mas para o ano e para o outro…
Até agora sempre tive certezas acerca do que queria para o ano que se seguia.
Mas há uma altura na vida em que isso acaba, em que temos de ser nós a mexer-nos.
Aquela altura da vida em que temos de tomar decisões, e em que finalmente saímos do berço.
Crescemos.

“O que vou fazer para o ano?”
Parece uma pergunta simples, no entanto, a resposta não é nada fácil.
Nada mesmo.
Várias coisas me vêm à cabeça, umas mais aliciantes que outras, mas todas com vantagens e desvantagens.
E pesar esses aspectos positivos e negativos de cada opção não é propriamente uma tarefa fácil, porque depois cada um se conjuga com outros factores externos e internos… e… e…
E entretanto a minha cabeça começa a andar a mil à hora, e então decido parar de pensar no assunto, para não me afligir mais.
Mas passado um bocado volta-me a assolar à cabeça “O que vou fazer para o ano?”…
E assim tenho passado os dias…

Já falei com várias pessoas… umas sem dúvida, incitam-me a optar por uma coisa, outras defendem veementemente outra… e no meio estou eu a balançar…
Se calhar até existem mais opções dentro do ramo em que estou, provavelmente muitas me hão de escapar da lista que tenho como as que posso tomar. Penso que a Geografia, e mais concretamente o Urbanismo, são áreas tão vastas e podem ser tão bem aproveitadas e exploradas, que dada a necessidade que o país tem de pessoas com formação nestes campos, só é pena a conjuntura estar no estado em que a vemos!
Queixam-se de que os jovens não têm iniciativa, pudera! Quando a têm cortam-lhes as pernas!
Não havemos de ficar desmotivados assim! Qual é o entusiasmo de um aluno que entra para um curso, sabendo logo à partida que dificilmente arranjará emprego?
Mesmo assim, penso que muitos de nós ainda são bastante entusiastas, inovadores, optimistas e com iniciativa… mesmo com tudo o que existe, e com as condições que se lhes deparam.
Mas voltando atrás… não dispersando… qualquer dia continuo este à parte que comecei…
Há alturas na vida em que a pessoa sente que já devia ter feito certas coisas… e que pensa se agora não será já demasiado tarde para elas… Mas pensa igualmente “Hey! Ainda és tão nova, tens a vida pela frente!”
Por outro lado vejo pessoas que arriscaram na vida e que nem por isso se estão a dar mal… que continuam saboreando fluidamente os dias e o que de melhor a vida tem para lhes oferecer… logo porquê haveria eu de me dar mal?
Porquê não ir? Mas para onde? Com quem? Sozinha?
Tenho alguma coisa a perder?
Porquê não tentar?

E é por estas certezas, dúvidas, contradições, incertezas… que eu tenho andado…

08 dezembro 2007

Beyond the World...



Running through the monsoon
Beyond the world
To the end of time
Where the rain won't hurt
Fighting the storm
Into the blue
And when I loose myself I think of you…
Together we'll be running somewhere new
And nothing can hold me back from you
Through the monsoon…
Just me and you…


A half moon's fading from my sight
I see a vision in its light
But now it's gone and left me so alone
I know I have to find you now
Can hear your name, I don't know how
Why can't we make this darkness feel like home?

Tokio Hotel "Monsoon"


07 dezembro 2007

Um lugar ao Sol...

Há pessoas que nos levam além de nós… além daquilo que apenas pensamos que somos… fascinando-nos pela sua simples e leve forma de ser…
Fazem-nos ver coisas que nunca antes vimos, alargando os nossos horizontes e perspectivas de vida, e é por isso que sentimos que com elas podemos aprender muita coisa… mais do que imaginamos…
Lembram-se de pequenas coisas e pormenores, que pensámos já se terem esquecido... e trazem-nos sempre um radiante sorriso e ofuscante olhar a cada “Olá” que nos oferecem…
São desprendidas e independentes, mas ao mesmo tempo emanam vibrações calorosas e um sentimento de conforto ternurento que perpassa no seu olhar…
E embora hajam algumas barreiras que nos separam, no fundo, para além dessas barreiras, somos iguais a essas pessoas… e temos muita coisa em comum…
Talvez seja por isso que essas pessoas nos levam além de nós… além daquilo que apenas pensamos que somos…

01 dezembro 2007

Hey there Delilah...


Hey there Delilah

What's it like in New York City?
I'm a thousand miles away
But girl, tonight you look so pretty
Yes you do...
Times Square can't shine as bright as you
I swear it's true

Hey there Delilah
Don't you worry about the distance
I'm right there if you get lonely
Give this song another listen
Close your eyes...
Listen to my voice, it's my disguise
I'm by your side

Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
What you do to me...

Hey there Delilah
I know times are getting hard
But just believe me, girl
Someday I'll pay the bills with this guitar
We'll have it good
We'll have the life we knew we would
My word is good

Hey there Delilah
I've got so much left to say
If every simple song
I wrote to you
Would take your breath away
I'd write it all...
Even more in love with me you'd fall
We'd have it all

Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me

A thousand miles seems pretty far
But they've got planes and trains and cars
I'd walk to you if I had no other way
Our friends would all make fun of us
and we'll just laugh along because we know
That none of them have felt this way
Delilah I can promise you
That by the time we get through
The world will never ever be the same
And you're to blame

Hey there Delilah
You be good and don't you miss me
Two more years and you'll be done with school
And I'll be making history like I do
You'll know it's all because of you
We can do whatever we want to
Hey there Delilah here's to you
This one's for you...

Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
What you do to me.

29 novembro 2007

Geografia...

Ainda estou comovida. Hoje foi a homenagem a um grande geógrafo português, o professor Jorge Gaspar.
A homenagem teve lugar na reitoria da Universidade de Lisboa e estendeu-se durante todo o dia.
Contou com a participação de muitas pessoas: alunos, admiradores, geógrafos de Portugal, do estrangeiro, representantes políticos, entre outros.
Enfim, o público era variadíssimo! Desde os mais novos aos mais velhos… todos juntos com o objectivo de prestar homenagem a alguém que tem vindo a deixar ao longo da sua vida, um grande, precioso e inigualável contributo para a Geografia.
E ao longo do dia a cerimónia incluiu vários discursos, exposições, apresentações, muitos agradecimentos, reconhecimentos, gratidões, etc. que todos, de uma forma ou outra, no fundo dirigiram ao professor Jorge Gaspar.
E apesar de ter gostado bastante de todos os discursos, o que mais me comoveu foi, sem dúvida, o agradecimento final do homenageado Professor Jorge Gaspar.
Apesar de apenas ter sido aluna dele no primeiro ano do meu curso, no fundo sempre senti que ele era daquelas pessoas com quem apetece falar durante horas seguidas, discutir assuntos, conversar sobre as mais variadas temáticas.
Logo desde o princípio, a forma como ele falava e expunha as aulas, já demonstrava a sua grande sabedoria… e já aí eu ficara fascinada com o seu conhecimento…
E hoje, durante o seu discurso final de agradecimento, que durou aproximadamente duas horas e meia, ele captou-me a atenção de uma forma que poucas pessoas conseguem fazer.
O modo como falou e o que disse, certamente não foram indiferentes a ninguém.
Fez um brevíssimo resumo da sua vida, da sua carreira, das várias etapas do seu amor pela geografia, a sua dedicação à mesma e a fidelidade que sempre lhe teve.
Ao ouvi-lo senti que a vida dele é muito mais do que aquilo que eu alguma vez imaginara. Admiro profundamente o seu conhecimento, a sua sabedoria, experiência, a pessoa que ele é.
Surpreendeu-me!
A cada palavra que proferia…
É daquelas pessoas para as quais olhamos e pensamos “Ali vai um poço de sabedoria…”
Os relatos do seu fantástico percurso de vida, das viagens que realizou, dos amigos que fez, dos afectos que cultivou, das experiências por que passou… e muito, muito mais.
Sem dúvida um exemplo a seguir.
Um exemplo para todos nós. Para mim, uma referência.
Uma vida de geógrafo à qual apetece seguir os passos. A qual dá vontade de seguir as passadas, de lavrar com orgulho aquilo que realmente amamos, desbravando todos os obstáculos e transformando-os em degraus para subir.
O seu discurso fez-me desejar tê-lo conhecido desde sempre, partilhar as suas experiências, contemplar a sua sabedoria e, acima de tudo, aprender com ele.
Ele reavivou o amor que sinto pela geografia, pelo meu curso e, reafirmar o orgulho que tenho naquilo que realmente gosto.
Ensinou que conseguimos o que querermos se arriscarmos. O que importa é não estagnar, e aceitar desafios!
É impossível descrever tudo aquilo que senti ao ouvir as suas palavras, pois parece sempre que, por mais que se tente, nunca se consegue absorver tudo o que foi dito.
Faltam-me as palavras, apenas me sobra o grande apreço que tenho pelo professor Jorge Gaspar e o amor que sinto pela geografia.
Só sei que, há momentos e pessoas que nos fazem sentir bem connosco mesmos, orgulhosos e felizes por aquilo que somos e amamos e, acima de tudo, que nos fazem sentir que estamos no caminho certo…

28 novembro 2007

Dias perfeitos!

Há dias em que nos sentimos a pairar no ar... Eufóricos! Felizes!
Porque apesar de tão simples e cheios de pequenas coisas que os dias podem ser, eles preencheram-nos o coração de alguma forma... Seja pelas pessoas com quem estivemos, o que conversámos, os sítios onde fomos, o que visitámos, as paisagens que vimos, as fotografias que tirámos... E no fundo sentimo-nos assim bem, por tudo isso junto... Porque há momentos para tudo. E porque há alturas para estarmos com quem gostamos e partilharmos com eles um bocadinho daquilo que somos.
E foi o que aconteceu entre ontem e hoje...
Apesar de ter sido pouquíssimo tempo, foi o suficiente para ser inesquecível!
Pela companhia, pelos sítios lindos em que estivemos, pelas conversas e brincadeiras, que de certa forma nos aproximam e aquecem o coração da alma.
O nosso país é lindo. Portugal é um país com paisagens esplêndidas. Não é que eu não soubesse, mas cada vez mais tenho certeza disso. É um país relativamente pequeno e, no entanto, tem paisagens tão diferentes, com contrastes tão marcantes e uma beleza imponente.
E ontem e hoje estivemos em mais uns desses muitos maravilhosos sítios que existem em Portugal... não é preciso ir muito longe... não se demora muito tempo... não é preciso umas férias para ir... apenas é preciso saber apreciar a natureza que nos rodeia, amar as paisagens e viver a geografia!

25 novembro 2007

Coisas que ficam...

Já foi há algum tempo, mas lembro-me como se fosse hoje.
Aquele dia que até estava a correr especialmente bem…
Mas pessoas com as quais até nos damos bem, tem atitudes e dizem coisas que no fundo nos magoam, mesmo que não tenha sido com grande intenção ou maldade. Mas sentimos que no fundo, há ali qualquer coisa que na realidade nunca nos uniu muito e que se transparece nessas palavras…
Essas indirectas, essas pequenas frases e atitudes que marcam, parecendo que não, vão levando progressivamente a um maior afastamento…
E passado um tempo as pessoas perguntam “Porquê?”, e nem se apercebem que foi devido às atitudes que tomaram… não olham para si próprias, achando sempre que a culpa é exterior a elas.
No entanto, continuam a fazer e a dizer esse tipo de coisas… e não se sentem minimamente tocadas.
Nem pensam duas vezes antes da próxima vez que falam… porque por mais que tentemos fazer ver que aquilo que nos disseram nos fere, continuam impávidos e serenos sem entender o quanto realmente magoam…

24 novembro 2007

O Verão já acabou…

O Verão já acabou… e os verdadeiros dias de Outono já começaram…
Apesar de o Verão até se ter prolongado, e os dias de sol e calor terem durado mais do que o habitual… quando eles vão embora, sentimos sempre uma certa nostalgia… como se mesmo assim, ainda tivessem durado pouco.
O sol e o bom tempo estenderam-se até Novembro, pouco a pouco, deslizando por mais um dia e mais outro… que mais pareciam ir durar para sempre…
Mas bruscamente foram traídos por vento e uma temperatura que desceu rapidamente, da qual os mais apaixonados pelo calor não estavam à espera.
Os dias de Outono chegaram, ao fim de algum tempo, e já atrasados. Mas chegaram. Regressaram em força! Vigorosos na sua afirmação!
Mas com eles também outras coisas boas vieram… É nestes dias mais frios em que apetece ficar na caminha de manhã a gozar o conforto do quentinho saboroso dos lençóis.
Sabe bem estar no sofá coberto com uma manta, em frente à lareira a beber chá quente e a ler um livro.
E mesmo os dias de chuva, apesar de às vezes incomodativos, podem-nos trazer belos passeios a dois debaixo de um chapéu…
É uma altura do ano em que sabe bem estar confortável e no quentinho, no abrigado do agreste.
São dias propícios ao encontro com as pessoas com quem gostamos de conversar… o frio e o vento que se fazem sentir lá fora, remetem para um ambiente acolhedor, com um chá e conversas que aquecem a alma. Estamos mais virados para o interior, para o diálogo e valorização da companhia, dos carinhos, dos afectos.

E assim foi o meu dia. Um daqueles dias longos em que já se fez tanta coisa que parece que já duram há anos.
Apesar de chuvoso, logo de manhã me deparei com um maravilhoso arco-íris que me esperava à janela.
E apesar de ter ido estagiar para o local habitual às quartas-feiras, pelo facto de até gostar do trabalho a desenvolver, e de ter sido diferente, tanto ao nível do espaço como das pessoas… fez com que eu começasse a ver as coisas de outro ponto de vista, a apreciar a sua verdadeira essência, a beleza que existe escondida por detrás delas… E mais importante ainda, o facto de a poder partilhar com alguém que divide os mesmos gostos e interesses que eu… E de esse alguém estar sempre ali… e aqui dentro…

E mesmo num final de tarde, tal como aconteceu logo ao começar o dia, brota ao longe no meio da multidão de rostos desconhecidos, um sorriso que nos é familiar… e que no meio de tantos pelos quais passamos, é apenas aquele que nos aquece o coração…

23 novembro 2007

Naqueles dias...

A vida passa depressa. Ou se calhar somos nós que passamos por ela depressa demais.
Uns chegam cá, passam pela vida e vão-se embora sem deixar rasto, nem revolta do muito ou pouco tempo que durou ou poderia ter durado, a sua estadia por cá.
Outros chegam e depois de terem ido, acham que se foram embora cedo demais, pois certamente teriam muito mais para aproveitar. Embora durante a sua estadia aqui não tenham feito muito mais para que isso acontecesse.
E ainda há aqueles que chegaram e tentam a cada minuto aproveitar aquilo que a vida tem de bom para lhes oferecer. Sugam sofregamente cada chance, cada oportunidade para serem felizes, abrem todas as portas que se lhes atravessam em busca da diversão e do verdadeiro prazer de viver, não se contentando com pouco. São lutadores ferozes nas suas convicções de que o tempo por cá é pouco, e tem de ser bem regido e orientado para dele ser tirado todo o proveito.
Todos nós deveríamos de certa forma, enquadrar-nos nesta última categoria e não permanecer apáticos perante a vida a passar-nos à frente dos olhos, como um comboio que não espera. E que nem quando ele pára para entrarmos, nos damos ao trabalho de o fazer, ficando na plataforma sempre a pensar em qual deveríamos mesmo entrar.

Há dias que nos fazem pensar nestas coisas e no quanto levamos connosco desta vida.
Muito? Pouco? Menos do que queríamos realmente?
Sintomas desse tipo de sentimento da passagem do tempo acontecem naqueles dias…

… naqueles dias em que sentimos que foram um grande dia! E que os aproveitámos mesmo bem até ao fim. Que tivemos boas conversas com pessoas que até vemos regularmente, ou todos os dias, mas que naquele dia soube especialmente bem!

… naqueles dias em que revemos várias pessoas juntas que gostamos e que já há muito que não as víamos, recordando momentos bons e pondo a conversa em dia. Estes dias tendem a tornar-se cada vez mais raros devido à vida que cada um segue no seu caminho individual, e que normalmente não se coaduna com a tentativa de manter as amizades antigas.

… naqueles dias em que vemos pessoas que até costumamos ver regularmente, mas por acaso daquela vez já não as víamos há muito, e parece que temos os acontecimentos de um ano para contar de enfiada!

… naqueles dias em que revemos aquela pessoa que já não víamos desde o ano passado, e em poucas horas fazemos um resumo e balanço de mais um ano que passou… e que para o ano voltaremos a fazer o mesmo…

… naqueles dias em que nos apetece partilhar os nossos pensamentos e experiências com todos! Dias que estamos eufóricos e nos apetece espalhar essa alegria com quem encontramos!

… naqueles dias em que pensamos se as nossas escolhas de vida foram realmente as mais acertadas, ponderando as vantagens e desvantagens que acarretaram… Ao fim de quatro anos penso, será que a opção X teria sido melhor que a Y? Será que alguma coisa tinha sido diferente? Será que tudo teria tomado o mesmo rumo?

… naqueles dias em que sentimos que estamos realmente a fazer uma coisa que gostamos, mas que a velocidade que exigem que façamos as coisas, nos faz sentir oprimidos e pensar se isso realmente compensa no final… E qual a necessidade de tanta pressa? Se depois em outras coisas se demora tanto tempo… Qual a necessidade de relegarmos para segundo plano coisas que também gostamos de fazer, e que nos dão prazer, em prol do cumprimento de horários? Isso é qualidade de vida?

… naqueles dias que souberam mesmo bem, e que por isso, ainda nos fazem mais nostálgicos do sentido da passagem do tempo… pois para além de já estarmos com saudades de tantas coisas boas que aconteceram, os dias bons ainda reforçam mais esse sentimento… parece que de repente tudo assola à memória…

… naqueles dias em que sentimos que as coisas estão a passar depressa demais, e que quase não os conseguimos absorver por tanta coisa que nos rodeia, que quase nos apetece fazer um registo de tudo aquilo, para depois lá podermos voltar quando quisermos.
Mas o verdadeiro registo de pensamentos é quando os temos. E apesar de os querermos registar quando os sentimos, e tal como os sentimos, quando o fazemos, nesse registo já não vai transparecer a mesma intensidade com que os sentimos pela primeira vez…

14 novembro 2007

Silêncio...

Silêncio



Como é bom ouvir o silêncio.
Escutá-lo, apreciá-lo, saboreá-lo.
Às vezes é pesado e, talvez por isso, as pessoas extrapolem esse sentimento para todas as outras situações do dia-a-dia.
Hoje em dia é difícil encontrar o silêncio, seja onde for.
É difícil arranjar um espaço onde nos possamos encontrar connosco mesmos, mergulhados na ausência do mais pequeno ruído.
Estará o silêncio em decadência?
Hoje, a qualquer lado que vamos, existe sempre barulho.
Ou é a constante, asquerosa e barulhenta publicidade na televisão, ou nas lojas a música que está sempre presente, é raro o café em que se consiga ler algo concentrado, nos bares em que é suposto conversar e falar normalmente (afinal é um local de encontro e convívio), tem de se gritar porque é quase impossível ouvir alguém com a música gritante que está por lá… já não referindo que no dia seguinte não nos aguentamos de tão roucos que ficamos. E nas discotecas então já nem se fala.
Música é uma coisa. Ruído é outra. E discoteca já fica para além disso. Já nem aqui está contemplado.
Cada vez menos se ouve o silêncio e o prazer que ele proporciona à reflexão e ao melhor apreciar das pequenas coisas.
Tem sempre de haver barulho, qualquer coisa a encher e preencher o silêncio… é raro o sítio onde vamos em que ele esteja presente.
Até mesmo quando vamos de férias, no hotel paradisíaco nos confins do mundo, naquela ilha isolada, há a saga da ruidosa animação de hotel, como se as pessoas só se entretivessem com alguma coisa que as ocupe.
Nem de férias que nos precisamos de isolar de tudo, nos deixam fazê-lo.
Esta necessidade de encher o espaço do silêncio reflecte a ideia geral de que as pessoas o consideram vazio.
O que não é verdade.
O silêncio pode na verdade dizer muita coisa, apenas há que o compreender, apreciar e aproveitar.
O silêncio propicia o pensamento, incita a escrita, dá ideias. É a melhor companhia da solidão, o que não significa as pessoas se tornarem anti-sociais apenas por gostarem de estar sós.
Simplesmente nos apetece estar sós, porque sabe bem, estar na nossa companhia. A pensar, divagar, escrever… às vezes a tomar decisões importantes, delinear coisas para o dia-a-dia ou para a vida, reflectir em estratégias de como enfrentar os nossos problemas, pensar nos nossos medos para o futuro, oportunidades, receios… desfazer aquelas tantas tempestades que fazemos num copo de água.
Às vezes apetece estar longe de tudo e de todos para pormos pensamentos em ordem, estabelecer prioridades, colmatar ideias.
Faz sempre bem. Seja onde for.
Em sítios onde já passámos muita da nossa vida quando éramos crianças, talvez porque esses sítios nos trazem memórias às vezes esquecidas pela azáfama do dia-a-dia.
Ou até em espaços que gostamos de estar, porque simplesmente nos agradam.
Sítios onde já trabalhámos, ou estudamos, ou fizémos trabalhos do curso, os quais nos marcaram.
Sítios onde já fomos passear ou passar férias… ou até mesmo aqueles que não démos muito valor quando lá estivémos, mas que quando nos vamos embora sentimos a falta e temos saudades. E quando lá voltamos da segunda vez, recordamos tudo aquilo com um carinho especial.
Ou até mesmo sítios que gostamos de ir regularmente e o fazemos porque simplesmente sabe bem estar ali, mesmo que ali vamos muitas vezes.
Simplesmente porque sabe bem.
A contemplar o rio, ou o mar, num café, ou numa esplanada que gostamos particularmente.
É sempre bom fazer uma pausa para estar connosco mesmos.

13 novembro 2007

Semanas...

Há semanas que nos marcam. Semanas que apenas com o habitual desenrolar das actividades quotidianas e o normal devir da vida, nos fazem pensar e reflectir em certas coisas, desligarmo-nos de outras, dar mais importância a determinados aspectos com que nos deparamos e observar o estado daquilo que nos rodeia.
Será já um prenúncio da aproximação dos ciclos de Saturno?

Semanas normais. Mas cheias. Cheias de muita coisa. Não propriamente afazeres, mas cheias de emoções, boas conversas, passeios, pensamentos, risos, alegrias, simples constatações e reencontros.
Semanas que pelo conjunto das diversas coisas que aconteceram até àquele momento nos fazem pensar na vida, no pouco ou muito que já vivemos… Mas sempre com a mesma sensação: de que o tempo se está a escapar das nossas mãos como areia por entre os dedos.
O que nos leva a pensar que devemos ainda mais aproveitar cada momento que vivemos. Cada segundo. Mesmo o tempo que dormimos. Porque enquanto dormimos, sonhamos. E sonhar é viver.
Mas mais importante que toda esta teoria é pô-la realmente em prática!
De nada nos vale saber que temos de aproveitar a vida ao máximo se quando estamos perante uma oportunidade de o fazer, viramos as costas! Há que reconhecer as oportunidades com que nos deparamos, e não simplesmente ignorá-las. “Então? E a teoria? Esqueceste-te dela quando mais precisas? Depois não te queixes… Mais vale admitir que não a aplicas mesmo.”

Mas não fugindo ao assunto anterior.
Há semanas que nos apercebemos de como estamos perante os amigos, o trabalho, a família, as nossas paixões… perante o que nos rodeia, perante a vida.
Semanas que têm um balanço muito positivo. Por nada em especial concretamente, mas sim pelo conjunto de todas essas pequenas coisas.
Um balanço muito positivo nem que seja pela experiência que adquirimos, conversas que tivémos, decisões que tomámos, ou mesmo por terminarmos a semana num sábado à noite muito descontraidamente a sorrir e dançar, sem preocupações, revendo pessoas que já não víamos há anos, e que durante tanto tempo estiveram ao nosso lado todos os dias.
Semanas que têm sabido bem. Com o grande aliado Sol de Novembro. Semanas que tem contribuído para a minha felicidade, caixinha de dúvidas, quadro de afectos, paixões, etc.
Semanas que têm contribuído para aquilo a que um dia vou chamar “passado”, e hoje chamo “presente”.

11 novembro 2007

Conversas de café...

E os dias continuam tão bonitos… lindos… nem parece que estamos no Outono… sol, calor, céu limpo, nem sequer corre uma aragem… estamos em Novembro… Este ano o tempo esqueceu-se do vento e da chuva…
Os dias continuam maravilhosos… dá vontade de passear pelas ruas, avenidas, apreciar a paisagem, ver o rio, conversar, aproveitar as coisas boas da vida… com um leve toque Outonal…
E mais uma vez a sexta-feira esteve linda… a tarde então adornou-se maravilhosamente.
A Baixa de Lisboa resplandecia no seu auge… as tardes de sexta-feira têm sido tão lindas e saborosas, que às vezes só queria que durassem para sempre…
Aquele rebuliço de pessoas nos Restauradores, os passos atarefados do Rossio, o frenesim dos autocarros na Rua Áurea a ver qual chega primeiro ao terminal… o cheiro a castanhas numa Lisboa outonal com turistas ainda veraneantes, numa agitação de dias de Inverno onde já começa a emergir os enfeites e espírito natalício…

Uma Lisboa mesclada. Uma Lisboa com uma saborosa mistura de gente. Onde mais uma vez de entre cada beco e recanto saltava o deslumbre dos edifícios, ainda a reluzir do sol que se punha, numa perspectiva deflectida, com a topografia da cidade a embelezar e realçar os seus contrastes.

E o cafézinho da esquina ali estava mais uma vez. Esperando-nos para o lanche, com croissants de chocolate e galões quentinhos que curiosos pediam um bocadinho de conversa, já sabendo ali os assuntos fluírem sempre agradável e facilmente.
Porque já não é a primeira vez que ali vamos. E porque sempre que ali vamos, ao sair sinto-me renovada e cheia de novas ideias, mais madura e pronta para enfrentar os dias que aí se avizinham e os meses que ainda estão sob o nevoeiro.
Como pode um lugar tão simples, num pequeno recanto a avistar o delicioso declive da Calçada Nova de São Francisco, dar um toque tão especial às conversas…

Ao voltar, o Rossio já reluzia sobre o céu escuro e as estrelas que lá no alto cintilavam… e ao longe ouvia-se os Terra Inca, uma maravilhosa sonoridade índia oriunda do Equador, que alegrava aquele espaço, conferindo-lhe um ar tão multicultural e revelando como o mundo está tão próximo.
Basta abrirmos os nossos horizontes.



Quando subi para o autocarro nos Restauradores, ali estava ele… Uma semana depois, o mesmo lugar que eu ocupara na sexta-feira anterior, ali estava.
Vazio.
À minha espera.
Confiante de que alguém aproveitaria a paisagem que ele proporcionava.
Não o desiludi.




E passados já alguns minutos e quarteirões, do meu lado esquerdo no imponente Jardim do Campo Grande, avistei o parque infantil, onde logo no início daquela semana nos detivémos por uns momentos, sob o sol quente do meio-dia, a aproveitar as coisas boas da vida e reviver a infância sempre presente.
Agora ali estava ele, no escuro, sozinho.
Rodeado pela frondosidade das copas das árvores que lhe metiam medo…

05 novembro 2007

Dias lindos...

Há dias especialmente bonitos… lindos!
Ou então é a nossa predisposição prévia para os apreciar, o que nos permite contemplar as coisas com um maior apreço, afeição, carinho, amor…
Há dias que vale a pena acordar cedo! Sentir o cheiro a frio da manhã fresca, misturado com o solinho morno acabado de nascer, que nos aquece o rosto, ainda aturdido do sono e da claridade ofuscante…
E apesar de logo de manhã cedo ter de ir fazer trabalho, isso nem sempre se constitui como algo aborrecido, desagradável ou impeditivo de passar uma bonita manhã e uns belos momentos.
Especialmente se gostamos daquilo que fazemos, se amamos o que estudamos e, aquilo a que nos dedicamos, o fizermos com afeição… o trabalho torna-se algo muito agradável…
E como tal, é igualmente fascinante ir trabalhar para sítios que, por mais que ali vamos, nunca nos fartamos. Porque há sempre mais alguma coisa que ficou por descobrir… algum recanto que ficou por ver… algum banquinho em que ainda não nos sentámos a contemplar a paisagem e a conversar…
São coisas simples que acabam por tornar uma bela manhã soalheira no princípio de um dia lindo…
...

E mesmo lá para o fim da tarde, já quando o dia parece findar… há coisas que o fazem ficar ainda mais lindo… encantador…
A companhia de pessoas que realmente gostamos e já não víamos há algum tempo… mas que não importa quanto tempo passou, elas ocupam sempre um lugar especial nas nossas vidas…
Pessoas com as quais podemos rir, chorar, brincar, falar a sério… sermos nós mesmos… e que por mais tempo que passemos com elas, nunca é demais… um pouco mais tempo é sempre bem-vindo e bem saboreado…
As conversas têm sempre um sabor especial… e mesmo quando nos despedimos, sentimos sempre que houve tanta coisa que ficou por dizer…
“Depois temos de combinar outro café!”
...

E o regresso a casa nem sempre precisa de ser aquela correria cega contra os horários dos transportes…
Na verdade, apreciar o trajecto de volta ao lar, numa sexta-feira outonal com o cheiro a castanhas no ar, é das coisas mais doces…
Observar o que nos rodeia, aquele rebuliço de gente no Cais do Sodré a passo apressado, com o intento de ir para casa… a mistura de pessoas…
A hora de ir para casa a cruzar-se com a abertura de bares e restaurantes à beira-rio… cujas luzes já se reflectem no Tejo…
O sentimento de proximidade ao rio, que tanto é factor de união como de distância… evocando sentimentos de tempos imemoriais…
Muitas pessoas, muita agitação, muitos destinos… uma cidade.

...

A primeira e única a entrar… apenas na minha própria companhia durante umas quantas paragens seguintes…
Sozinha no autocarro… apenas eu num longo corredor nu, repleto de bancos vazios…
Pude sentar-me no que quis, escolhendo um que me permitisse uma melhor paisagem durante o trajecto…
Ali encurralada de paisagem na Avenida Ribeira das Naus… de um lado os imponentes edifícios, os jardins e as pequenas esplanadas expunham-se… para o Tejo que do outro lado se erguia na sua calma e serenidade…
Mais uns metros e o Terreiro do Paço abria-se glorioso à vista… iluminado por focos provindos de todos os cantos… observado do alto pelo Castelo... ostentando a estátua que controla os que a rodeiam…
A Rua da Prata, ainda com pessoas que por ali faziam compras, emanava uma luz prateada que ofuscava pela beleza que para ali se fazia sentir…
E após um virar de esquina impõe-se um Rossio atarefado de pessoas…

Muita iluminação… fim de tarde de sexta-feira… corropio para ir para casa… cheiro a castanhas no ar… céu limpo estrelado…
E cada canto escondendo eixos visuais que revelam as maravilhas da cidade… e em cada esquina encontramos deslumbramentos urbanos… numa cidade cheia de pessoas, turistas e vida.

Porque os percursos que fazemos são lindos… isso apenas depende da nossa capacidade de os saber apreciar…
É possível amar as paisagens, sentir o que vemos, perpassar os sentidos da nossa alma… arrepiarmo-nos saborosamente com imagens que se nos deparam à vista…
Porque senti que há alturas em que não consigo desfrutar de toda a paisagem… ela é tão cheia de tanta coisa para ver… que não se consegue absorver tudo o que ela tem para oferecer…
...

Porque há certos sítios que associamos a determinadas alturas do ano… e há outros que associamos sempre, por conseguirmos imaginá-los em diversas situações, em vários ambientes… sempre…

03 novembro 2007

...

Ainda relativamente às pessoas.
São tantas as pessoas quantos os pensamentos que me atravessam a cabeça...
É engraçado observar o fluxo de pessoas. Na rua, nos transportes, nas filas… e a forma como se comportam. Como olham para os objectos ou para outras pessoas.
Tantas vidas que se cruzam todos os dias… umas pelas outras… umas parecidas, outras muito diferentes.
Cada uma com o seu ritmo próprio.
Cada uma seguindo o trajecto do seu próprio destino.
Pessoas cujo dia começa quando já nós estamos a ir para casa.
Pessoas cujo dia começa antes do sol nascer e que todos os dias sentem o cheiro a frio da manhã fresca.
Pessoas com deficiências que superam tudo e nos surpreeendem pela enorme força e vontade de viver que têm!
Pessoas que conhecemos e embora falemos pouco com elas, temos uma certa admiração… sem necessariamente gostar ou, ter curiosidade de as conhecer melhor, ou até mesmo falar mais com elas… apenas contemplá-las.
Pessoas que se calhar nunca repararam em nós, mas nós reparamos nelas… por alguma razão especial, que muitas vezes nem sequer conseguimos explicar.
Será que também acontece o contrário?
Pessoas que por algum motivo nos fazem lembrar outras… colegas antigos ou amigos passados…
Pessoas pelas quais nutrimos uma admiração especial sem nunca termos falado com elas, apenas de observar os seus gestos, atitudes, risos, gostos que têm, espaços comuns que escolhem para estar… na realidade nunca falámos com elas, mas no fundo temos uma imensa curiosidade em as conhecer e de trocar algumas palavras…

02 novembro 2007

Pessoas...

Com quantas pessoas nos cruzamos por dia?
Quantas pessoas vemos ao ir para o trabalho? Ou para casa?
E aquelas que estão mesmo junto a nós nos transportes?
Realmente nunca nos damos bem conta de quantas pessoas nos rodeiam no dia-a-dia.
Por dia, muitas pessoas passam por nós. E muitas das vezes, nós nem sequer damos por elas.
Quantas dessas pessoas que vemos, conhecemos realmente?
E de quantas dessas que encontramos, queríamos realmente ver?
E quantas queríamos ver e elas parece que nunca vão onde nós vamos, ou nunca estão por onde nós passamos…?
Será que agíamos como agimos, se nenhuma das muitas pessoas que todos os dias nos rodeiam estivesse ali? Apesar de quando passamos por elas, as ignoramos a todas…
Às vezes dou-me conta a pensar nisto tudo…
Há dias, quando entrei na farmácia, dirigi-me de imediato à máquina para tirar a senha do atendimento.
E já ia buscar a senha quando um velhote se abeirou de mim e gentilmente me ofereceu a sua senha, porque afinal já não ia precisar dela.
Foi apenas um simples e pequeno gesto e, apesar de eu ter ficado no mesmo lugar que teria ficado se tivesse tirado a minha senha, porque a farmácia estava com pouca gente, apreciei bastante a generosa atitude do senhor.
Por acaso quando entrei vi que alguém estava de saída, mas nem reparei bem quem… alguém…
Tantas vezes que a gente vê alguém… não sabemos bem quem… alguém…
Com quantas pessoas nos cruzamos diariamente e às quais nem sequer vemos a cara… muito menos trocamos um sorriso…
Hoje em dia com a correria cega da vida e, com o lema instaurado do “salve-se quem puder”, estes gestos tendem a ser cada vez mais raros…

01 novembro 2007

Encontrar-se...

Até nem costumo ouvir muita música quando vou a andar na rua… porque prefiro ouvir os sons que me rodeiam.
O som da cidade, do campo, dos passarinhos, o ressoar dos passos das pessoas na calçada. E depois gosto de pensar sobre tudo isso, até mesmo enquanto estou por ali a deambular, vou cheirando e apreciando a vida e tirando algumas ilações para mim mesma.
Mas há dias, por acaso até me apeteceu ouvir música no trajecto para casa. E surpreendi-me que, só passado já algum tempo é que me dei conta que não estava a ligar à música desde o princípio que tinha ligado o aparelho.
E só quando dei conta disso, comecei a prestar atenção à letra… e surpreendi-me uma vez mais…
Tudo o que a música descrevia, eu identificava comigo mesma!
As mesmas atitudes, os mesmos trajectos, os mesmos sentimentos e até mesmo as emoções…
Encontrei-me sem querer!
E a música não era nada demais… aliás, até foi das primeiras vezes que a ouvi.
Mas estremeci por tamanha coincidência.
Encantada? Com medo?
Espantada.
Quantas coisas não devem existir, às quais às vezes nem sequer ligamos quando passam por nós… e que no fundo são tão ao nosso jeito, e nós nem reparamos nelas simplesmente porque não lhes damos importância?
Quantas não seriam as coisas que nós identificaríamos connosco mesmos e melhor compreenderíamos, se apenas lhes déssemos um pouco mais de atenção?

31 outubro 2007

O Miradouro...

Como eu gosto de ir àquele miradouro. Como me sinto ali bem.
É a vista, o cheiro a rio, a ponte imponente sobre o Tejo, a sombra daquela folhagem, a magnífica copa das árvores, a água ainda contemplada pelo Adamastor…
E todas as pessoas que por ali já passaram e as que ali se detém a observar o mesmo que eu.
Mas cada um com a sua interpretação.
Cada um com os seus sentimentos e sensações que os levam a ir ali.
Hoje, amanhã, todos os dias.
Sempre que apetece.
Porque sabe bem estar ali.
Mesmo que não se vá ali fazer nada de especial.
Apenas olhar para a paisagem. Estar na esplanda a contemplá-la ou a conversar.
Dia ou noite. Sentir o que aquele espaço nos transmite. Aproveita-lo. Desfrutá-lo.
Quantas cidades não se orgulhariam de ter também um miradouro como aquele? O que não davam para ter uma vista maravilhosa para um rio, dia e noite, como nós temos?
Temos de nos orgulhar disso!
Existem muitas pessoas que não utilizam este tipo de espaços. Não sabem o prazer que dá saboreá-los, não pensam sequer neles, no que significam, no que para eles simbolizam.
Se calhar, nada.
Para muitos, estes espaços são apenas de passagem, residuais, servindo apenas de elo para outro sítio que querem realmente alcançar. Passam pelo miradouro sem olharem para ele. Sem apreciarem o ambiente envolvente. Nem o olham.
Com medo?
Cegas.
Mas na realidade são capazes de passar uma vida inteira a fazer determinados trajectos sempre iguais. Todos os dias iguais e, nunca apreciarem a verdadeira beleza de cada espaço, e deixar que ele lhes penetre na alma.
Ser capazes de parar e ir ali um bocadinho ver a paisagem, desfrutar do ar que ali se respira.
Mas não. Já é sempre tarde para ficar mais um bocadinho. Já está sempre na hora de ir.
Fica para outro dia.
E assim se deixam de aproveitar belos espaços da cidade.
E assim se adiam as coisas boas da vida…

30 outubro 2007

Viver com calma...

E aqui…
Aqui parece que o tempo parou... o dia passa devagar… muito lentamente diria… e sem pressa, contrastando com a vida no Rossio.
A senhora mais velhota que foi passear o seu cãozinho, sentou-se no banco a ver a tarde passar, enquanto o seu companheiro de estimação a imitava.
Nas ruas passa um carro de vez em quando.
Reina a calma
Dia e noite.
Sem pressa nenhuma.
Dia e noite.
As ovelhas no pasto deleitam-se no maravilhoso fim de tarde enquanto os carneirinhos mais novos saltam no prado sob um solinho dourado de fim de tarde.
O café da Rua de S. João recebe algumas senhoras que foram tomar o seu chá das cinco.
No largo estão algumas pessoas sentadas num banco a apanhar sol.
Um gato vagueia sem direcção nem rumo, olhando-me de esguelha.
Não se ouve vivalma
As árvores, montes e vales despedem-se do sol que agora já só deixou um tom alaranjado no horizonte.
É hora de ir para dentro, já começa a ficar fresco.
Aqui a vida rege-se pelas horas solares.
Todos os dias se repetem, prosseguindo lentamente no seu decurso normal do sol.
Amanhã outro dia igual a este virá. E outro. E outro.
Sem pressa.
Calmamente.
Vamos para dentro.
A noite está a cair.

29 outubro 2007

Espaços…

É engraçado observar como os espaços são tão diferentes, não há nenhum igual a outro. Em sentido nenhum.
Tanto variam de pessoa para pessoa, como em diferentes momentos do dia, ou do ano…
E é curioso pensar que razões levam certas pessoas a se sentirem mais à vontade para preferirem um determinado espaço, em detrimento de outro.
Que factores existem no espaço X, que levam essas pessoas a apropriarem aquele espaço?
E porque é que as características de Y são mais ao gosto de outras?
É engraçado pensar em tudo isso… e mais ainda observar o modo como as pessoas se distribuem pelo espaço e a forma como nele permanecem… descontraídas, tensas, atentas, pensativas… E porquê?
Porque é que o espaço X provoca determinada sensação numa pessoa e, para outra é completamente indiferente?
E por aí adiante…

Deambular é das coisas que mais aprecio fazer… quer seja em cidades (grandes ou pequenas), como em aldeias… ou no campo, ou à beira-mar…
Qualquer sítio tem sempre algo para observar.
Algo que me faz deter para o contemplar.
Qualquer sítio me confere sempre um tipo de sensação diferente, consoante o que sinto, vejo, observo, penso, vivo…
Acima de tudo, sentir o que me perpassa os sentidos e, observar as diferenças e comparar…
Sem qualquer juízo de valor!
Apenas comparar… porque apenas isso revela muito sobre cada sítio.
E é igualmente engraçado e curioso pensar que, sítios que às vezes são tão próximos, podem ser tão diferentes, apenas com o virar da esquina!
E isso deve-se a quê?
Porque nos sentimos tão diferentes de X para Y ?
O que há ali que nos conforta ou desassossega?



Ainda a semana passada aquando uma ida à Baixa Lisboeta, deparei-me com um Rossio que brilhava em todo o seu esplendor!
Emanava o seu vibrante poder de afirmação de tudo aquilo que ele é!
Orgulhando-se da estonteante e resplandecente vida que o atravessava!
Até nem estava sol praticamente, mas tudo conferia uma tonalidade mágica àquele espaço.
O burburinho das pessoas atarefadas de um lado para outro a fazer algumas compras, outras já a ir para casa, todo o movimento e o fluxo que conferiam àquele espaço, em conjunto com o cheiro a castanhas e os pregões que pairavam no ar…
O Rossio era contemplado lá do alto, pela sumptuosa Igreja do Carmo e, pelo olhar vigoroso do Castelo de São Jorge.
Imponentes a perante a azáfama do Rossio, centro de um fervilhar de actividade humana e de um corrupio constante…
Aquela típica imagem do Rossio Lisboeta estava no seu vigor.
De todo o lado despoletavam pessoas apressadas, ao mesmo tempo que os edifícios mantinham a sua calma e as olhavam pávida e serenamente, sem pressa, gozando o facto de estarem ali, mas quase só os turistas ali presentes, os apreciarem.
Esta é realmente uma imagem bastante “normal” do Rossio, afinal seja Inverno ou Verão, dia ou noite, o Rossio está sempre apinhado de pessoas e passos apressado.

Mas de noite não é bem assim… passados uns dias, passei pelo Rossio às cinco da manhã… em plena madrugada.
As diferenças eram mais do que muito evidentes.
Saltavam à vista de qualquer um que por ali não passava.
Não se avistava vivalma!
Todo aquele frenesim puro, havia desaparecido como que por magia.
Interroguei-me onde será que todas aquelas pessoas estariam naquele momento?
O Rossio estava nu.
Desprovido de qualquer vestígio humano.
Nenhum som ressoava na calçada.
Um silêncio gritante.
O Rossio, ali abandonado, nem parecia o mesmo.
O sol reluzente que tanto iluminava graciosamente aquele espaço, cedeu lugar a candeeiros que apenas alcançavam as pedras mais próximas da calçada.
Reinava a paz.
O silêncio.
O Rossio dormia e descansava acordado.
Roçava os céus estrelados.
Numa calma e numa paz que deleitavam qualquer bom apreciador de paisagem.
Tão belo de noite, como de dia…

28 outubro 2007

Memory...

Daylight
See the dew on the sunflower
And a rose that is fading
Roses whither away...
Like the sunflower
I yearn to turn my face to the dawn
I am waiting for the day...


















Midnight
Not a sound from the pavement
Has the moon lost her memory?
She is smiling alone...
In the lamplight
The withered leaves collect at my feet
And the wind begins to moan

Memory
All alone in the moonlight
I can smile at the old days
I was beautiful then...
I remember the time I knew what happiness was
Let the memory live again...

Every streetlamp
Seems to beat a fatalistic warning
Someone mutters
And the streetlamp gutters
And soon it will be morning...

Daylight
I must wait for the sunrise
I must think of a new life
And I musn't give in...
When the dawn comes
Tonight will be a memory too
And a new day will begin...

Burnt out ends of smoky days
The stale cold smell of morning
The streetlamp dies, another night is over
Another day is dawning

Touch me
It's so easy to leave me
All alone with the memory
Of my days in the sun...
If you touch me
You'll understand what happiness is

Look!
A new day has begun...

27 outubro 2007

3 7 9 13 14 17 21

Matemática...
Como eu tenho tantas saudades da matemática…
Fazer matemática, resolver exercícios, embrenhar-me naqueles jogos lógicos de números que saltam de um lado para o outro das equações e, que regulam os eixos cartesianos… e quando eles eram a 3D? O jogo complicava-se tão fascinantemente...!
Por isso, fico sempre bastante incrédula quando falo com pessoas que me dizem que sempre detestaram matemática, porque “aquilo é horrível!”, “é só números! É muito complicado”, “é muito difícil”, “eu detesto matemática! Odeio!”…
Claro que gostos não se discutem, mas na verdade acho que na maior parte dos casos, as pessoas não gostam de matemática, simplesmente porque na realidade não a compreendem. Não a sentem. Não entendem a sua lógica, a forma como podem brincar com ela e, como tão facilmente podem entrar naquele mágico e maravilhoso jogo dos números que, se os dominarmos, fazemos deles o que queremos.
Os números... jamais serão nossos inimigos, mas sim companheiros de diversão e do desvendar de mistérios que se escondem por trás de sinais de soma, subtracção, fracção, raízes, etc…
A matemática… como ela flexibiliza e expande a mente, conferindo-lhe uma enorme elasticidade! Desprende o cérebro e o exercita mais que qualquer outra coisa. Estimula o raciocínio e a rapidez de pensamentos.
Um jogo de números dá um gozo para quem o sabe apreciar… é só ir na “onda”… quem vai, aprecia, brinca, joga, aprende, diverte-se!
Como tenho saudades daqueles problemas matemáticos que me faziam contorcer o cérebro de tantas voltas que eu dava para os resolver e, para sempre concluir no final que, a maior genialidade da mente é atribuída àqueles capazes de inventar e criar exercícios matemáticos.

22 outubro 2007

Felicidade... ?

Há alturas na vida, ou melhor, no ano em que precisava mesmo de um pensatório!
Sim, aquele objecto do Albus Dumbledore no qual ele deposita os pensamentos para os tirar da cabeça quando muita coisa o atormenta e mais tarde voltar a pegar quando tiver mais folgado, de forma a não lhe criarem muita confusão ao mesmo tempo.
Isto porque, para além de à medida que fui amadurecendo e ter vindo a pensar cada vez mais nas coisas e, sobre tudo o que me rodeia, também há épocas no ano, especialmente propícias a que isso se intensifique de uma forma mais exacerbada.
É desde meados de Abril até a meio de Julho, das doces manhãs primaveris até às tardes com sabor a Verão que anunciam a chegada das férias, que todo o ambiente é mais propício a passear, aproveitar os dias em que finalmente já se pode ver o pôr do sol até mais tarde…
Esse curto momento (para mim!) do ano, desponta uma série de emoções, sentimentos e afectos pelo ambiente mais quente, de mais sol, mais propício à inércia e ao lazer… ao reencontro com os antigos colegas e amigos de sempre, tanto para recordar momentos passados como para pôr a conversa em dia…
E é precisamente nessa altura em que estamos mais condicionados em termos de tempo pelo trabalho.
Passamos às vezes dias inteiros fechados num edifício com um sol maravilhoso lá fora…sentados em frente a um computador, a fazer trabalhos freneticamente, uns a seguir aos outros.
Com tanta pressão que nem dá para aproveitar o prazer que cada um deles proporciona….
Pessoalmente, eu adoro o que faço, não trocaria por nenhuma outra coisa, mas vejo que o tempo está a passar velozmente.
E à pressa! Sem que quase dê por ele! Pressa de fazer os trabalhos, pressa para estudar para os exames, presa para chegar o fim-de-semana, pressa para entrar de férias… com que objectivo??
Viver à pressa???
Muitas vezes nem sequer conseguimos desfrutar calmamente das coisas que mais gostamos…
Actualmente exige-se das pessoas como se elas apenas fossem máquinas de produzir trabalho! Mas não conta a satisfação com que o fizémos, só interessa as coisas estarem prontas no prazo de entrega!
Seria talvez muito mais produtivo fazer as coisas com calma, mais organização para podermos desfrutar daquilo que realmente gostamos... digo eu...
Há necessidade de andarmos completamente esgotados e deixar para segundo plano coisas bem mais importantes apenas para cumprir prazos?
Quantas conversas não ficaram para trás… quantos passeios não podiam ter sido dados… quantas vezes mais poderíamos ter saído… tudo em prol de trabalho em quantidade desumana para prazos tão irracionais!
Que recordações iremos no futuro ter nós disto?
Iremos lembrar com carinho e afecto este tempo, o melhor da nossa vida, passado a correr porque não há tempo para fazer as coisas prazerosamente ?
Será que às vezes é preciso ser um pouco mais “balda”?
Talvez assim se aproveite mais as coisas boas da vida!
Se calhar fazer tudo certinho, a tempo e a horas, não é a melhor opção para se ser feliz!
Deixamos agora para trás coisas que gostamos de fazer em prol do tempo, de coisas a cumprir…
Isto cria uma grande nostalgia da passagem do tempo e, de não aproveitarmos como já o fizemos quando éramos mais novos…
Restam as recordações…
Agora já não há tempo para certas coisas como antes… agora há sempre qualquer coisa mais importante para fazer… e para a qual “já estamos atrasados”!
A evolução a que assistimos actualmente, corresponde a níveis de felicidade?
Temos de cumprir horários, temos de fazer trabalhos, temos de ser competitivos, temos de produzir até à exaustão!
Só não temos é de ser felizes!
Instaurou-se uma filosofia mundial em que primeiro estão os objectivos laborais a atingir e, só depois a felicidade…

Será que um dia vai valer a pena ?

17 outubro 2007

Espiral...

E ali estava ela. Mais uma vez. Como sempre.
Imóvel. Inerte, na sua mobilidade apenas de pensamentos.
No mesmo restaurante, na mesma mesa, na mesma cadeira, na mesma posição.
Como sempre. Desde a primeira vez que eu a vi.
Porque de todas as vezes que ali vou, ela ali está. Sempre. Interrogo-me se passará ali os dias.
Porque nós, mais novos, na agitação do dia-a-dia, muitas vezes nem pensamos no que observamos com a pressa de nos despacharmos. E certamente para muitas outras pessoas que ali passam, ela é-lhes indiferente.
É simplesmente mais uma pessoa que veio ali almoçar.
Será que nunca repararam que ela ali vai todos os dias? Será que já se interrogaram sobre o que faz ela ali? Ou porque está ali sempre?
Eu quando ali chego, ela já lá está. Quando me vou embora, ela ainda fica.
Porque ela, apesar de desconhecida, de nunca termos trocado palavra, e de nem saber quem ela é... ela mexe comigo!
Ela faz-me pensar... o que vai naquela cabeça? Naquela alma?
Por detrás daquelas vestes e dos movimentos muitíssimo débeis, devido à idade que não foi generosa para com ela...
O q se esconderá? Que mistérios oculta?

Costumo ir ali almoçar com a minha mãe. É um sítio que gosto bastante. Tanto pelo ambiente, pois quem ali vai tem necessariamente afinidades comigo no campo alimentício e, por isso sinto-me "em casa"... Como porque todas aquelas ruas que envolvem a Praça Iha do Faial, incutem no meu pensamento, enquanto por ali deambulo, retratos místicos de retorno ao passado histórico... e me fazem um turbilhão de pensamentos girar em torno dos mais variados aspectos relacionados com conquistas, descobrimentos, história, navegações... Rua da Ilha do Pico, Rua dos Açores, Avenida Praia da Vitória, Rua Cidade da Horta...

Mas é ali, na Praça lha do Faial, que eu desde que ali fui pela primeira vez, senti que algo para ali me puxava... O jardim não é nada de especial.
Depende.
Para mim é! Há algo nele que mexe cá dentro comigo... E depois de ter entrado nesse restaurante, vi mesmo que aquele espaço tem realmente a ver comigo. Provavelmente não consigo explicar bem porquê, talvez porque as energias que por ali correm não me são indiferentes!
Tal como ela. Ela também não me é indiferente. Nunca foi.
Será que ela sabe que eu me lembro dela? Será que ela se lembra de mim? Provavelmente não... deve ter igualmente pensado que eu era... mais uma pessoa que foi ali almoçar, cega como todas as outras, cujo importante era "despachar-se" pa não chegar atrasada. Porque hoje em dia, as pessoas estão sempre atrasadas para qualquer coisa.

Mas não. E cada vez que penso nela, penso em tantas outras pessoas idosas... bastante mais velhas que nós, que por aí andam pelas ruas... sozinhas, sem companhia, entregues aos olhares marginais dos que passam apressadamente, porque já estão atrasados e, os acotovelam por estarem a atrasar o passo. A cega e desenfreada correria da vida.
Também há os que ficam sozinhos o dia todo, em casa, a ver televisão, entregues à sorte dos abomináveis anúncios e asquerosos programas que lhes servem de pasto para passar o tempo.

Porque nesta sociedade ocidental, os velhos são um "estorvo", um poço de encargos que nos atrapalha o tempo e a rotina da vida diária.
Simplesmente porque não sabemos valorizar as pessoas mais idosas pelo que elas são. Apenas as julgamos pelo que elas aparentam ser.
E na verdade, o "velho" é feio. Tem rugas e cabelos brancos. Anda curvado, "que horror!". É "cota".
O jovem é ao contrário. É bonito, esbelto, pele lisa, com o corpo a responder à flor da idade e a roupa assenta-lhe bem.

E por isto não se valorizam muitas das "bibliotecas" que por aí vagueiam sozinhas pelas ruas... Porque numa sociedade onde só o físico e a beleza exterior interessam, em detrimento dos valores morais, do conhecimento e da sabedoria... a mentalidade é assim, tacanha.
O que importa é estar bem vestido, com roupas da moda, e a par das fofoquices da TV e das revistas cor-de-rosa. Porque a sociedade, de tão fútil que se tornou, esqueceu os poços de conhecimento e sabedoria que são os mais velhos.
Simplesmente desprezam-nos!
Sem perceberem que um dia, se lá chegarem, também vão ser assim!
Não querem ser velhos, mas ao mesmo tempo também náo querem morrer novos!
Mas também não valorizam, nem tentam conhecer e apreciar um pouco daquilo que um dia vão ser...

Nas sociedades Orientais, o "velho" é idolatrado. É considerado experiente, sábio, detentor do conhecimento e da sabedoria que conduz e rege a vida dos mais novos. É a ele a quem se recorre sempre que é preciso, porque ele, mais do que ninguém, tem experiência e já viveu muito. Sabe o que diz.
Nas sociedades Ocidentais, ditas "desenvolvidas", o velho não tem qualquer significado. Cuidamos deles porque "tem de ser", mas na verdade estamos a matá-los aos poucos. E isso dói-lhes. Custa-lhes. Sentem-se desprezados. E isso vê-se nos seus olhos.
Nunca se pensa que o "velho" é uma biblioteca de conhecimento, da qual podemos tirar partido e aprender com ele. Achamos sempre que não, que nós é que sabemos tudo e não precisamos de ajuda dos mais velhos. Somos "independentes"! (e estúpidos!)

Desde há pouco tempo, houve algumas situações que inconscientemente me fizeram estremecer e pensar em tudo isto. Parece que senti tudo isto que disse, antes de pensar realmente no seu significado. Provavelmente foi um alerta, de que algumas pessoas mais idosas que me rodeiam, não me são nada indiferentes.

Da última vez que o meu avô fez anos, o seu olhar, mais do que nunca, comoveu-me. Deu-me vontade de chorar. Senti que por detrás do seu olhar, muitas coisas se escondiam no seu baú de recordações e memórias... longe, muito longe...
As suas mãos rugosas do peso da enxada, a sua face gasta pelos dias que trabalho no campo de sol a sol... Já não ouve tão bem de um ouvido, já está velhinho... mais lúcido que nunca!
E recordei as tardes que passei com ele na sua adega, a contar-me histórias de como faziam a apanha da uva e a tratavam no lagar na época das vindimas "no seu tempo"... e porque é que, se dali ouvimos o comboio apitar, é porque no dia seguinte vai estar bom tempo... e porque é que se o céu está daquela cor, o dia amanhã vai estar bom, mais seguro que os boletins meteorológicos!
E muitas mais coisas...

Outra ocasião, foi este Verão na Festa da Geografia em Mirandela. Sempre que eu via um professor e me lembrava do que ele disse, das coisas que ele contava, e da história que perpassava por detrás dos seus olhos, me vinham as lágrimas aos meus...
Já não é propriamente novo, tem cabelos brancos, gestos mais cautelosos e fala devagar.
Mas mexia comigo. O seu conhecimento, a sua sabedoria, a sua experiência de vida que lhe grita dos olhos!
Ele limitava-se a perguntar "Então tudo bem? Está a gostar da festa?"
Eu assentia, com um sorriso quase a brotar lágrimas. Até me apetecia falar mais com ele e desenvolver conversa, mas não conseguia... sentia-me reduzida à minha insignificância, comparando com a imponente biblioteca que trespassava nos seus olhos...

...

E tu, trocavas a tua beleza física pela experiência?

16 outubro 2007

Um dia normal...

Há dias em que nos irritamos um pouco mais... e apesar de todas as juras e promessas de que neste novo ano iríamos fazer com que tudo corresse bem, há sempre atritos pelo meio que nos fazem pensar que há quem nos queira, inconscientemente, estragar os planos... pois o que prometemos, foi a nós mesmos, sem vincular outrém...
No entanto, e apesar de saber que há coisas belas na vida que vão para além do trabalho, e eu sou das pessoas q reconhece isso muito veementemente... o trabalho (ou o estudo), se o amarmos, faz igualmente parte dessas coisas boas da vida... e q poderemos ter prazer ao fazê-las se nos entregarmos de alma e coração...
Porque estou num curso fascinante! Porque estou num curso lindo! Maravilhoso! Geografia!
Porque estou num curso para o qual decidi terminantemente ir, quando apenas tinha 9 anos de idade...
Quando numa aula de História e Geografia de Portugal no 5º ano, eu abri o livro e vi, ocupando a página inteira em início de capítulo, um simples mapa com os rios de Portugal... e disse para mim mesma: "É mesmo isto que eu gosto!"
Como me lembro tão bem desse momento... é como se ainda o estivesse a viver...
Lá atrás, na última carteira da sala, baloiçando-me na cadeira, enquanto a algazarra da turma não cessava... eu tinha feito a minha escolha!
Porque os capítulos da História de Portugal arrastavam-se longamente... e os de Geografia evaporavam-se como o fumo ao vento!
Porque há coisas que não se explicam... e mesmo com o passar do tp, 8 anos depois, fui fiel à minha decisão... e hoje estou no 4º ano do curso de Geografia.
E não me via noutro senão neste!
É como se tivesse alcançado um grau de felicidade extrema no campo do estudo/trabalho, que se traduz nas restantes áreas da vida... porque nós somos um td, e não partes desconjuntadas, em q uma está bem independentemente da outra... há que haver um equilíbrio... uma sintonia harmoniosa...
Porque eu gosto de observar a natureza e as cidades, olhar atentamente as coisas que me rodeiam, as pessoas, as paisagens, o céu, o sol, o mar e reflectir sobre tudo isso e muito mais...
Porque o curso de geografia para além de me ter permitido conhecer pessoas com gostos afins aos meus... também me "levou" a conhecer muitos sítios, que provavelmente nunca teria "visitado".
Desde o conhecimento aprofundado dos sítios que já me eram familiares, até outros em q nunca tinha estado.
De entre mais de 20 trabalhos que já fiz até agora e, todos maravilhosamente geográficos, poderia destacar, embora seja uma tarefa difícil e injusta, os q mais gostei e mais me fizeram sentir que Geografia é o meu curso...

- O estudo da Rua da Junqueira, antes nunca tinha reparado bem na história e maravilhosas descrições de que esta rua é alvo e, do contexto que a envolve aos mais variados níveis...
- A ida à Serra da Arrábida, que me permitiu ver paisagens lindas, repensar na beleza do nosso país e na sua génese mais q milenar...
- O estudo das Docas, que me fascinou não só pelo local, como pelo próprio assunto em si... provavelmente seria eleita a minha predilecta!
- A proposta de uma Plataforma para o Cais do Sodré, que à partida me pareceu algo bizarro, mas que acabou por se revelar uma forma de expandir a nossa imaginação e dar largas à criatividade, num espaço da cidade q infelizmente acabou por se tornar de passagem.
- Um estudo sobre o Aeroporto de Lisboa, que "fez voar" os meus horizontes...
- A análise do ambiente físico urbano do bairro dos Olivais Sul em Lisboa, que co deslumbramento do espaço, as idas lá transformaram-se mais em agradáveis passeios do que propriamente em trabalho.
- A proposta de um novo equipamento para as freguesias das Mercês e Santa Catarina, o que me permitiu deambular por uma parte da cidade, algo recatada, mas que esconde encantos a cada esquina...

Porque os trabalhos não dão só trabalho... também dão prazer! Se gostarmos do que fazemos, esse é o 1º passo para que eles não se tornem aborrecidos...
Porque as alegrias que a geografia me tem vindo a proporcionar, repercutem-se igualmente no meu dia-a-dia... tornando-o mais agradável, mais completo, mais harmonioso, mais perceptível ao meu entendimento, tornando-se por isso algo a que se recorre e, não do qual se foge...
Porque o trabalho, se o amarmos, compreendermos e nos dedicarmos a ele... não teremos de trabalhar um único dia da nossa vida... e ele é-nos "fiel" na sua forma de ser e no modo como a ele sempre podemos recorrer quando estams menos bem noutros campos da vida...

Por isso, mesmo que haja alguém que tente estragar o dia a alguém cheio de boas intenções, o trabalho nem sempre é um mau refúgio... aliás, se o amamos, às vezes é a melhor coisa na qual nos podemos esconder...

14 outubro 2007

Deambulações mentais no terraço...

Os dias passam... e com eles fica o que fizémos... ou deixámos de fazer... por inúmeras razões... ou simplesmente porque o dia passou depressa demais e não nos deu tempo de aproveitar a fazer as coisas que mais gostamos...
Hoje tive um dia assim... aliás, os últimos dias têm sido todos assim...
Têm estado uns dias lindos... um sol maravilhoso, céu limpo e sem nuvens, uma brisa doce e suave, e um calorzinho morno que tão bem aconxega este Outono primaveril...
Nestes dias, apetece fazer tudo... e o tempo não chega...
O ambiente é propício a todas as coisas agradáveis e que nos dão prazer: ler, escrever, passear, conversar, pensar, reflectir... e muitas mais...
Mas como os dias não esticam, parece sempre que houve alguma coisa que faltou fazer... e que afinal não se aproveitou tão bem o tempo como o poderíamos ter feito...
Porque estes dias, tão saborosos, tão preciosos, tão deliciosamente curtos se escapam fugazmente como areia entre os dedos...
Apetece acordar cedo e sair à rua cheirar o frio da manhã de Outono. Sentir o fresco da manhã a levitar à nossa volta, e o cheiro a café com leite e pão quente, que envolve a multidão q se acotovela para não chegar tarde ao serviço.
Apetece almoçar fora e observar as pessoas que deambulam num frenesim pela rua, agradecidas por não chover, no seu rebuliço de almoçar qualquer coisa rápido para ainda ter tempo de tratar de assuntos no banco ou, comprar a prenda para a irmã que faz anos hoje...
Apetece passar a tarde nas ruas, cheias de gente a fazer as últimas compras do dia e, sentir o calor do entardecer...
Acabar a tarde a contemplar o pôr do sol no horizonte... e sair à noite para ver as estrelas, ouvir o embater das ondas na praia, e as músicas que animam quem também saiu para aproveitar a maravilhosa noite...
E apesar de 5h da manhã já ser tarde para se estar acordado, para alguém que acordou tão cedo e ainda por cima foi sair com os amigos... há coisas tão maravilhosas como sonhar e que nos fazem apetecer ficar acordado mais um bocadinho... e mais outro, a observar as constelações que nos vigiam lá do alto, na imensidão do infinito...

Hoje, estava eu no meu terraço, a absorver cada bocadinho que faltava para acabar o dia e deparei-me com um dos mais belos fins de tarde outonais que já houvera desde que eu os posso ver...
Um horizonte laranja escondia-se envergonhado por detrás dos montes... e assim se misturava uma típica paisagem dos fins de tarde de Verão com uma doce temperatura de Inverno, ambas envoltas em odores Outonais, onde o cheiro a castanhas já se fazia sentir ao longe...
Lá em baixo, uma ovelha fixava-me longamente, sem se deter no seu olhar... enquanto as outras ignoravam a nossa presença...
Acenei-lhe com a mão.
Ela assentiu e foi embora...

13 outubro 2007

Desabafo de pensamentos...

Há dias em que nos apetece falar... outros somente ouvir e, outros apenas escrever...
Simplesmente há dias em que nos apetece trocar ideias com alguém, nem que seja connosco mesmos, com uma folha de papel ou até mesmo com a maravilhosa paisagem que se depara à nossa frente, no regresso a casa ao fim de mais uma jornada diária...
Aquela necessidade de comunicação, inacta ao ser humano, de falar, expressar pensamentos, sentimentos, emoções, especialmente quando eles mais fervilham no âmago do nosso ser...
E talvez porque às vezes gstaria de partilhar os meus pensamentos com mais pessoas do que realmente faço... nem tanto para elas me ouvirem, mas sim para expressarem a sua opinião acerca do que eu penso... Sim! porque era tão bom se nos entendessem sem que precisássemos de falar...
E é por tudo isto e muito mais (que fica para além do que consigo expressar por palavras), que finalmente me decidi a criar um blog...
Se escrever um livro é à partida algo ambicioso e, de certa forma arriscado, talvez um blog seja um bom princípio para quem almeja desabafar pensamentos que se atravessam na mente como meridianos e paralelos...